sexta-feira, 2 de setembro de 2011

1, 2, 3...


Havia prometido a mim mesmo falar mais de poesia e de Literatura Infantil e Juvenil durante este ano. Não tenho cumprido a promessa a contento, principalmente em se tratando da produção editorial voltada para crianças e adolescentes. Portanto, escolhi três títulos dos quais gosto muito - e mais à frente, em outras oportunidades, adotarei o mesmo procedimento - para compor pequenos "flashes" sobre eles.

. . . . . .


1)  Apresentei o livro E um rinoceronte dobrado, de Hermes Bernardi Jr (Editora Projeto, 2008) para três turmas de estudantes (8 anos de idade, em média) lá da escola em que trabalho, no 1º semestre. Após as leituras, felizmente, quase todas as crianças destacaram justamente o que eu intencionava: o objeto que abre o texto ("O que eu colocaria numa caixa de sapatos?") é uma metáfora para uma espécie de "catalisador" de recordações (os estudantes, obviamente, não disseram isso com esses termos...). Foi divertido vê-los enumerarem, na atividade complementar, as coisas que eles próprios colocariam numa caixa assim. Muitos incorporaram o humor meio nonsense do poema de Bernardi Jr. E não poderia deixar de mencionar o ótimo trabalho gráfico do designer Guto Lins, que sempre me agrada.

. . . . . .

2)  No prefácio de Lendas Negras (Editora FTD, 2001 - ilustrações de Salmo Dansa), Júlio Emílio Braz chama a atenção para um fato:

"Sem procurar muito, até hoje é bem mais fácil encontrar livros com lendas europeias, vikings, celtas, russas, japonesas. Nada contra. O homem é a somatória de suas experiências e de tudo o que lê. Quanto maior e mais diversificada sua leitura, melhor. De qualquer forma, a máxima não se aplica às lendas, histórias e culturas africanas".

Por isso, o escritor decidiu, através de 8 narrativas, dar sua contribuição na tentativa de equilibrar um pouco essa balança. Já adaptei três dessas lendas, divulgando-as por meio da contação de histórias: Tsui'goab ou A batalha contra a Morte (de origem kói, povo que habita parte do deserto do Kalahari); minha preferida, Kigbo e os espíritos do mato (ioruba "de nascença"); e A viúva velha (da tradição quimbunda). Apresentei esta última a estudantes matriculados na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e ela "funcionou" muito bem.

. . . . . .


3) Na opinião (abalizada) de Ana Maria Machado, "Graciela Montes é a maior autora argentina de literatura infanto-juvenil". Esse juízo tão favorável deve ter sido decisivo para que a escritora brasileira realizasse a tradução de Outroso: um outro mundo (Editora Salamandra, 2006 - 3ª edição).

Logo na segunda página, o narrador observa que : "ler um livro não tem que ser tão fácil assim..." Prenúncio de que Outroso escapará dos lugares-comuns típicos desse gênero de Literatura? Não e sim. Não, porque se vale das quase onipresentes turmas (até compreensível, trata-se de um livro direcionado a adolescentes). E sim, pelo modo como discute, por exemplo, a "oposição" entre os muito jovens e os "Velhos" (todos os adultos), assim como as maneiras de escapar dos grupos que implantam e disseminam a violência organizada dentro da sociedade (representados pela temível "Patota"). E há também uma indisfarçável referência ao período da ditadura militar argentina.

BG de Hoje

Um furacão renovador. Assim eu definiria o aparecimento de CHICO SCIENCE E NAÇÃO ZUMBI no cenário musical do Brasil. No vídeo, a versão de Todos estão surdos (de Roberto Carlos). Impressiona-me a qualidade do guitarrista Lúcio Maia. OBS: É a apresentação do grupo no Hollywwod Rock de 1996.