sexta-feira, 20 de maio de 2016

Falou e disse...


"Até algum tempo atrás, o homem que não devia nada a ninguém era um virtuoso exemplo de honestidade e vida laboriosa. Hoje, é um extraterrestre. Quem não deve, não é. Devo, logo existo. Quem não é digno de crédito, não merece nome ou rosto: o cartão de crédito prova o direito à existência. Dívidas: isto é o que tem quem nada tem; e uma patinha presa nessa ratoeira há de ter qualquer pessoa ou país que pertença a este mundo". *


* GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso.
7 ed. Porto Alegre: L & PM, 1999. p. 255 [Tradução de Sérgio Faraco]

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Amada, de Toni Morrison: quando o "fato histórico se torna pessoas com nomes"



 
No romance Amada* somos imediatamente lançados dentro do mundo da casa identificada pelo número 124, advertidos de que o lugar “era rancoroso. Cheio de um veneno de bebê”. É a principal ambiência onde transcorre a narrativa. Uma de suas habitantes é Sethe. A certa altura, após a personagem rememorar, com o auxílio de outra, mais um doloroso episódio ocorrido em sua vida, lemos a seguinte passagem:

Balançou a cabeça de um lado para outro, conformada com seu cérebro rebelde. Por que não havia nada que seu cérebro recusasse? Nenhuma miséria, nenhuma tristeza, nenhuma imagem odiosa detestável demais de se aceitar? Igual uma criança gananciosa, seu cérebro agarrava tudo. Uma vez só não poderia dizer: não, obrigada? Detestei e não quero mais, não?”

Páginas antes, a narradora já observara que, “para Sethe, o futuro era uma questão de manter o passado à distância”. Pensar no futuro era uma tarefa dificílima, quase impossível para ela: “cheia de passado e com fome demais, não havia espaço para imaginar, quanto menos planejar o dia seguinte”. O leitor, angustiado, se pergunta então: como é possível prosseguir com tanto sofrimento acumulado dentro de si (e à sua volta)?

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Noutra oportunidade, escrevi aqui que não se sai das duzentas e poucas páginas de O olho mais azul [o primeiro livro de Toni Morrison, discutido naquela ocasião] com a alma aliviada. O mesmo se pode dizer após as mais de trezentas e cinquenta que compõem Amada – com um acréscimo ainda maior de dor (se isso é possível). A escritora não saberia produzir sua ficção de outra forma. Em longa entrevista concedida em 1993 a Elissa Shappell, para a Paris Review (disponível na integra aqui), Morrison diz: “It's not possible for me to be unaware of the incredible violence, the willful ignorance, the hunger for other people's pain. I'm always conscious of that though I am less aware of it under certain circumstances – good friends at dinner, other books”.**

Os horrores da escravidão na América – um dos temas de Amada, ainda que a história se passe em 1873, ou seja, 10 anos após a abolição nos EUA – estão cheios de “incrível violência, ignorância deliberada e ânsia pela dor de outras pessoas”. A autora, na preparação do romance, pesquisou relatos e outros documentos históricos.

So while I looked at the documents” – diz Toni Morrison na entrevista citada“and felt familiar with slavery and overwhelmed by it, I wanted it to be truly felt. I wanted to translate the historical into the personal. I spent a long time trying to figure out what it was about slavery that made it so repugnant, so personal, so indifferent, so intimate, and yet so public”.***

Uma instituição tão cruel (e de tão longa duração) como foi a escravidão colonial e pós-colonial não pode ser facilmente assimilada, sequer superada sem mais nem menos. Os envolvidos nela (tanto as vítimas quanto os algozes) fizeram daquilo algo complexo - ao mesmo tempo “tão repugnante, tão pessoal, tão indiferente, tão íntimo e ainda assim, tão público”. Explicá-la, tentar entendê-la, não é tarefa simples. Toni Morrison desejava, por meio de seu livro, que o horror da escravidão fosse “verdadeiramente sentido” pelo leitor. Ela quis “traduzir o histórico para o pessoal”.

Na mesma passagem, aludida no começo da postagem, em que Sethe relembra um dos momentos dolorosos de sua vida, outro personagem, Paul D, menciona um instrumento de castigo/tortura com o qual fora punido uma vez – o freio. Sobre isso, a autora diz:

I make other references to the desire of spit, to sucking iron, and so on; but it seemed to me that describing what it looked like would distract the reader from what I wanted him or her to experience, wich was what it felt like. The kind of information you can find between the lines of history. It's sort of falls off the page, or it's a glance and a reference. It's right there in the intersection where an institution becomes personal, where the historical becomes people with names”. ****

"O histórico se torna pessoas com nomes": eis aí, na minha opinião, o grande valor de Amada. A monstruosidade escravagista é apresentada ao leitor sem o distanciamento analítico presente nos estudos históricos. No livro, como não podia deixar de ser, o que predomina são os expedientes próprios da Literatura: a interioridade psicológica dos personagens, a seleção e escolha calculada das cenas a serem descritas, as alterações no foco narrativo, o cuidado no arranjo das palavras, garantindo ao livro a perspectiva humanizadora característica das grandes obras de ficção.

Há ainda outro ponto.

A presença fantasmagórica na narrativa levou algumas pessoas a arrolar esse trabalho de Toni Morrison na categoria dos romances realistas-fantásticos. Creio que isso não é muito acertado. No prefácio - em que a autora, além de explicar as motivações e reflexões anteriores à sua composição, "entrega", sem qualquer cerimônia, que o infanticídio é o ápice dramático do livro - Morrison conta que

"Na tentativa de tornar a experiência do escravo íntima, eu esperava que a sensação de as coisas estarem ao mesmo tempo controladas e fora de controle fosse convincente de início ao fim; que a ordem e quietude da vida cotidiana fosse violentamente dilacerada pelo caos dos mortos carentes; que o esforço hercúleo de esquecer fosse ameaçado pela lembrança desesperada para continuar viva. Para mostrar a escravatura como uma experiência pessoal, a língua não podia atrapalhar".

O fantasma presente na obra é, sem dúvida, elemento estruturante desta; parece-me, contudo, ter sido incluído mais como o "fiador" (no caso, a fiadora) que permitirá a escritora não ser atrapalhada por determinadas convenções da escrita de romances realistas. Sua tentativa foi arriscadísima, devo dizer; entretanto, o resultado comprovou seu acerto (o prêmio Pulitzer obtido com a publicação não me deixa mentir).

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Antes de terminar, acho oportuno discutir brevemente uma "acusação" frequentemente dirigida a Toni Morrison: a de que ela é uma escritora limitada. Ano passado, numa entrevista ao jornal britânico The Guardian (disponível aqui), ela deu uma resposta excelente a esse respeito:

"I'm writing for black people in the same way that Tolstoy was not writing for me, a 14-year-old coloured girl from Lorain, Ohio. I don't have to apologise or consider myself limited because I don't [write about white people] - which is not absolutely true, there are lots of white people in my books. The point is not having the white critic sit on your shoulder and approve it" *****

Não, Toni Morrison, de fato, você não tem que se desculpar por seus livros. Nós, leitores, é que devemos agradecer por eles, apesar da dor que nos provocam.
__________
* MORRISON, Toni. Amada. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 [Tradução de José Rubens Siqueira] 

** [tradução aproximada] “Não me é possível ficar indiferente à incrível violência, à ignorância deliberada, à ânsia pela dor dos outros. Estou sempre consciente disso, embora esteja menos sob certas circunstâncias – bons amigos para o jantar, outros livros”.

*** [tradução aproximada] “Então, enquanto eu olhava os documentos e me sentia familiarizada com a escravidão e sobrecarregada por ela, eu queria que ela fosse verdadeiramente sentida. Eu queria traduzir o histórico para o pessoal. Eu passei um longo tempo tentando descobrir o que havia na escravidão que a fazia tão repugnante, tão pessoal, tão indiferente, tão íntima e, ainda assim, tão pública”.


**** [tradução aproximada] “Eu faço outras referências ao desejo de cuspir, ao chupar ferro, e por aí vai: mas pareceu-me que descrever como aquilo se parecia distrairia o leitor do que eu queria que ele ou ela experimentasse, que era como senti-lo. O tipo de informação que você pode encontrar nas entrelinhas da história. Meio que cai fora da página, ou é [apenas] uma olhadela e uma nota [de rodapé].  Está bem ali na interseção em que a instituição torna-se pessoal, em que o[ fato] histórico se torna pessoas com nomes”.

***** [tradução aproximada] "Estou escrevendo para pessoas negras do mesmo modo que Tolstói não estava escrevendo para mim, uma garota de cor de 14 anos de Lorain, Ohio. Eu não tenho que me desculpar ou me considerar limitada porque não [escrevo sobre pessoas brancas] - o que não é absolutamente verdade, há muitas pessoas brancas em meus livros. O negócio é não ter um crítico branco sentado no seu ombro e aprovar isso".

BG de Hoje

Um grande clássico do blues: Born under a bad sign, interpretado por ALBERT KING. Na apresentação abaixo, King está em companhia do inigualável STEVIE RAY VAUGHAN, um dos meus guitarristas preferidos. P. S. Essa canção já foi cantada por ninguém menos que Homer Simpson (na verdade, claro, o ator que lhe dá voz, Dan Castellaneta) no disco The Simpsons sing the blues, com direito a B. B. King na gravação (já tive esse álbum em vinil e CD; infelizmente, não tenho a menor ideia de onde estejam hoje).


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Afinal, o que é transcendental?: uma leitura de Kant





Dia desses estava cantarolando Trilhos urbanos, de Caetano Veloso. Num dos últimos versos aparece o título do disco em que a canção está contida, lançado em 1979, um dos melhores na carreira do artista baiano:

"Cinema transcendental 
trilhos urbanos Gal
cantando o balancê
como eu sei lembrar de você"


Por que Cinema transcendental? A referência ao cinema não nos parece fora de lugar; o compositor ligou-se ao universo fílmico noutros trabalhos. Já se disse muitas vezes, aliás, que a própria poética de Caetano Veloso recorre frequentemente à técnica da montagem cinematográfica (a canção da qual estamos falando é um bom exemplo). E o que se pode dizer a respeito do transcendental?

Bem, não posso afirmar peremptoriamente que o artista empregou o adjetivo no rigoroso sentido circunscrito por Immanuel Kant há mais de dois séculos. Desconfio, contudo, que o hábil letrista fez uma breve alusão, intencional, nessa direção. É uma bizantinice, admito, mas acho que vale a pena escrever sobre o assunto (quando menos, para evitar ambiguidades e equívocos terminológicos no trato com o pensamento do filósofo alemão).

Na Crítica da razão pura*, Kant escreveu:

"Denomino transcendental todo conhecimento que em geral se ocupa não tanto com objetos, mas com nosso modo de conhecimento de objetos na medida em que este deve ser possível a priori. Um sistema de tais conceitos denominar-se-ia filosofia transcendental".

Farei agora um esboço (apenas um esboço, enfatizo) bem simplificado de alguns aspectos do kantismo para que possamos compreender melhor essa definição.

Antes, porém, é justo perguntar: pra que se deter em Kant? Sua epistemologia já não foi jogada pra escanteio, graças, por um lado, à Teoria da Relatividade e, por outro, aos avanços da Psicofisiologia e da Neurociência?

Para responder a isso, recorro ao pesquisador brasileiro Daniel Omar Perez que, numa entrevista** anos atrás, disse magistralmente:

"O exercício da Filosofia é um exercício sistemático, mas não porque oferece sistemas como edifícios, mas porque se pergunta sistematicamente, porque leva o pensamento até seu próprio limite. Alguns saberes pensam os fenômenos, as coisas, os fatos. A Filosofia deve poder pensar o próprio pensamento que pensa esses fenômenos, coisas ou fatos. Kant é um filósofo porque nos obriga a nos interrogarmos radicalmente até onde o pensamento pode ser pensado. Contra uma determinada tradição filosófica, Kant mostra que o pensamento tem os limites da própria finitude a partir da qual se produz. Por isso, podemos dizer que todos os problemas que podemos formular são problemas que demandam resolução. Porém, a resolução desses problemas, nos limites daquilo que pode ser pensado, depende das condições de possibilidade de sua formulação. Essa é a pergunta sistemática que Kant encontra: a pergunta pelas condições de possibilidade".
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O conhecimento transcendental, segundo Immanuel Kant, é um conhecimento apriorístico: "portanto" - escreve ele - "conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem de modo independente desta ou daquela experiência, mas absolutamente independente de toda a experiência". Esses conhecimentos fazem parte do kit básico racional dos indivíduos e - importante - "nada de empírico está mesclado" a eles. O que os torna tão especiais? "Necessidade e universalidade rigorosa são, portanto, seguras características de um conhecimento a priori e também pertencem inseparavelmente uma a outra", diz o filósofo.

O que Kant buscava, por meio da filosofia transcendental, era "a ideia de uma ciência para a qual a Crítica da razão pura deverá projetar o plano completo, arquitetonicamente, isto é, a partir de princípios, com plena garantia da completude e segurança de todas as partes que perfazem este edifício".

A imagem arquitetônica reaparece em outros pontos da obra de Kant. Movido pelo mesmo anseio encontrado lá em Platão e Aristóteles, mas que também acometeu Descartes, Locke e Hume (para ficar só nestes) - qual seja, estabelecer as bases do conhecimento racional -, o filósofo alemão tencionou fixar em seu principal livro os fundamentos do edifício chamado Razão, algo imprescindível antes de se fazer qualquer outra tentativa de conhecer os objetos espalhados pelo mundo. Daí dizer-se razão pura, ou seja, não "contaminada" com as contingências da experiência. É um plano ambicioso? Of course it is! Apesar de simular modéstia, Kant sabia bem qual o alcance da tarefa que ele mesmo colocou diante de si:

"Não podemos denominá-la propriamente doutrina, mas somente crítica transcendental, pois tem como propósito não a ampliação dos próprios conhecimentos, mas apenas sua retificação, devendo fornecer a pedra de toque que decide sobre o valor ou desvalor de todos os conhecimentos a priori".

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João de Fernandes Teixeira, um dos melhores colunistas da revista Filosofia Ciência e Vida, observou*** que

"Muito antes de a Psicologia existir como disciplina, Kant alertava para os perigos de se fazer uma ciência da mente. Já no século XVIII, ele indagava: como a mente poderia conhecer-se a si mesma e se seria possível conhecer sua natureza última, isto é, se a mente que podemos conhecer não seria diferente daquilo que ela de fato é. Para conhecermos a natureza da mente seria preciso ter um conhecimento transcendente; uma cadeira cósmica privilegiada da qual pudéssemos apreciar se a experiência subjetiva pode ser reduzida ao cérebro ou à Neurofisiologia, ou, inclusive, até que ponto elas se conectam. Nossa própria mente não nos dá esse ponto de vista privilegiado e, por isso, a resolução do problema mente-cérebro é cognitivamente inacessível".


Segundo Kant, nunca chegaremos à essência da realidade. Isso não é possível já que contamos apenas com os elementos a priori de nossa sensibilidade, o espaço e o tempo (“as formas da intuição sensível”, como diria o pensador alemão), combinados com as formas do entendimento (as “categorias da inteligência”) de que a razão humana dispõe. A coisa em si (o noumenon – ou númeno – kantiano) é inacessível a nós, em última instância. Os seres humanos só poderiam conhecer os objetos do mundo enquanto fenômenos, isto é, tais como são percebidos, melhor dizendo, como aparecem à nossa estrutura cognitiva em dadas condições. No excerto reproduzido logo acima, Teixeira reconhece que Kant, a despeito do estágio em que se encontrava a ciência de seu tempo, tinha consciência que o conhecimento possível aos humanos tem limites. A propósito, no trecho citado, o autor usa o adjetivo transcendente (e não transcendental, alguém reparou?). É porque o qualificativo ali foi usado nas acepções mais comuns da palavra (“algo que está/vai além da realidade ordinária”, o que leva algumas pessoas a associar o termo com o divino ou quase divino). O par transcendental - transcendente enseja certa confusão. É conveniente fazer algumas observações a respeito.

Kant usou os dois adjetivos na Crítica da razão pura. Porém, enquanto transcendental, como vimos, refere-se àquilo que antecede a experiência (uma condição de possibilidade para o conhecimento), o transcendente é aquilo que está além das experiências possíveis (opõe-se a imanente, que, segundo o filósofo, é o princípio “cuja aplicação se mantém completamente nos limites de uma experiência possível”). Mas deixarei isso de lado agora, pois, para o objetivo dessa postagem, interessa-nos mesmo é nos distanciarmos do uso popular desses termos. Frequentemente, transcendental (e sobretudo) transcendente são empregados no discurso teológico e têm, por isso, forte conotação religiosa (particularmente no Budismo, Hinduísmo e Espiritismo). Sempre é bom reforçar, entretanto, que Kant não os emprega desse modo em seu livro mais destacado, obviamente.

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Crítica da razão pura apresenta uma estética transcendental, seguida de uma analítica transcendental e é encerrada por uma dialética transcendental (as duas últimas formam a lógica transcendental). Todas são partes de uma propedêutica ao sistema da razão”, de acordo com as palavras do próprio Kant. Juntas comporiam um ferramental bem útil para o saber, para o exercício do pensar.

Voltemos a Caetano Veloso. A humanidade, ao longo do tempo, vem acrescentando novos recursos e dispositivos culturais que auxiliam as tarefas do pensamento. Inimaginável na época de Immanuel Kant, o Cinema poderia ser um desses instrumentos? Como disse antes, desconfio (apenas desconfio) que o compositor baiano usou o adjetivo transcendental intencionalmente, como a aventar a possibilidade da inclusão do Cinema numa nova e pós-moderna propedêutica ao sistema da razão”.

Ou não.

Talvez o poeta/letrista só estivesse procurando uma palavra satisfatória para rimar com Gal. Vai saber...

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* KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 1999 [Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger]

** A entrevista completa com Daniel Omar Perez pode ser encontrada no número 71 (junho de 2012) da revista Filosofia Ciência e Vida (Editora Escala Educacional)

*** TEIXEIRA, João de Fernandes. Kant, esse filósofo da mente. Filosofia Ciência e Vida, São Paulo, ano IV, n. 45, 2010, p. 52-53


BG de Hoje


Há muitas bandas de rock bem pretensiosas por aí. O MUSE é uma delas. Difícil de agradar na primeira vez em que se ouve, o grupo é odiado pela galera old school (consideram-no cheio de afetação). Mas já me acostumei. O som dos caras tem um jeitão meio Queen, meio Radiohead (fora que eles mantêm às vezes uma atitude auto-irônica bem bacana). A faixa United States of Eurasia (do disco The Resistence, 2009), com sua letra pacifista/humanitária, caiu no gosto dos fãs da banda, também por causa de seu arranjo orquestral. P. S. Pra falar a verdade, não gosto muito desses arranjos. Sempre me soam pomposos, um tanto inautênticos. Além do mais, fico com a impressão que os musicistas de orquestra odeiam ter que tocar com popstars (é como se fosse um rebaixamento da arte deles, sei lá).


terça-feira, 3 de maio de 2016

Falou e disse...

"A desgraça é variada. O infortúnio da terra é multiforme. Arqueando-se sobre o vasto horizonte como o arco-íris, suas cores são como as deste, variadas, distintas e, contudo, intimamente misturadas. Arqueando-se sobre o vasto horizonte como o arco-íris! Como de um exemplo de beleza, derivei eu uma imagem de desencanto? Da aliança de paz, uma semelhança de tristeza? É que, assim como na ética o mal é uma consequência do bem, da mesma forma, na realidade, da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que podiam ter existido".

POE, Edgar Alan. Berenice. In: __________. Contos de terror, de mistério e de morte. 7 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 13. [Tradução de Oscar Mendes]