quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Por que mentimos quando se fala em leitura literária?




Em meu antigo blog, certa vez publiquei um texto cujo título era Nunca li Marcel Proust . Naquela ocasião eu disse (não com essas palavras) que a obra do francês (e de outros escritores e escritoras) era uma espécie de fantasma a atormentar os que se declaravam apreciadores de Literatura (este blogueiro, por exemplo). Como é possível alguém que afirme gostar da arte literária - pior, dizer-se um estudioso - sem ter lido Proust, James Joyce ou Thomas Mann? Isso só para citar alguns das dezenas e dezenas de autores e autoras dos quais só conheço o renome (se bem que já comecei - e interrompi - duas vezes A montanha mágica, de Mann...).

Esses fantasmas rondam-me o tempo todo, fazendo-me olhar assombrado para a imensidão do que ignoro, num campo do conhecimento ao qual me dedico diligentemente. Dedicação com um poderoso componente de frustração, é necessário acrescentar, pois há um número gigantesco de páginas de boa Literatura ainda a serem lidas e nem em sonho conseguirei me apropriar sequer de uma quantidade ínfima. Essa é uma das razões por que quase não me interesso pela produção contemporânea, seja em prosa ou poesia (exceção aos livros voltados para o público infantil e juvenil). Tenho uma árdua "batalha" - perdida já de antemão, é verdade - a ser travada com o passado. Mas isso é assunto para outra postagem. Permita-me narrar um breve episódio ocorrido há uns 20 anos.

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Estávamos num bar próximo à escola municipal em que eu cursava o ensino médio noturno. Matávamos aula e conversávamos sobre temas variados, entre uma cerveja e outra. Surgiu o assunto "leitura" e um colega, de apelido Lobão, comentou que estava adorando O Alquimista, de Paulo Coelho. Aquilo nos espantou, não pelo título mencionado ou por seu autor, mas porque o Lobão não "dava pinta" de ser leitor de nada, nem mesmo do caderno de esportes dos jornais. Dois dias depois, ele me confessou que dissera aquilo para não passar por menos inteligente do que os outros (ele não lera O Alquimista) e ocorreu-lhe falar do livro de Coelho pois este era o primeiro lugar, há meses e meses, na conhecida lista dos "mais vendidos" da revista Veja.

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Por que contamos mentiras sobre o que lemos e, principalmente, sobre o que não lemos? Durante anos menti descaradamente a respeito de Charles Dickens. Nunca li, até hoje, nenhum de seus textos - tirando o Conto de Natal, amplamente difundido - mas, se me perguntassem, afirmava conhecer bastante. Por que fazia isso? O (a) leitor(a) certamente já encontrou , em sua vida, pessoas que também mentiam sobre o que liam : uma ex-professora com carinha simpática, um colega de trabalho com um pouco mais de grana e que suportamos porque é ele que paga as bebidas ao final do expediente, aquele parente chato que vive dizendo que "a culpa é do governo" e não passa de um caga-regras ridículo. Talvez você mesmo(a) já tenha contado uma ou outra mentirinha desse tipo, não? Pense bem...

Eu arriscaria duas tentativas de explicação para esse impulso de mentir sobre o que (não) lemos:

1) Por mais que se conteste a tradição literária (e há muitas contestações bem formuladas, ao lado de outras que só se sustentam na estridência com que são expostas), é difícil negar o tremendo valor simbólico que a Literatura carrega dentro de nossa cultura (mesmo que as práticas efetivas de leitura não venham traduzindo isso). E são bem poucos os que aceitam "valer menos" na comparação com seus semelhantes. Logo, acabamos mentindo sobre os livros (não) lidos.

2) Essa é relacionada com a anterior. Muitas vezes, para que nos sintamos bem, precisamos que o outro esteja numa posição, figurada ou não, inferior à nossa. E um dos modos de subjugar alguém é aparentar maior conhecimento especializado, maior erudição ou mesmo só uma capacidade retórica mais elaborada do que aquele que queremos rebaixar. Assim, também mentimos sobre os livros (não) lidos.

BG de Hoje

Quem me conheceu pessoalmente, nos últimos anos, duvida de imediato quando falo que era um bom dançarino, em "priscas eras". Antes de me entregar ao álcool e ao sedentarismo, não fazia feio numa pista de dança. Uma das minhas músicas preferidas era Here we go (let's rock & roll), do C/C MUSIC FACTORY.



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Literatura serve pra quê?


Eis aí uma pergunta - a do título desta postagem - frequentemente feita e refeita, tanto por pessoas direta ou indiretamente interessadas na cultura livresca, quanto por aquelas que a desprezam (e não seria surpreendente constatar que as últimas fazem o questionamento com ainda mais assiduidade do que as primeiras).

Para que serve a leitura, por exemplo, de Orgulho e Preconceito? Ou de Moby Dick? Por que ler Angústia ou A paixão segundo G. H.? Não há atividades mais úteis, sobretudo no mundo contemporâneo - veloz,  multifacetado, instável - nas quais devemos focar (valendo-me de um insuportável verbo da moda) nossa atenção e precioso tempo?

De algum modo (depois de tanto esforço, espero que ao menos isto tenha ficado claro para o(a) leitor(a) habitual deste blog), o Besta Quadrada, desde sua criação, não faz outra coisa senão ressaltar a importância da leitura, sobretudo literária. Assim, creio sinceramente que a Literatura está longe de ser um apêndice inútil da vida em sociedade. Mas para responder a pergunta lá do início, prefiro convocar Umberto Eco*.

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Já havia discutido esse artigo, do qual gosto muito, em meu antigo blog. Decidi voltar a ele.

Publicado há dez anos, A literatura contra o efêmero (disponível aqui) é o registro por escrito de um pronunciamento que havia sido feito, meio de improviso, pelo escritor e semiólogo italiano. E começa com uma frase muito eloquente: "os grandes livros contribuíram para formar o mundo".

Eco acredita que "existem poderes imateriais cujo peso não se pode medir, mas que ainda assim pesam". Estes "não se restringem aos chamados valores espirituais, como os das doutrinas religiosas". Entre os poderes imateriais, ele incluiria

"o da tradição literária, isto é, do complexo de textos que a humanidade produziu e produz, não com fins práticos, mas 'gratia sui', por amor de si mesma, e que são lidos por prazer, elevação espiritual ou para ampliar os conhecimentos" (claro que as obras literárias estão geralmente ligadas a um suporte físico; não é disso que se trata, porém).

Pergunta o italiano:

"Mas para que serve esse bem imaterial, a literatura? Eu poderia responder, como já fiz noutras vezes, dizendo que ela é um bem que se consuma 'gratia sui' e que portanto não serve pra nada. Mas uma visão tão crua do prazer literário corre o risco de igualar a literatura ao jogging ou às palavras cruzadas que, além do mais, também servem para alguma coisa, seja manter o corpo saudável, seja enriquecer o léxico".

Ele acredita que "a literatura tem na nossa vida individual e social" três funções: a Literatura exerce papel importantíssimo na manutenção e mesmo na renovação da língua de um país; os textos literários, no momento mesmo da leitura, obrigam "a um exercício de fidelidade e de respeito dentro da liberdade de interpretação"; a Literatura ensina o leitor a morrer. Quero me deter na última delas.

Umberto Eco, mesmo reconhecendo a liberdade interpretativa como uma das características essencias da leitura, não defende, entretanto, que seja "possível fazer qualquer coisa com uma obra literária" (posição com a qual concordo). Nesse sentido, as narrativas ficcionais são imodificáveis, sobretudo "as grandes histórias"  já inscritas na tradição, com suas tragédias e desencantos. Com a palavra, o pensador italiano:

"A função das narrativas imodificáveis é justamente essa: contrariando nosso desejo de mudar o destino, nos fazem experimentar a impossibilidade de mudá-lo. E assim, qualquer que seja a história que elas contem, contará também a nossa, e é por isso que as lemos e as amamos. Necessitamos de sua severa lição 'repressiva'. A narrativa hipertextual pode educar para o exercício da criatividade e da liberdade. Isso é bom, mas não é tudo. As histórias 'já feitas' nos ensinam também a morrer. Creio que essa educação para o fado e para a morte é uma das principais funções da literatura. Talvez existam outras, mas agora me escapam".

Para alguém como eu, que vive para ler e lê para viver, - isso é só uma frase de efeito( ruim, por sinal) - aprendo também a ler para morrer.
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ECO, Umberto. A literatura contra o efêmero. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 fev. 2001, Caderno Mais!, p. 12-14

BG de Hoje

Poucas bandas de metal extremamente pesado me interessaram tanto, até hoje, como o PANTERA. Uma canção como I'm broken, composta há mais de 15 anos, ainda soa com vitalidade em meus ouvidos.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Thomas Hobbes e a autoajuda (3)




"O que é coisa difícil [ler o gênero humano através da leitura de si mesmo], mais ainda do que aprender qualquer língua ou qualquer ciência, mas ainda assim, depois de eu ter exposto claramente e de maneira ordenada minha própria leitura, o trabalho que a outros caberá será apenas verificar se não encontram o mesmo em si próprios. Pois esta espécie de doutrina não admite  outra demonstração".

Thomas Hobbes - Leviatã 

Para o filósofo Renato Janine Ribeiro*,

"O homem hobbesiano não é então um homo oeconomicus, porque seu maior interesse não está em produzir riquezas, nem mesmo em pilhá-las. O mais importante para ele é ter os sinais de honra, entre os quais se inclui a própria riqueza (mais como meio, do que como fim em si). Quer dizer que o homem vive basicamente de imaginação. Ele imagina ter um poder, imagina ser respeitado - ou ofendido - pelos semelhantes, imagina o que o outro vai fazer. Da imaginação - e neste ponto Hobbes concorda com muitos pensadores dos séculos XVII e XVIII - decorrem perigos, porque o homem se põe a fantasiar o que é irreal. O estado de natureza é uma condição de guerra, porque cada um se imagina (com razão ou sem) poderoso, perseguido, traído".

O que é o estado de natureza? É o modo de existência fora do controle do Estado; este último, para Thomas Hobbes, deveria ser representado por um único indivíduo (ou grupo de indivíduos), dotado de poderes absolutos sobre os demais, já que os súditos submetem suas vontades e desejos ao arbítrio desse "Leviatã", criado pelo pacto feito entre eles, objetivando fugir da insegurança que caracteriza o estado de natureza.

Renato Janine Ribeiro observa que Hobbes considerava a imaginação perigosa. Por quê? "Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante - eu não sei o que o outro deseja, e por isso tenho que fazer uma suposição de qual será a atitude mais prudente, mais razoável", lembra-nos Ribeiro. Conjeturamos, tentamos fazer previsões (erradas, muitas vezes), imaginamos como serão as reações do outro.

E qual o papel do "individualismo metodológico" empregado por Hobbes para formular suas conclusões, levando em conta o modo como atua a imaginação?

Como se sabe, Leviatã** é dividido em quatro partes. Na primeira delas, ("Do homem"), o pensador inglês "gasta" 16 capítulos para apresentar sua concepção da natureza humana***. É a partir dela que o filósofo defenderá a necessidade de concentrar todo o poder nas mãos de uma pessoa (ou grupo de pessoas), sem recorrer ao argumento da designação divina, presente nos arrazoados de outros defensores do Absolutismo no mesmo período.

Sendo todos os seres humanos iguais (possuidores de "um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder que cessa apenas com a morte"), somente a força e o temor impostos por um poder absoluto podem impedir a mútua aniquilação.

O pensador inglês não coleta dados junto a amostras populacionais (esse modus faciendi, hoje trivial no meio científico, estava longe das  práticas de trabalho dos eruditos do século XVII), nem dispõe, obviamente, dos recursos da Psicologia, que só se estabeleceria como ciência centenas de anos depois. Thomas Hobbes fundou seu método observando apenas suas próprias reações, sensações, sentimentos, vontades e desejos e o que tudo isso pode provocar na imaginação. Depois, deduziu que o mesmo acontece com cada um dos outros seres humanos, uma vez que todos são iguais.

É pouco para escrever um tratado sobre o surgimento do Estado? Sim. Não obstante, tornou-se um clássico.

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Como já registrei anteriormente nesta série, o veredicto da História foi implacável com as ideias políticas de Thomas Hobbes. Portanto, uma interpretação perfeitamente adequada do Leviatã é a que enxerga no livro uma expressão da antipolítica, porque baseado no princípio do medo - um dos sentimentos típicos do império  da incivilidade - e na incapacidade de coexistência dos diversos interesses individuais/grupais dentro da mesma sociedade. Nesse sentido, Hobbes constrói seu pensamento sobre uma aposta na torpeza humana e (também) por isso sua obra é considerada maldita.

Para meu "uso", entretanto, prefiro observar que o Leviatã ensinou-me a procurar ser sempre autocrítico; a não me iludir com os "sucessos", "acertos" ou "conquistas" que por ventura venham a fazer parte de minha vida; preparou-me para desconfiar dos argumentos "bem-intencionados" dos outros (e dos meus próprios). E numa época em que muitos fazem questão de se exibir probos, responsáveis e sensíveis, principalmente por meio do que tentam projetar através de seus perfis na web - nas mídias sociais, todos são engajados, apoiam causas virtuosas (ainda mais quando adequadas às suas ideologias), têm consciência ecológica, são anjos de tolerância, artistas da palavra e do grafismo, ajudam velhinhas a atravessar as ruas, etc. - um livro como o de Hobbes alerta-me para que não acredite muito nessas máscaras "que se estão pegando à cara", se me permite essa adaptação do conhecido verso de Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa.
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* RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco C. Clássicos da política, 1. 13 ed. São Paulo: Ática: 2001, p. 51-77

** HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 [tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva]

*** Na Segunda parte do Leviatã ("Do Estado") é que se encontra o detalhamento da visão política de Thomas Hobbes. A Terceira ("Do Estado Cristão") e a Quarta ("Do Reino das Trevas") podem interessar ao(à) leitor(a) pois demonstram a posição crítica (e negativa) que o filósofo manifestava em relação à Igreja.


BG de Hoje

Canção revigorante, (eu acho, pelo menos): PATTI SMITHDancing Barefoot


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Thomas Hobbes e a autoajuda (2)



"Portanto se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria conservação e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro".


Thomas Hobbes - Leviatã

Antes de falar do principal livro publicado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil)*, pensei que talvez possa interessar ao (à) leitor(a) o "percurso" que me levou a ele.

Quando era estudante do Ensino Médio (na época, simplesmente 2º Grau) ganhei um exemplar da coleção Os pensadores que continha esse texto na íntegra. Ele me foi dado por um ex-professor, junto com outros títulos usados (mas muito bem conservados), alguns dos quais ainda hoje mantenho comigo. Li o texto naquela oportunidade e, como era de se esperar, não entendi quase nada. Mas andava com ele pra cima e pra baixo, "fazendo charme de intelectual". Fiquei também um pouco decepcionado porque não é no Leviatã que se encontra a mais famosa frase de Hobbes - "o homem é o lobo do homem" - que eu conhecia graças ao currículo escolar e à canção do Caetano Veloso (a frase está no livro Sobre o cidadão).

Mas mesmo sem ter compreendido a obra naquela primeira leitura, uma forte certeza se formou em mim: o pensador inglês fez questão de impregnar seu texto com um ceticismo amargo. Eu já enxergava a existência humana de modo extremamente pessimista, no fim da adolescência, e o Leviatã não destoava dessa concepção que nunca me abandonou, mesmo agora na madureza. Após a primeira leitura, o livro ficou hibernando em minha estante cheia de espaços vazios.

No final dos anos 1990, no pouco tempo em que frequentei o curso de Ciências Sociais, fui aluno de um ótimo professor de Política no 2º período. Mitre (era esse seu sobrenome) resolveu que seu plano de aula ia ser estruturado a partir do estudo de autores clássicos da filosofia política: Maquiavel, Locke, Montesquieu, Rousseau e, claro, Hobbes. Foi minha segunda leitura do Leviatã, mais rica e aprofundada. E de lá pra cá nunca mais parei de lê-lo.

A essa altura o(a) leitor(a) já não tem dúvidas de que este é um dos meus livros prediletos.

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Os sistemas políticos foram progressivamente, ao longo da História, rejeitando as ideias de Thomas Hobbes - poder altamente centralizado e rígido controle/censura sobre o pensamento e sobre o direito e a expressão individuais. O Absolutismo teve curta duração (pelo menos no Ocidente) e boa parte dos Estados apostou na democracia liberal e no regime republicano, com a tradicional divisão dos Três Poderes.

Ainda assim, há algo no pensamento hobbesiano aplicável à análise política da atualidade; agora, porém, não mais no âmbito da nação e sim nas relações internacionais. Atentemos para este trecho do Leviatã (cap. XXI, parte II, Da liberdade dos súditos)

"Porque tal como entre homens sem senhor existe uma guerra perpétua de cada homem contra seu vizinho, sem que haja herança a transmitir ao filho nem a esperar do pai, nem propriedade de bens e de terras, nem segurança, mas uma plena e absoluta liberdade de cada indivíduo; assim também, nos Estados que não dependem uns dos outros, cada Estado (não cada indivíduo) tem absoluta liberdade de fazer tudo o que considerar (isto é, aquilo que o homem ou assembleia que os representa considerar) mais favorável a seus interesses. Além disso, vivem numa condição de guerra perpétua, e sempre na iminência da batalha, com as fronteiras em armas e canhões apontados contra seus vizinhos a toda a volta".

Hobbes transfere seu "individualismo metodológico" para a análise dos conflitos internacionais. E se pensarmos um pouco, não se trata de uma observação destituída de sentido. Basta lembrar da impotência da ONU e outros organismos mundiais para coibir a violência de seus membros, principalmente aqueles com maior poderio militar...

Entretanto, não tratarei desse tema (não sou tão pretensioso a ponto de discutir política internacional). Quero, isso sim, voltar ao termo individualismo metodológico. Pois foi com essa ferramenta simples que Hobbes construiu seu conjunto de reflexões. Seguindo o preceito do Nosce te ipsum (conhece-te a ti mesmo), o filósofo inglês procurou mostrar que o estado natural dos seres humanos é caracterizado pela "guerra de todos os homens contra todos os homens" (e não a convivência pacífica e harmoniosa), tornando a vida "solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta".

Na próxima semana, tentarei explicar como o individualismo metodológico manifesta-se na obra de Hobbes e se esta pode mesmo funcionar como "autoajuda".
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HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 [tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva] (Coleção Os pensadores)


BG de Hoje


RAGE AGAINST THE MACHINE conseguiu arranjar ótimas soluções para a (sempre) difícil juntura entre o rock pesado e a música mais "funkeada". Uma dessas soluções pode ser ouvida em Take The Power Back (do primeiro disco da banda norte-americana).





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Thomas Hobbes e a autoajuda (1)



"Mas há um outro ditado que ultimamente não tem sido compreendido, graças ao qual os homens poderiam realmente aprender a ler-se uns aos outros, se se dessem ao trabalho de fazê-lo: isto é, Nosce te ipsum, Lê-te a ti mesmo".

Thomas Hobbes - Leviatã


Há bastante tempo, em entrevista publicada na revista Istoé* (buscada em meu precário arquivo de pastas plásticas), Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, respondia a uma pergunta sobre os diversos interesses do público leitor brasileiro. A conversa acabou chegando aos livros de autoajuda. Surgiu então outro questionamento: "o sr. acha que, de certa forma, isto [o livro de autoajuda] é um estímulo para leituras um pouco mais avançadas?" Parte da resposta de Schwarcz nunca saiu de minha cabeça:

"Este é um leitor em potencial para outros livros. Eu sou um otimista. Costumo dizer que todo bom livro é de autoajuda, só que uns têm uma pretensão mais totalitária sobre a vida das pessoas ou mais imediatista".

Há dois pontos a considerar, penso eu:

1) Ao dizer que o consumidor de livros de autoajuda, potencialmente, chega a outros tipos de publicação, o editor da Companhia das Letras acaba referendando a "teoria do degrau". É como dizer que o leitor de Augusto Cury, por exemplo, poderá, no futuro, apreciar Graciliano Ramos. Hoje, Zíbia Gasparetto; amanhã, Virginia Woolf... Não acredito nisso. Mas discutirei a "teoria do degrau" em outra oportunidade.

2) "Todo bom livro é de autoajuda": o que dizer dessa frase? Para muitos leitores (entre estes, o blogueiro que vos escreve), o ato de ler é, na maior parte das vezes, uma eterna procura. Pelo quê? Ou melhor, por quem? Por nós mesmos, dispersos nas páginas dos livros que vamos acumulando. Queremos encontrar traços definidores daquilo que chamamos (equivocadamente até) nossa personalidade. Lemos principalmente para compreender. E essa compreensão pode ser - como é, aliás, na maioria das vezes - uma tentativa de entender nossos próprios gestos e atitudes, mesmo sendo por meio do que outros escreveram.

Mas o que toda essa ladainha tem a ver com uma obra "maldita", elaborada por um intelectual do século XVII?

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Falemos de outra entrevista**. Em março deste ano, o filósofo Renato Janine Ribeiro conversou com a reportagem da (excelente) Revista de História da Biblioteca Nacional  (disponível aqui). Entre as questões, algumas sobre Thomas Hobbes, especialidade do entrevistado. Para Ribeiro, "Hobbes consegue ser antipático a todas as classes, o que é fabuloso". Perguntado sobre o que o pensador inglês teria a nos dizer hoje, ele responde:

"A grande questão hobbesiana é que o poder político não é a realização da natureza humana. É o contrário do homo politicus grego. Para o grego, você só se torna plenamente humano em sociedade. Não sendo assim, você é um bicho selvagem, como Kaspar Hauser. Com Hobbes, você tem a ideia de que a natureza humana, solta a si própria, levará todos a um conflito que abreviará a duração e a qualidade de nossas vidas. Isso tem muito a ver como o modelo de discurso dominante freudiano: o nosso desejo é infinito, temos que limitá-lo. Tanto em Freud como em Hobbes há esse descompasso  entre o desejo humano e a possibilidade de sua realização".

E mais à frente: "esta ideia de que a vida humana exige restrições marca o pensamento hobbesiano. E isto é algo muito próximo".

Os famigerados livros de autoajuda são escritos para fazer com que seus leitores se achem melhores do que realmente são (ou pelo menos, melhores do que os outros). É você - dizem esses livros - que deve estabelecer seus próprios limites. Hobbes, por sua vez, lembra-nos, a todo o tempo, que  não somos poços de virtude e, sem limites externos a nós, produzimos apenas conflito violento.

Ao teorizar sobre o surgimento do Estado, Thomas Hobbes acabou por dissecar nosso lado monstruoso. Eu me reconheço em suas reflexões. Não consigo imaginar forma mais adequada de "autoajuda"...

Na próxima postagem da série, começo a discutir o Leviatã.

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* O Brasil quer ler. Istoé, São Paulo, n. 1309, 2 jan. 1994, p. 5-7 [entrevista realizada por Apoenan Rodrigues]

** Renato Janine Ribeiro, um filósofo sem medo. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Ano 6, n. 66, mar. 2011, p. 48-53 

BG de Hoje


"Me sinto uma cobaia, um rato enorme/ nas mãos de Deus mulher/ de um Deus de saia/ cagando e andando". Essa é, para mim, a letra mais visceralmente autêntica de CAZUZACobaias de Deus é uma cacetada. O artista carioca estava nos EUA buscando tratamento médico. ANGELA RÔ RÔ pediu, Cazuza enviou o escrito pelo correio e a música foi feita.


domingo, 11 de setembro de 2011

Notas sobre o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais




Só pude comparecer a quatro dos onze dias previstos para o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais. Como os eventos dos quais participei em 9 e 10/09 levaram a reflexões mais demoradas, falarei deles em outras oportunidades. Vamos aos dias 4 e 6/09:

04/09/2011 - Compareci ao debate Dilemas da mediação de leitura, cuja mesa era composta por João Marcos (artista gráfico), Raquel Elizabete (representante da Secretaria Estadual de Educação/MG) e Maria Antonieta Pereira (professora aposentada da FALE/UFMG e coordenadora do Teia de Textos). Eliana Yunes, anunciada pela organização do evento, não conseguiu viajar a Belo Horizonte; pena, pois estava muito interessado em ouvi-la. A sala reservada para o debate ficou praticamente vazia (num domingo à tarde, o público, suponho, tinha outros interesses). Críticas à rigidez das instituições escolares (vistas, entretanto, como agências fundamentais para a mediação da leitura); críticas também à Universidade, no que se refere à formação de professores e bibliotecários; o "divórcio" entre os estudos literários e o estudo da arte dentro da escola; a presença dos quadrinhos no espaço escolar, ainda vistos com desconfiança por parte dos educadores; o mediador como exemplo de leitor; esses foram alguns dos pontos discutidos na ocasião. Ah, e registro a desagradável participação de um sujeito falastrão e pedante, não obstante mal informado, que veio nos contar, por exemplo, como sua vovozinha o ajudou a gostar de ler, como se isso interessasse a alguém, naquele contexto específico...

06/09/2011 - Clima antipático: assim eu caracterizaria o Diálogo Literário, do qual participaram os escritores Leo Cunha e Fanny Abramovich, com mediação da também escritora Neusa Sorrenti. E o evento começou auspicioso, com menos de 10 minutos de atraso (coisa rara em programações do tipo). Problemas com o microfone, no entanto, "compensaram" o que foi ganho no tempo inicialmente. No começo do debate, a partir de uma pergunta feita pela mediadora sobre a importância do humor na Literatura Infanto-Juvenil (LIJ), comecei a desconfiar que o restante da conversa ia ser desalentador.

Fanny Abramovich não demonstrava consideração alguma pela plateia; ela falava se dirigindo apenas aos outros integrantes da mesa e à professora Maria Antonieta Antunes Cunha (uma das maiores estudiosas de LIJ do país, que foi proprietária da histórica editora-livraria Miguilim e é mãe de Leo Cunha), sentada mais à frente. Abramovich destacou o trabalho de apenas três autores: Lobato, João Carlos Marinho e, principalmente, Sylvia Orthof. De repente, deu uma ferroada na obra de Ana Maria Machado (que nem estava no contexto da discussão). A única escritora ainda ativa elogiada por ela foi Eva Furnari.

Deu-me a impressão que Abramovich não lê nada de mais recente no campo da LIJ. E embora não ache que estar up-to-date com a produção literária seja por si só uma vantagem, é estranho perceber tal atitude na escritora paulista, porque ela tem livro teórico publicado sobre o assunto (Literatura Infantil: gostosuras e bobices), foi professora universitária especializada nesse campo, chegando a escrever na imprensa diária.

A mediadora parecia um pouco perdida e Leo Cunha tentou salvar o debate com a postura mais lúcida entre os que compunham a mesa. Uma discussão que poderia render era sobre o conceito de qualidade na LIJ: quais os critérios seguros (se é que eles existem) para dizer que um livro é bom e outro é ruim? Infelizmente, esse assunto não avançou. No momento em que se abriu para as perguntas do público, fui embora.

Na próxima postagem, mudança completa de assunto: começo a escrever sobre Thomas Hobbes.

BG de Hoje

Adoro o humor do PREMEDITANDO O BREQUE (e, claro, a ótima qualidade de seus instrumentistas - principalmente Mário Manga). Em Bem Brasil, divertidíssima crítica ao país. E com participação de Caetano Veloso.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Literatura Infantil sob a ótica de Walter Benjamin


No ensaio Livros infantis antigos e esquecidos*, Walter Benjamin ressalta um lado nada simpático da bibliofilia, frequentemente escamoteado. Diante da pergunta "por que você coleciona livros?", o que um adepto dessa atividade diria se induzido à autorreflexão? Escreve o pensador alemão:

"Como seriam interessantes as respostas, pelo menos as sinceras! Pois apenas os não iniciados poderiam crer que não existe aqui o que esconder ou racionalizar. Arrogância, solidão, amargura - muitas vezes esse é o lado noturno de muitos colecionadores cultos e bem sucedidos. Toda paixão revela de vez em quando os seus traços demoníacos, e nada confirma tão cabalmente essa verdade como a história da bibliofilia".

Mas não é esse traço da paixão de colecionar que será ressaltado por Benjamin ao analisar o conjunto de livros para crianças pertencente a um contemporâneo seu, Karl Hobrecker (nem a bibliofilia será o assunto principal dessa postagem, mas sim as opiniões do ensaísta sobre a Literatura Infantil).

É necessária certa predisposição de espírito para apreciar adequadamente uma coleção desse gênero. Segundo Walter Benjamin, o indivíduo precisará permanecer "fiel à alegria que experimentou quando criança, ao ler esses livros". E embora haja o interesse de preservar belos exemplares, os chatos e meticulosos sentir-se-ão deslocados: "é uma boa coisa que a pátina depositada nas folhas por mãos infantis pouco asseadas mantenham à distância o bibliófilo esnobe".

Benjamin nos informa que, de acordo com Hobrecker,

"o livro infantil alemão nasceu com o Iluminismo. Era na pedagogia que os filantropos punham à prova o seu grande programa de remodelação da humanidade. Se o homem é por natureza piedoso, bom e sociável, deve ser possível fazer da criança, ente natural por excelência, um ser supremamente piedoso, bom e sociável. E como em todas as pedagogias teoricamente fundamentadas a técnica da influência pelos fatos só é descoberta mais tarde e a educação começa com as admoestações problemáticas, assim também o livro infantil em suas primeiras décadas é edificante e moralista, e constitui uma simples variante deísta do catecismo e da exegese".

Ou seja, desvenda-se, na Alemanha iluminista, o mesmo que se percebe em outros lugares do mundo, mesmo em outras épocas: o "pecado original" da Literatura Infantil, cujo nascimento deixou-a no meio do caminho entre a pedagogia e a expressão artística (e, muitas vezes, a segunda é suplantada pela primeira, com resultados ruins).

O dono da coleção e também o ensaísta criticam esses textos excessivamente didáticos. "Mas" - diz  Benjamin - "essas falhas, já superadas, são insignificantes se comparadas com os equívocos que hoje estão na moda graças a uma suposta 'empatia' no espírito da criança: a jovialidade desconsolada das histórias em versos e as caretas hilares desenhadas por pretensos 'amigos das crianças' para ilustrar essas histórias"

E o pensador alemão acaba se metendo a psicólogo:

"A criança exige dos adultos explicações claras e inteligíveis, mas não explicações infantis, e muito menos as que os adultos concebem como tais. A criança aceita perfeitamente coisas sérias, mesmo as mais abstratas e  pesadas, desde que sejam honestas e espontâneas [...]"

Cabe a pergunta: para se trabalhar com a Literatura Infantil é necessário algum conhecimento da psicologia infantil? Já respondendo, acho que sim, como é necessário em qualquer outro campo de atuação ligado à infância. E, preciso confessar, ressinto-me deste conhecimento.

Benjamin critica o preconceito decorrente da crença de que as crianças são seres cuja existência é "incomensurável à nossa"; faz concisas (e preciosas) análises sobre o conto de fadas e as fábulas; e fala com brilhantismo sobre o papel das ilustrações nesse tipo de produto editorial. Deixarei, porém, a discussão destes tópicos para outra oportunidade.

Quero destacar um último excerto, encontrado no final do ensaio, e que me parece atualíssimo (observo que o texto de Benjamin foi publicado em 1924). Ao falar de "abusos menos visíveis" presentes até na Literatura Infantil menos impregnada do "pedagogismo" extremo, o ensaísta nota certa perda de conteúdo ético:

"Liberta dessa dimensão ética [verificável mesmo nas obras mais "pedagogizadas" do século XVIII], tal literatura passou a depender dos estereótipos da imprensa diária. A cumplicidade secreta entre o artesão anônimo e a criança desaparece; escritores e ilustradores se dirigem cada vez mais à criança através da mediação ilegítima das suas próprias preocupações e das modas predominantes. A atitude sentimental, apropriada não a criança, mas à concepção pervertida que dela se tem, adquire nas imagens direito de cidadania. O formato perde sua nobre discrição, tornando-se incômodo".

E isso não vale para diversos outros produtos - música, cinema, objetos, etc. - voltados para a infância? Além disso, não revela a assimetria típica do gênero Literatura Infantil, como já discuti em outra postagem?

Na próxima semana, falo das minhas impressões sobre o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais.
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* BENJAMIN, Walter. Livros infantis antigos e esquecidos. In: _______________. Magia e técnica, arte e política.: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 235-243 [tradução de Sergio Paulo Rouanet]

BG de Hoje

Ainda bem que encontrei este vídeo: foi a primeira apresentação do grupo vocal BR6 a que pude assistir, interpretando Chovendo na roseira. Ah, e tinha que ser no imprescindível programa Sr. Brasil (TV Cultura), apresentado pelo "patrimônio" Rolando Boldrin.


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

1, 2, 3...


Havia prometido a mim mesmo falar mais de poesia e de Literatura Infantil e Juvenil durante este ano. Não tenho cumprido a promessa a contento, principalmente em se tratando da produção editorial voltada para crianças e adolescentes. Portanto, escolhi três títulos dos quais gosto muito - e mais à frente, em outras oportunidades, adotarei o mesmo procedimento - para compor pequenos "flashes" sobre eles.

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1)  Apresentei o livro E um rinoceronte dobrado, de Hermes Bernardi Jr (Editora Projeto, 2008) para três turmas de estudantes (8 anos de idade, em média) lá da escola em que trabalho, no 1º semestre. Após as leituras, felizmente, quase todas as crianças destacaram justamente o que eu intencionava: o objeto que abre o texto ("O que eu colocaria numa caixa de sapatos?") é uma metáfora para uma espécie de "catalisador" de recordações (os estudantes, obviamente, não disseram isso com esses termos...). Foi divertido vê-los enumerarem, na atividade complementar, as coisas que eles próprios colocariam numa caixa assim. Muitos incorporaram o humor meio nonsense do poema de Bernardi Jr. E não poderia deixar de mencionar o ótimo trabalho gráfico do designer Guto Lins, que sempre me agrada.

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2)  No prefácio de Lendas Negras (Editora FTD, 2001 - ilustrações de Salmo Dansa), Júlio Emílio Braz chama a atenção para um fato:

"Sem procurar muito, até hoje é bem mais fácil encontrar livros com lendas europeias, vikings, celtas, russas, japonesas. Nada contra. O homem é a somatória de suas experiências e de tudo o que lê. Quanto maior e mais diversificada sua leitura, melhor. De qualquer forma, a máxima não se aplica às lendas, histórias e culturas africanas".

Por isso, o escritor decidiu, através de 8 narrativas, dar sua contribuição na tentativa de equilibrar um pouco essa balança. Já adaptei três dessas lendas, divulgando-as por meio da contação de histórias: Tsui'goab ou A batalha contra a Morte (de origem kói, povo que habita parte do deserto do Kalahari); minha preferida, Kigbo e os espíritos do mato (ioruba "de nascença"); e A viúva velha (da tradição quimbunda). Apresentei esta última a estudantes matriculados na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e ela "funcionou" muito bem.

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3) Na opinião (abalizada) de Ana Maria Machado, "Graciela Montes é a maior autora argentina de literatura infanto-juvenil". Esse juízo tão favorável deve ter sido decisivo para que a escritora brasileira realizasse a tradução de Outroso: um outro mundo (Editora Salamandra, 2006 - 3ª edição).

Logo na segunda página, o narrador observa que : "ler um livro não tem que ser tão fácil assim..." Prenúncio de que Outroso escapará dos lugares-comuns típicos desse gênero de Literatura? Não e sim. Não, porque se vale das quase onipresentes turmas (até compreensível, trata-se de um livro direcionado a adolescentes). E sim, pelo modo como discute, por exemplo, a "oposição" entre os muito jovens e os "Velhos" (todos os adultos), assim como as maneiras de escapar dos grupos que implantam e disseminam a violência organizada dentro da sociedade (representados pela temível "Patota"). E há também uma indisfarçável referência ao período da ditadura militar argentina.

BG de Hoje

Um furacão renovador. Assim eu definiria o aparecimento de CHICO SCIENCE E NAÇÃO ZUMBI no cenário musical do Brasil. No vídeo, a versão de Todos estão surdos (de Roberto Carlos). Impressiona-me a qualidade do guitarrista Lúcio Maia. OBS: É a apresentação do grupo no Hollywwod Rock de 1996.