domingo, 27 de junho de 2010

Interrompendo a série para rir um pouco...


A tirinha abaixo, eu li na Folha de S. Paulo, no dia 26/06/10. Na minha opinião, sensacional.




BG de Hoje

O grupo de humoristas antes conhecido como Hermes e Renato, na minha opinião, fez uma besteira ao trocar a MTV pela Rede Record. Mas convenhamos, quase ninguém joga dinheiro fora (e se for muito dinheiro, aí então...). Por isso, entendo o fato de estarem hoje no programa sem-graça comandado pelo Marcos Mion. Ainda na MTV, eles criaram a banda MASSACRATION, que satiriza as vestimentas e os maneirismos das bandas de heavy metal típicas do final dos anos 1970 e início da década seguinte. Eu acho hilário. Confira abaixo o clipe de Evil papagali, contando a história de um psitacídio vindo direto do inferno e que tem o bizarro refrão "LÔRO, LÔRO QUER BISCOITO!".


sábado, 19 de junho de 2010

Jogando água no chope da virtualidade (7)



Foi considerada espantosa, por muitos ouvintes de música pop, a declaração feita há alguns meses pelo guitarrista Jack White. Pessoalmente, não vi nada de mais. Reproduzida em vários veículos de comunicação (aqui, por exemplo), a opinião do músico fez lembrar, para alguns, a "batalha" do Metallica, anos atrás, contra o Napster. White, entre outras coisas, disse:

"Na minha cabeça continuo trabalhando como se não houvesse Internet. A ferramenta é um estorvo, é a grande inimiga da música atualmente".

Não custa lembrar que, no combate ao Napster, a banda californiana foi duramente acusada de defender os lucros gigantes da indústria fonográfica em detrimento dos interesses dos fãs - o que é parcialmente verdade. A declaração de Jack White parece estranha porque ele pertence a outra geração de artistas - mais jovem que os integrantes do Metallica -, que já estaria adaptada s "facilidades" proporcionadas pelo meio digital-virtual da música.

Mas penso que a crítica do guitarrista se refere principalmente ao turbilhão de dados e estímulos circulando a todo o tempo no ciberespaço. Tal circulação e tal quantidade de informação não são, em si, ruins; pelo contrário até. A questão, porém, é outra: como distinguir o que é essencial, relevante, em meio a este dilúvio (para usar a metáfora de Pierre Lévy)?

Creio que esta série - longa e chata, reconheço - chega a seu fim sem ter conseguido analisar, de forma sensata, o entusiasmo acrítico - muitas vezes ridiculamente infantil - em torno da virtualidade. Paciência. Também não pude discutir o "novo universal sem totalidade", tema fundamental do livro Cibercultura. Mas como, em outras oportunidades, tratarei do tema educação no contexto da era virtual, obrigatoriamente, lidarei com esse conceito.

Para encerrar, reproduzo abaixo crônica de Carlos Heitor Cony (Folha de S. Paulo, 20/05/10, p. 2), cujo teor tem tudo a ver como os argumentos aqui defendidos durante a série.

"A INTERNET E A RODA

Continuo indeciso diante do universo virtual, notadamente do tipo de comunicação instantânea e barata que a Internet nos dá. Evidente que dela me beneficio, tal como me beneficiei do computador.

Passei mais de 20 anos sem escrever ficção porque não suportava a máquina de escrever, mesmo aquelas que se diziam eletrônicas. O computador abriu um mundo para mim - se é que o meu umbigo é a coisa mais importante do universo. Pessoalmente, acho que é.

Embora me utilize da Internet diariamente, continuo achando que ela é poluidora, não no sentido ecológico, mas espiritual. Dá informações demais, excessivas, inúteis e redundantes. Mesmo a comunicação por e-mail, que aboliu o fax, o telegrama e a carta postal, transformou-se numa correspondência cultural e afetiva maciça, e nem sempre sincera, refletida e consciente.

A facilidade dos desabafos, das confissões, até mesmo da expressão dos sentimentos, protegidos por códigos secretos e relativo anonimato, cria um universo que pode ser duplamente virtual, na forma tecnológica da expressão eletrônica e no conteúdo que deságua no faz de conta da fantasia.

Não há segurança, nem moral nem material, no universo eletrônico. Ele é, sem dúvida, a ferramenta mais importante inventada pelo homem depois da roda. Mas é um instrumento, nada mais do que isso.

Como a roda, a informática está gerando uma nova civilização. É o início de nova era, além e acima do admirável mundo novo, que já está defasado. De seis em seis meses, o mundo novo se torna mais admirável e complexo, diluindo responsabilidades e anulando o indivíduo, que nada tem de admirável, mas lamentável. Como a roda, a Internet apenas nos facilita o caminho. Mas não nos aponta um destino".

BG de Hoje

Já que falei em Jack White, nada melhor do que ouvir WHITE STRIPES. A canção escolhida é meio óbvia (Seven Nation Army), mas é porque ela abre um dos meus discos prediletos: Elephant (2003). Emprestei esse álbum a um amigo, três anos atrás, que, infelizmente, até hoje não me devolveu. P., SE VOCÊ ESTÁ LENDO ESTE TEXTO, POR FAVOR, DEVOLVA O MEU CD!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jogando água no chope da virtualidade (6)



Dois meses atrás, li um ótimo artigo* que vai bem ao encontro das ideias discutidas nessa série de postagens. Trata-se de Informação não é conhecimento: teorizando a economia política da virtualidade (disponível aqui), de Marcus Breen, ex-jornalista australiano e, atualmente, professor da Universidade da Carolina do Norte (EUA).

Não se vá pensar que, em razão de seus pontos de vista, Breen seja daqueles intelectuais refratários às inovações tecnológicas. Seus interesses estão centrados justamente na área de tecnologia da informação e sua relação com a indústria do entretenimento, principalmente no campo da música pop.

No texto citado, o autor faz a irônica pergunta: "[...] se as expertises digital e computacional têm a capacidade de transformar os seres humanos em seres mais humanos, mais satisfeitos, mais excitados, então por que reclamar?" Suas respostas merecem ser discutidas.

Os argumentos de Breen são construídos a partir de três premissas: 1) não é recomendável excluir a História de qualquer pensamento crítico e/ou teórico; 2) o "projeto iluminista", como ideal a ser atingido, está longe de ser visto como superado; e 3) a virtualidade que se experimenta por meio da tecnologia tem uma causalidade estrutural, por mais que os entusiastas do ciberespaço tentem escamotear esse ponto.

Durante a leitura do artigo percebe-se, logo de cara, o quanto o autor diverge dos teóricos da chamada pós-modernidade. Para ele, o pós-modernismo e seu "vanguardismo como rejeição à história" muitas vezes presta serviço (voluntário ou não?) ao irracionalismo que se nota em alguns discursos dos defensores das bem-aventuranças da era virtual-digital.

As questões levantadas por Breen originam-se dos "debates entre os defensores da nova ordem global da informação do virtual e os do velho mundo da racionalidade iluminista". O posicionamento é claro:

"[...] a fuga para a virtualidade esquivou-se do conhecimento, que foi substituído pela informação não-iluminista. É uma economia  política derivada, do, embora oposta ao, culto à informação, no qual os fatos informacionais e tecnológicos são antropomorfizados para falar por si mesmos, no qual a informação transforma-se em algo místico [...] O resultado necessário é uma economia política que critique a velocidade irracional e a desinformação da virtualidade".

O novo ambiente da era virtual gera "novas formações econômicas, sociais e culturais", mas diante de tais fatos "poucas pessoas se sentem capazes de reagir de forma confiável e crítica. Somos encorajados a não estragar a festa, desafiando a crise de comportamento modernista".

"nova ordem do mundo eletrônico" está em conveniente sintonia com o atual estágio econômico dominante:

"Não é de se admirar que velhas questões sobre justiça e valor social sejam tão difíceis de reivindicar no capitalismo contemporâneo? Seria também surpreendente que tanto esforço para a elaboração de novas políticas de tecnologia ainda não tenha se concretizado? Onde a economia representa tudo, a informação virtual serve como o meio acrítico de desarticulação das políticas sobre ela (a tecnologia). A economia da informação está, de forma bem feliz, ignorante em face da política da crítica".

É claro que, ao recuperar conceitos oriundos da visão marxista da Escola de Frankfurt, Marcus Breen pode acabar sendo menosprezado por lançar mão de um aparato teórico considerado obsoleto por muitos. Mas eu não penso assim.

Na próxima postagem, encerro esta série com uma crônica de Carlos Heitor Cony.

* BREEN, Marcus. Informação não é conhecimento: teorizando a economia política da virtualidade. Perspectivas em Ciência da Informação. Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 157-171, jul./dez. 2001. Disponível em <http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/418/231> Acesso em 10/06/2010