sexta-feira, 26 de junho de 2009

Livros, livros, livros...


"Os livros são publicados com tanta rapidez que nos fazem exponencialmente mais ignorantes. Se uma pessoa ler um livro por dia, estará negligenciando a leitura de quatro mil outros, publicados no mesmo dia. Em outras palavras, os livros não lidos se empilhariam quatro mil vezes mais depressa do que aqueles que leu, e sua ignorância cresceria quatro mil vezes mais rápido que seu conhecimento".

Essa constatação está num ótimo livrinho - o diminutivo denota apenas o número de páginas, pouco mais de cem - cujo título é Livros demais! sobre ler, escrever e publicar, de Gabriel Zaid (Ed, Summus, 2004). Considerando que, atualmente, "a raça humana publicou um livro a cada trinta segundos", Zaid aponta, com muito bom humor e de forma clara e concisa, diversos aspectos ligados à produção, ao comércio, à divulgação e à distribuição de livros. Sem esquecer de falar também sobre os dois pólos máximos do texto: o autor e o leitor.

Gabriel Zaid entende a circulação de obras escritas como parte de uma longa conversação, que surgiu há milênios e se perpetuará (o autor é otimista, apesar de tudo). Não por acaso, ele destacará, em vários momentos de seu texto, a oposição manifestada por Sócrates aos registros escritos, vistos pelo filósofo grego como inimigos da memória e da verdadeira sabedoria.

Em Livros demais!, podemos ver também uma apropriada análise do lugar ocupado pelo livro (e pela leitura, por extensão) em nossas sociedades atuais:

"Confrontados com a escolha entre ter tempo e ter coisas, escolhemos ter coisas. Hoje é um luxo ler o que Sócrates disse, não porque os livros sejam caros, mas por nosso tempo ser escasso. Hoje a conversação inteligente e o lazer contemplativo custam infinitamente mais que o acúmulo de tesouros culturais. Agora, temos mais livros do que podemos ler. O conhecimento acumulado em nossa cultura impressa ultrapassa infinitamente a erudição de Sócrates. Numa pesquisa atual sobre hábitos de leitura, Sócrates teria notas baixas. Sua escolaridade precária e a falta de títulos acadêmicos, domínio de idiomas estrangeiros, currículos e obras publicadas impediriam-no de competir por postos importantes na burocracia cultural, o que confirmaria sua crítica à palavra escrita: a simulação e as credenciais de aprendizagem passaram a ter mais peso que a própria aprendizagem".

Posso dizer que esse foi um dos livros que mais me agradaram neste ano.