Já faz algum tempo que li um pequeno (porém, ótimo) artigo escrito pelo poeta Fabrício Carpinejar e publicado na sessão Superpolêmica, da revista Superinteressante. O nome do texto é Por que não se lê poesia* (também disponível aqui). Nele, Carpinejar tenta encontrar as razões para o fraco interesse das pessoas em adquirir livros dedicados ao gênero. Em determinado momento, ele pergunta:
"Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar? Como foi que os leitores perderam o interesse pela poesia? Desconfio que a resposta esteja no fato de que os próprios poetas tenham perdido o interesse pelos leitores. A poesia como exercício de linguagem, fria, escrita para agradar os professores de semiótica, torna-se cada vez mais distante dos interesses dos leitores. Enquanto a poesia narrava uma história, era capaz de ser atraente, compreensível e proporcionar entretenimento, os poetas eram populares. E isso não era sinônimo de sentimentalismo barato, como o ato de despejar emoções no papel sem uma preocupação com a estrutura. O poeta era o equivalente a um músico, que tocava palavras como cordas de um violão".
E, logo depois, vem uma curiosa constatação: "Não é à toa que foi na melhor MPB que os jovens continuaram procurando versos que não encontram na chamada poesia contemporânea". Como se vê, Carpinejar atribui às letras das canções um valor positivo, no que se refere à sua aproximação com o texto poético.
Outro poeta, Antonio Cicero (este, também letrista), em outro artigo - Letra de canção e poesia** (também disponível no blog Acontecimentos, do mesmo autor) procura saber "se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito".
Para Cicero, é inadequado inquirir se a letra de uma canção é o mesmo que um poema:
Sendo assim, "a verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é um bom poema".
Antonio Cicero afirma que o "o poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim em si próprio. [...] O poema se realiza quando é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural". A letra de canção, por sua vez,
Pessoalmente, acredito que existam letras que podem ser lidas independentemente da interpretação musical e serem "tomadas" como legítimos poemas.
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* CARPINEJAR, Fabrício. Por que não se lê poesia?. Superinteressante. São Paulo, n. 172. p. 98, jan. 2002
** CICERO, Antonio. Letra de canção e poesia. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 jun. 2007. Caderno Ilustrada, p. 11
Outro poeta, Antonio Cicero (este, também letrista), em outro artigo - Letra de canção e poesia** (também disponível no blog Acontecimentos, do mesmo autor) procura saber "se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito".
Para Cicero, é inadequado inquirir se a letra de uma canção é o mesmo que um poema:
"Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?"
Sendo assim, "a verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é um bom poema".
Antonio Cicero afirma que o "o poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim em si próprio. [...] O poema se realiza quando é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural". A letra de canção, por sua vez,
"é heterotélica, isto é, ela não tem o seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção ela é boa, ainda que seja ilegível".
Pessoalmente, acredito que existam letras que podem ser lidas independentemente da interpretação musical e serem "tomadas" como legítimos poemas.
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* CARPINEJAR, Fabrício. Por que não se lê poesia?. Superinteressante. São Paulo, n. 172. p. 98, jan. 2002
** CICERO, Antonio. Letra de canção e poesia. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 jun. 2007. Caderno Ilustrada, p. 11