Max Weber sabia o quanto é difícil desenvolver um trabalho significativo, realmente importante para a vida das pessoas, no campo intelectual. Vejamos o que ele diz a respeito das ideias:
"As ideias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos. As melhores ideias ocorrem realmente à nossa mente da forma que Lhering [1818-1892, jurista, renovador do Direito] descreve: ao fumarmos um charuto no sofá; ou como Helmholtz [1821-1894, físico, criador da lei da conservação da energia] diz de si mesmo, com exatidão científica: quando caminhamos por uma rua lentamente; ou de qualquer outra forma semelhante. De qualquer modo, as ideias chegam quando não as esperamos, e não quando estamos pensando e procurando em nossa mesa de trabalho. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não tivéssemos pensado a mesa e buscado respostas com dedicação apaixonada".
Em passagem anterior de A ciência como vocação*, Weber já tinha chamado atenção para o fato de que "o entusiasmo e trabalho, e acima de tudo ambos em conjunto, é que criam a ideia". O pensador alemão também reconhece que o bom palpite de um diletante pode ser tão bom quanto o de um especialista. Mas existe uma diferença crucial: falta ao primeiro "um processo de trabalho firme e digno de confiança", pois "ele habitualmente não está em posição de controlar, estimar ou explorar a ideia em seus aspectos fundamentais". Fico pensando, então, na quantidade de platitudes presentes na tevê, saindo da boca de "celebridades", ou nas "palavras de sabedoria" a infestar as páginas pessoais da Internet...
Neste campo da criação mental e do raciocínio, contudo, preciso ainda lembrar o valor que Weber dá ao que chamamos (imperfeitamente) de inspiração. Numa comparação entre ciência e arte, ele afirma:
"[...] a inspiração não tem um papel menor na ciência do que na arte. É noção infantil pensar que um matemático alcança qualquer resultado cientificamente valioso sentado à sua mesa com uma régua, máquina de calcular ou outros meios mecânicos. A imaginação matemática de um Weirstrass [1815-1897, matemático, um dos fundadores da teoria das funções] é naturalmente orientada de modo muito diferente, em significado e resultado, da imaginação de um artista, e difere basicamente em qualidade. Mas os processos psicológicos não diferem. São um frenesi (no sentido da ' mania ' de Platão) e ' inspiração ' ".
Ironicamente, aqui, Weber acaba comportando-se como um diletante, porque ele foi muitas coisas, mas não era psicólogo...
Na próxima postagem, falo da relação desta conferência com a Literatura e do belíssimo conceito de desencantamento do mundo.
* GERTH, H. H.; WRIGTH MILLS, C. (Org.) Max Weber: ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1963 (trad. Waltensir Dutra)
"As ideias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos. As melhores ideias ocorrem realmente à nossa mente da forma que Lhering [1818-1892, jurista, renovador do Direito] descreve: ao fumarmos um charuto no sofá; ou como Helmholtz [1821-1894, físico, criador da lei da conservação da energia] diz de si mesmo, com exatidão científica: quando caminhamos por uma rua lentamente; ou de qualquer outra forma semelhante. De qualquer modo, as ideias chegam quando não as esperamos, e não quando estamos pensando e procurando em nossa mesa de trabalho. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não tivéssemos pensado a mesa e buscado respostas com dedicação apaixonada".
Em passagem anterior de A ciência como vocação*, Weber já tinha chamado atenção para o fato de que "o entusiasmo e trabalho, e acima de tudo ambos em conjunto, é que criam a ideia". O pensador alemão também reconhece que o bom palpite de um diletante pode ser tão bom quanto o de um especialista. Mas existe uma diferença crucial: falta ao primeiro "um processo de trabalho firme e digno de confiança", pois "ele habitualmente não está em posição de controlar, estimar ou explorar a ideia em seus aspectos fundamentais". Fico pensando, então, na quantidade de platitudes presentes na tevê, saindo da boca de "celebridades", ou nas "palavras de sabedoria" a infestar as páginas pessoais da Internet...
Neste campo da criação mental e do raciocínio, contudo, preciso ainda lembrar o valor que Weber dá ao que chamamos (imperfeitamente) de inspiração. Numa comparação entre ciência e arte, ele afirma:
"[...] a inspiração não tem um papel menor na ciência do que na arte. É noção infantil pensar que um matemático alcança qualquer resultado cientificamente valioso sentado à sua mesa com uma régua, máquina de calcular ou outros meios mecânicos. A imaginação matemática de um Weirstrass [1815-1897, matemático, um dos fundadores da teoria das funções] é naturalmente orientada de modo muito diferente, em significado e resultado, da imaginação de um artista, e difere basicamente em qualidade. Mas os processos psicológicos não diferem. São um frenesi (no sentido da ' mania ' de Platão) e ' inspiração ' ".
Ironicamente, aqui, Weber acaba comportando-se como um diletante, porque ele foi muitas coisas, mas não era psicólogo...
Na próxima postagem, falo da relação desta conferência com a Literatura e do belíssimo conceito de desencantamento do mundo.
* GERTH, H. H.; WRIGTH MILLS, C. (Org.) Max Weber: ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1963 (trad. Waltensir Dutra)