sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mais tempo na escola ou mais tempo de escolarização: e daí?



Iria, hoje, escrever sobre um poema de Gonçalves Dias, mas mudei de ideia ao ler a entrevista incluída na última edição da revista Presença Pedagógica*. Eliane Márcia da Cruz, coordenadora do Programa Escola Integrada, adotado pela Secretaria Municipal de Educação, aqui de Belo Horizonte, responde a apenas seis perguntas rasas, feitas quase sob medida (e não é agradável ver uma publicação de tão boa qualidade como a Presença Pedagógica servir - intencionalmente ou não - de palanque para a administração da capital mineira, encabeçada pelo prefeito Márcio Lacerda, do PSB).

Como era de se esperar nesses casos, a coordenadora faz um balanço positivo do programa e lança aquelas frases bonitinhas, mas que nada querem dizer, tão caras à Pedagogia (por exemplo, "A cidade é educadora, pois oferece múltiplos espaços de conhecimento e diversas oportunidades de aprendizagem" ou "Os caminhos por onde passam diariamente os alunos tornam-se espaços de formação - trilhas pedagógicas - na medida que possibilitam a ação e a intervenção", etc.).

Eliane Márcia da Cruz aproveitou também para falar de uma pesquisa feita pela Fundação Itaú Social e que mostrou um aumento "impressionante" (estou sendo irônico, viu?) de 4,6% (!) nas médias de matemática dos alunos participantes do programa. Para ela, "o impacto [do programa] na aprendizagem é perceptível, e a melhora da atitude das crianças e adolescentes para com a escola e os professores é consequência natural".

Pessoalmente, tenho muitas críticas à Escola Integrada. Que, aliás, não se confunde com a reivindicada escola integral, embora o ex-prefeito Fernando Pimentel - hoje ministro no governo Dilma - apregoava, marotamente, em campanha malsucedida ao Senado, em 2010, ter sido aquele que implantou a "escola integral" em BH, mas referindo-se ao programa do qual estamos falando.

O que o programa faz, na maior parte das vezes,  é manter as crianças e os adolescentes mais tempo na escola, sob a supervisão (nem sempre competente) de um adulto. E só. Parece ser essa a única função que hoje se reconhece na escola: manter alunos sob os cuidados de alguém para que seus pais ou responsáveis possam trabalhar. Não sou contra esse papel, mas uma instituição voltada para o ensino não se apequena demais limitando-se a fazer apenas isso? E pelo que consigo perceber, o fato de ficarem na escola por um período maior não tem feito desses indivíduos estudantes melhores.

O que me leva a pensar em outra coisa. Até hoje não conseguiram me convencer de que os 200 dias letivos trouxeram qualquer melhoria significativa na qualidade da escola se comparados aos 180 dias obrigatórios antes da LDB. Também convivo com estudantes que tem seis, sete, oito ou mais anos de escolarização e não dominam habilidades elementares, como interpretar um texto simples, de uma página.

A má qualidade da educação brasileira, penso, não diminuirá apenas com o aumento do tempo do aluno na escola. É preciso, urgentemente, valorizar - de verdade - os trabalhadores da educação, que, a propósito, estão mais uma vez em greve aqui na cidade**.

* Escola integrada à cidade. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v.19, n.110, mar./abr. 2013, p. 5-8

** Mas eu, abjeta e covardemente, estou furando o movimento grevista.

BG de Hoje

O mundo do rock pesado recebeu triste notícia nos últimos dias: a morte de um dos guitarristas do SLAYER, Jeff Hanneman. A banda vinha passando por desentendimentos internos e o falecimento de Hanneman talvez acabe por colocar um fim nas atividades do grupo de Los Angeles. Seria uma pena. A canção de hoje é Expendable youth, do ótimo disco Seasons in the abyss (1990)