quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O que significará editar livros no século XXI? (1)


No mês passado, li na revista Carta Capital* que a empresa Amazon comprou, tanto para a impressão quanto para o formato eletrônico, os direitos de publicação do livro For a song and a hundred songs, do escritor dissidente chinês Liao Yiwu. Segundo a reportagem, o contrato "é um passo importante para a editora interna da Amazon, que até agora só tinha assinado com autores do estilo autoajuda [...] ou de suspense [...]".

Ainda segundo Carta Capital

"ao atrair autores do calibre de Liao, a Amazon ameaça controlar todas as etapas da publicação de um best seller premium, do desenho do layout à publicação, distribuição e promoção dos títulos, deixando os editores tradicionais com cada vez menos espaço no mundo da literatura digital".

A Folha de S. Paulo**, reproduzindo matéria do New York Times, repercute situação similar: "a Amazon.com mostrou aos leitores que eles não precisam de livrarias físicas. Agora incentiva os escritores a descartar as editoras". E de acordo com Dennis Loy, representando os editores tradicionais, estes "estão apavorados e não sabem o que fazer".

Pela primeira vez, no início deste ano, as vendas dos livros digitais ultrapassaram as dos livros impressos, nos EUA. O mesmo cenário ainda não se verifica na Europa e noutras regiões do planeta, mas a pergunta, penso eu, não é inútil: o que significará editar livros no século XXI?

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Discordando da frase "livro é um produto como outro qualquer", Paulo Roberto Pires promove boa reflexão sobre o mercado editorial atual, ao fazer resenha*** da obra O dinheiro e as palavras, do experiente editor franco-americano André Schiffrin.

O resenhista diz que, segundo Schiffrin,

 "editar livros hoje [...] é atividade essencialmente parecida com o que era no século 19: no fundo das histórias e cifras de vampiros virginais, anjos apaixonados ou labradores amorosos, está o trabalho artesanal de escritores, editores e artistas gráficos. A mudança crucial acontece, lembra ele, quando o ramo deixa de ser visto como ofício para se transformar em mais um negócio ' de mídia ' - com investidores à espera de lucros pelo menos três vezes maiores do que o padrão".

Visão excessivamente idealizada e voluntarista? Talvez. Volto a André Schiffrin na próxima postagem, ao discutir uma entrevista dada por ele. Também falarei, na conclusão do assunto, de um trabalho de que gosto muito : Livros demais!, do mexicano Gabriel Zaid.

* Best sellers de qualidade, Carta Capital, São Paulo, ano 17, n. 668, p. 80-81. 19 out. 2011 [matéria assinada por Felipe Marra Mendonça]


** Amazon exclui editoras e negocia com escritores, Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 out 2011, Caderno Mercado, p. 6

** Os editores no divã. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 out 2011, Caderno Ilustríssima. p. 4-5 [matéria assinada por Paulo Roberto Pires]


BG de Hoje

Para mim, a mais perfeita canção pop já gravada é Superstition, de Stevie Wonder. Mas já falei dela aqui nesta seção. Então, vamos à segunda melhor: No quarter, fantástica viagem sonora a cargo da mítica banda inglesa LED ZEPPELIN - link para o vídeo.