segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"No fundo da alma há solidão"



A cantora e compositora Vanessa da Mata, no encarte do seu (ótimo) disco Sim (Sony/BMG Music, 2007) escreve:

"Muitas vezes, não tenho a coragem de enfrentar a tristeza febril da realidade dos mendigos, dos loucos, dos meninos de rua, dos perigos vários de violência, dos pedidos de esmola, dos vendedores sem coração nem desconfiômetro de insistência que perturbam a paz de quem procura as praças para seu descanso e lazer, vendendo histórias que muitas vezes não queremos ter".

Acho que um dos melhores exemplos da deterioração da vida urbana (que promete tudo, menos solidariedade e aproximação) está naquilo que se pode observar nas praças das grandes cidades. Espaços imensos, abertos, mas amedrontadores.

Mais à frente, no mesmo encarte, Vanessa da Mata sonha:

"É preciso varrer outras lacunas que se esgueiram na perversão e na crueldade dos homens. Na violência que nos afunda, na corrupção que nos mata, na passividade que nos oprime e não nos desperta confundindo-se com pacificidade. É preciso não curvar a dignidade".

Pessoalmente, acho que não se tem escapatória: solidariedade é artigo em falta no mercado e dignidade não paga as contas...

Já falei sobre este disco no meu antigo (e extinto) blog. Nem sei por que quis voltar a ele... Mentira, sei sim. Finalmente me dei conta de que solidão é ruim. Durante anos a vida eremítica foi meu ideal; estava enganado.

A canção Vermelho, de Vanessa da Mata - e que abre o álbum acima mencionado - tem tudo a ver com o que venho sentindo nos últimos dois anos:

VERMELHO
Vanessa da Mata

Gostar de ver você sorrir
Gastar das horas pra te ver dormir
Enquanto o mundo roda em vão
Eu tomo tempo
O velho gasta a solidão
Em meio aos pombos na Praça da Sé
O pôr-do-sol invade
o chão do apartamento

Vermelhos são seus beijos
Que meigos são seus olhos

Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego

Vermelhos são seus beijos
(Quase que me queimam)
Que meigos são seus olhos
(Lânguida face)
Seus beijos são vermelhos
(Quase que me queimam)
Que meigos são seus olhos
(Lânguida face)


SOBRE TCHEKHOV

Na postagem anterior, eu falei sobre um conto de A. P. Tchekhov. Se você quiser saber um pouco mais sobre esse escritor, vale a pena ler o ótimo texto feito por Marcello Cabral (do blog O diabo no meio da rua), disponível aqui. Boa leitura!