quinta-feira, 7 de maio de 2009

O último apague a luz

O tema dominante do blog - Literatura - será hoje deixado de lado.

Cheguei para o trabalho nesta tarde e fui informado de que minha diretora fora mordida por um aluno. A polícia teve que ser acionada. Pela manhã, nesse mesmo dia, já tinha lido num jornal local a notícia de que uma estudante de 15 anos morrera supostamente de overdose de cocaína, na véspera, após passar mal dentro de uma outra escola, localizada na divisa entre Belo Horizonte e Contagem, município que integra a região metropolitana da capital mineira. Nesse último caso, a família afirma que houve negligência por parte da escola.

O que revelam as duas situações?

Antes de responder a pergunta, porém, preciso fazer algumas considerações. Ninguém mais parece ficar chocado com notícias de violência e crimes dentro de instituições escolares, sobretudo públicas. Pode haver apenas algum espanto em relação ao grau do descalabro. Veja, por exemplo, a escola em que trabalho. É considerada light, se comparada a outras instituições municipais públicas como ela. São poucos os casos de agressão física, alguns xingamentos e ofensas aqui e ali - mas todos já estamos acostumados a isso, não é mesmo? - e pouco dano (atualmente) ao patrimônio. Ah, me esqueci de comentar que, sete anos atrás, um vigilante levou um tiro de raspão no braço, dentro da escola, entre as 12 e 13 horas (eu disse 12 e 13 horas) numa tentativa de assalto. Só que se trata de um caso isolado... Em outras unidades municipais e estaduais de Belo Horizonte e região metropolitana, para usar uma expressão bem ao gosto dos adolescentes, o bicho tá pegando, bem mais do que na minha "escolinha light ". Nelas ocorrem homicídios, roubos e tráfico de drogas, dentro e fora dos portões ou nas imediações. No resto do Brasil, a coisa não está diferente (e a esse respeito, vale a pena ler a matéria que o Pirata fez para a Revista Brasileiros).

Mas respondendo a pergunta anteriormente formulada. A primeira situação revela um total rebaixamento da condição do educador, que pode ser chutado, socado, mordido e tudo fica por isso mesmo. Na segunda situação, com total desfaçatez, pessoas que não assumem responsabilidade alguma, transferem para o ombro de professores o ônus por uma situação que escapa à atuação dos educadores (e, que me perdoem pela obviedade dessa afirmação: professores são profissionais do ensino e não agentes de segurança).

Eu costumo ler e ouvir muitas pessoas, até gente muito bem-intencionada, afirmando, com um simplismo irritante, que "a educação é o futuro" ou "a solução dos problemas do Brasil está na educação". O buraco é muito mais embaixo...

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Leio que o deputado federal Sérgio Moraes (PTB - RS) está "se lixando" para a opinião pública*. Como se vê, já não há preocupação nem de salvaguardar as aparências. O nobre parlamentar é o relator do caso contra Edmar Moreira (aquele do castelo). Moraes, que já presidiu o Conselho de Ética da Câmara (!), tem processos na justiça por agressão e lenocínio, entre outros. É esse tipo de gente que representa a população brasileira no Legislativo.

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Estou cansado, muito cansado.

* Para relator, não há motivo para cassar dono de castelo. Folha de S. Paulo, 07 mai. 2009, p. 4 (Caderno Brasil)