terça-feira, 7 de junho de 2011

Nocautes (7)


ONDE ANDAM OS DIDANGOS? - José J. Veiga


Nesses seis anos como blogueiro (contando o tempo de minha tentativa anterior ao Besta Quadrada), fazendo um balanço da atividade, constatei, com surpresa, o pouco destaque dado a artistas pelos quais tenho imensa admiração. Por exemplo, quase não falei dos meus quatro prosadores prediletos.

Lygia Fagundes Telles e Lima Barreto até que já apareceram duas ou três vezes. Mas Graciliano Ramos e José J. Veiga não foram discutidos - acho que nem sequer citados. Com relação ao último, procuro agora reparar a falta. NOTA: Estou pensando também em "apresentá-lo" a estudantes da EJA, na escola em que trabalho, mas isso é outro assunto...

Em Onde andam os didangos?*, algumas das principais características da escrita de Veiga podem ser imediatamente percebidas, como, por exemplo, as duplas de adjetivos emendados, sem pausa, como fazemos na oralidade, principalmente no interior de Minas (ou Goiás, terra natal do escritor):

"A noite era feia perigosa no rancho [...]"

"Quem não caiu do céu foi aquele homem feioso mal-encarado [...] (grifos meus]

Há também os períodos - raramente longos - nos quais ideias díspares se harmonizam, revigorando o enunciado, que continua simples:

"Não vendo nenhuma saída, começou a chorar baixinho, tomou gosto e acabou chorando alto".

"Foi a primeira vez que o menino viu uma pessoa com fome ter medo de comer".

E o que são os didangos do título? Criaturas monstruosas imaginadas pelo menino: "Sendo a criatura mais esquisita de toda a mata, e vai ver de todo o mundo, o didango tinha que ser também o bicho mais perigoso".

Empregando a técnica narrativa do discurso indireto livre, comum em muitos de seus textos, José J. Veiga insere o leitor rapidamente, em poucas linhas, nos pensamentos mágicos desse menino que vive com o pai e a mãe num rincão isolado. Até que surge um novo personagem que muda suas vidas. Só que este não é um lugar de tranquilidade: "Com esses [os didangos] e outros bichos, e mais outras coisas que aconteciam, a vida no rancho era cheia de sustos".

O desalento do final do conto, pejado da impotência e do desespero do menino e de seus pais diante da injustiça, quase me fez chorar na primeira vez em que li Onde andam os didangos?. E até hoje, relida tantas outras vezes, essa história me emociona sempre.
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* VEIGA, José J. Onde andam os didangos?. In: __________. A estranha máquina extraviada.13 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 53-62

BG de Hoje

Se existe uma canção da qual nunca me enfado é Vila do Sossego, de ZÉ RAMALHO, esse inclassificável compositor paraibano.