Sexta-feira passada estávamos
reunidos, à noite, na sala dos professores da escola pública em que
atualmente trabalho, quando a diretora da unidade avisou-nos que um
jovem desejava informações sobre sua situação escolar Foi recebido.
Bastante agressivo (e, aparentemente, sob efeito de drogas) R. queria
saber por que não recebera ainda um documento ou qualquer outra
certificação atestando que ele havia, segundo sua expressão, "terminado a quarta série".
Aqui são necessários alguns esclarecimentos. No município de Belo Horizonte, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) - modalidade na qual R. estava matriculado - não segue o modelo seriado em sua rede pública (assim também acontece no ensino fundamental regular, organizado por ciclos). Os alunos da EJA são reunidos em turmas, de acordo com seu nível de conhecimento e aprendizagem, e, após avaliações periódicas feitas pelos professores e coordenação pedagógica, cada estudante pode ou não mudar de etapa (ou etapas) e, no final, receber o certificado de conclusão do ensino fundamental. Isso pode se dar em quatro, cinco ou mais anos, dependendo da dedicação, do envolvimento e do esforço dos estudantes. Todos os alunos sabem disso (ou deveriam saber) quando se matriculam.
Segundo fui informado, R. mal consegue ler e escrever e não domina as quatro operações básicas da matemática. UMA NOTA: uma de minhas irmãs, professora, tem feito a seguinte piada, de humor mórbido: o modo mais eficiente hoje em dia para estimular um jovem a aprender matemática é dizer a ele que corre o risco de levar um tiro caso faça as contas erradas na hora de acertar os pagamentos com o dono da boca de fumo...
Consultou-se a frequência de R. durante o ano letivo de 2009: ele compareceu a menos de 30% das aulas. Um dos professores também verificou que o estudante não havia realizado nenhuma das atividades/avaliações daquele ano. Impossível obter qualquer atestado de escolaridade numa situação dessas.
Mas R. insistiu. Sua "reivindicação" mudou de teor. Passou a reclamar dos outros estudantes, dizendo que seus "aliados" estavam em outra escola e que ele corria risco de vida, pois tinha várias "broncas" com moradores da Vila P., uma favela próxima do nosso local de trabalho. Chegou a perguntar para os professores: "cês pode garantir minha segurança? Vão entrar na frente se alguém resolver atirar ni mim?" Claro que a resposta foi negativa.
No fim das contas, a diretora ofereceu a manutenção da matrícula de R. (a única coisa exequível naquela circunstância). Ele saiu xingando palavrões e dizendo que ia jogar uma bomba na escola.
De tudo, concluí o seguinte:
1) Se não se pensar (e implantar de fato) uma eficiente rede de cooperação e serviço conjunto, envolvendo as áreas da assistência social, da saúde, da cultura, do esporte, da segurança pública e da educação (last, but not least), vamos continuar perdendo estudantes para a criminalidade (atividade perigosíssima, mas muito mais rentável que a rotina escolar).
2) São tantas as "reinvenções da roda" no meio educacional, com a adoção de modas pedagógicas, tecnicismos burocráticos e nomenclaturas vazias que a população (em geral) e as comunidades escolares (em particular) têm dificuldade para compreender, na essência, o trabalho educativo formal.
3) A "reclamação" de R. reforçou uma convicção que tenho já há alguns anos: ninguém mais quer se esforçar para nada! É tudo mastigadinho e, de preferência, pra ontem! Num ambiente assim, é difícil ser otimista com a educação básica, principalmente pública.
Aqui são necessários alguns esclarecimentos. No município de Belo Horizonte, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) - modalidade na qual R. estava matriculado - não segue o modelo seriado em sua rede pública (assim também acontece no ensino fundamental regular, organizado por ciclos). Os alunos da EJA são reunidos em turmas, de acordo com seu nível de conhecimento e aprendizagem, e, após avaliações periódicas feitas pelos professores e coordenação pedagógica, cada estudante pode ou não mudar de etapa (ou etapas) e, no final, receber o certificado de conclusão do ensino fundamental. Isso pode se dar em quatro, cinco ou mais anos, dependendo da dedicação, do envolvimento e do esforço dos estudantes. Todos os alunos sabem disso (ou deveriam saber) quando se matriculam.
Segundo fui informado, R. mal consegue ler e escrever e não domina as quatro operações básicas da matemática. UMA NOTA: uma de minhas irmãs, professora, tem feito a seguinte piada, de humor mórbido: o modo mais eficiente hoje em dia para estimular um jovem a aprender matemática é dizer a ele que corre o risco de levar um tiro caso faça as contas erradas na hora de acertar os pagamentos com o dono da boca de fumo...
Consultou-se a frequência de R. durante o ano letivo de 2009: ele compareceu a menos de 30% das aulas. Um dos professores também verificou que o estudante não havia realizado nenhuma das atividades/avaliações daquele ano. Impossível obter qualquer atestado de escolaridade numa situação dessas.
Mas R. insistiu. Sua "reivindicação" mudou de teor. Passou a reclamar dos outros estudantes, dizendo que seus "aliados" estavam em outra escola e que ele corria risco de vida, pois tinha várias "broncas" com moradores da Vila P., uma favela próxima do nosso local de trabalho. Chegou a perguntar para os professores: "cês pode garantir minha segurança? Vão entrar na frente se alguém resolver atirar ni mim?" Claro que a resposta foi negativa.
No fim das contas, a diretora ofereceu a manutenção da matrícula de R. (a única coisa exequível naquela circunstância). Ele saiu xingando palavrões e dizendo que ia jogar uma bomba na escola.
De tudo, concluí o seguinte:
1) Se não se pensar (e implantar de fato) uma eficiente rede de cooperação e serviço conjunto, envolvendo as áreas da assistência social, da saúde, da cultura, do esporte, da segurança pública e da educação (last, but not least), vamos continuar perdendo estudantes para a criminalidade (atividade perigosíssima, mas muito mais rentável que a rotina escolar).
2) São tantas as "reinvenções da roda" no meio educacional, com a adoção de modas pedagógicas, tecnicismos burocráticos e nomenclaturas vazias que a população (em geral) e as comunidades escolares (em particular) têm dificuldade para compreender, na essência, o trabalho educativo formal.
3) A "reclamação" de R. reforçou uma convicção que tenho já há alguns anos: ninguém mais quer se esforçar para nada! É tudo mastigadinho e, de preferência, pra ontem! Num ambiente assim, é difícil ser otimista com a educação básica, principalmente pública.