Existe (o que me causa um pouco de perplexidade) certa controvérsia quando se tenta conceituar e definir o que seja Literatura Infantil; há quem diga até que esta sequer existe. Particularmente, em mais de uma década dedicada ao estudo do gênero, não tenho dúvidas para admitir não só a existência como a legitimidade da arte literária elaborada especialmente para crianças. Concordo com os diversos autores que, para operarem com o conceito, lançam mão da figura do leitor (no caso, a criança). Entre estes, Vera Teixeira de Aguiar*, para quem "a literatura infantil se define a partir de seu destinatário". E Aguiar acrescenta:
"Modalidade literária tardia, aparece só no momento em que a infância passa a ser tratada de modo especial, como idade de formação do homem. Tem, então, desde o começo, um receptor específico, que é a criança, colocada no centro das atenções da família e da comunidade. [grifo meu]
Contudo, a Literatura Infantil apresenta uma característica que a torna sempre alvo de críticas severas. Falo da assimetria existente entre o autor e o leitor. Explico.
Durante o processo de produção de um livro infantil, todos os envolvidos são adultos: o escritor, o editor, o ilustrador (além, obviamente, dos outros trabalhadores responsáveis pela materialidade da obra: diagramadores, gráficos, impressores, etc.). Mais: geralmente, cabe a outros adultos - professoras(es), mães e pais - a função de indicar determinada obra à criança. Verifica-se, então, a tal assimetria, já que são insignificantes os casos em que uma criança, dentro do mercado editorial, desempenhe qualquer papel durante a produção dos livros. E, mesmo que exista intensa comunicação entre elas, a respeito de suas leituras, a interferência de pais e professores ainda é poderosa.
Dividido em 10 seções, cada uma delas com um tema (Brincadeiras, Escola, Namoro, Livros, etc.), a publicação registra lembranças e opiniões dos autores (a crônica de Fernando Bonassi sobre a escola do "seu tempo" - Era uma vez quando não podia - é admirável).
Nos textos das crianças, apesar de terem a "cara" daquelas redações (no meu tempo de escola primária eram chamadas de composições) para cumprimento de tarefa escolar, leem-se trechos engraçados como este, de Ricardo Fratezzi Junior, de 9 anos:
"O meio de transporte de que eu mais gosto é mesmo o jet ski porque você é livre e pode fazer o que quiser nele. A asa delta, que eu nunca experimentei, deve ser melhor ainda. O pior mesmo é a charrete, muito devagar e sem graça".
Meu tempo e o seu é uma tentativa de produzir algo novo na Literatura Infantil.
* AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura literária e escola. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani (Org.). A escolarização da leitura literária. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.