Abençoado feriadão! Diferentemente de uma certa parcela da população, da grande imprensa, de políticos demagogos e dos "formadores de opinião" campeões da virtude, adoro a quantidade - deveriam ser mais! - de dias ociosos no Brasil. Há um moralismo econômico (hipócrita, como todo moralismo) na crítica ao número de feriados. Só me provoca bocejos: bocejos de quem, paradoxalmente, dormiu bastante, pôde dar uma faxina em sua moradia e, junto com as leituras não-ficcionais, indispensáveis para o trabalho e os estudos, mergulhou em três boas antologias (aliás, o tipo de publicação ideal para dias de folga).
A primeira foi Lições de Gramática para quem gosta de Literatura, organizada por Carmen Lúcia da Silva Campos e Nilson Joaquim da Silva (Ed. Panda Books, 2007), coligindo crônicas e pequenos contos, mais puxados para o humor. A segunda antologia, organizada por Magda Lopes Gebrim, reúne diversos Contos, de Jack London (Ed. Expressão Popular, 2001). Mas é sobre a terceira delas que trato nessa postagem.
O ensaio analisa as várias faces das narrativas fantásticas - ghost story, a ficção científica, a "ciência gótica", o realismo mágico - e Tavares, refletindo sobre a baixa produção de textos do tipo em nossa Literatura, afirma, acertadamente:
"Ainda estamos tentando domesticar o realismo, e cultivar o fantástico não é prioridade por enquanto. Nossa literatura, vista em conjunto, pretende enxergar o Brasil, imaginar o Brasil, extrair de nossas experiências contraditórias uma imagem plausível do Brasil. Não creio que o realismo seja a única estratégia narrativa capaz de se desincumbir desta tarefa, mas reconheço que a literatura fantástica dá a muitas pessoas a sensação de nos afastar do mundo (que nos exige respostas imediatas a problemas urgentes) para nos puxar de volta a uma zona crepuscular onde somos dominados por forças além da razão".
Quanto à antologia propriamente dita, tem o mérito de, ao lado de nomes consagrados (Murilo Rubião, Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles, etc.), incluir autores hoje praticamente esquecidos (Berilo Neves, Coelho Neto, Humberto de Campos, etc.). Além disso, tive a oportunidade de ler, pela primeira vez, textos de escritores que eu desconhecia por completo e que me encantaram, como Luvibórix, de Carlos Emílio Corrêa Lima, Íblis, de Heloísa Seixas e A escuridão - o melhor deles - de André Carneiro.
As diversas narrativas, como reconhece o próprio organizador, não possuem "a mesma sofisticação literária", sendo seu principal critério para a seleção a pertinência temática: "cada conto foi escolhido porque consegue abrir uma janela interessante sobre o tema".
Ainda que haja certo desnível qualitativo entre os textos, Páginas de sombra: contos fantásticos brasileiros é uma boa amostragem do que se produziu neste campo tão pouco fértil nas letras nacionais.
O TRISTE FIM DA TEMPORADA DE VÔLEI NO BRASIL
Como fã e ex-peladeiro de vôlei, estou preocupado com o futuro do esporte. O time feminino de Osasco, após vinte anos de atividade, parece que acabou. O grupo Bradesco, dono da Finasa (o patrocinador da equipe), não mais manterá o convênio. Atletas de alto nível, campeãs olímpicas como Sassá e Paula Pequeno, estão desempregadas. O time feminino de Brusque (SC) está ameaçado de perder o patrocínio da Brasil Telecom e a equipe praticamente não existe mais (já vi esse filme antes, quando Vasco da Gama e Flamengo montaram verdadeiros dream teams; não prosseguiram com a modalidade, porém, e deixaram diversas atletas sem pagamento). No masculino, a perspectiva do sumiço de outras equipes também é grande. E olha que o Brasil é um dos maiores vencedores mundiais da história do vôlei!
Triste, triste...