Deixo para escrever um pouco mais sobre o livro de José Saramago (As intermitências da morte) noutra oportunidade. É que li recentemente matéria bastante curiosa na revista Metáfora e achei melhor tratar dela.
Com o título Literatura, modo de brincar*, o texto, assinado por Luiz Costa Pereira Júnior e Terciane Lopes, arrola diversos tipos de produtos - brinquedo, calendário fotográfico, camiseta, programa de computador, entre outros - inspirados em escritores, obras ou personagens literários. Os autores dão a seguinte recomendação, logo de início: "Esqueça a ideia de que ela [a Literatura] é um jogo de linguagem da cultura, para iniciados. Pois na vida de seus genuínos apreciadores, será sempre diversão - ou não será literatura". Pereira Júnior e Terciane Lopes, apoiados em boa parte no livro Homo ludens, de Johan Huizinga, defendem que:
Os autores, na conclusão da matéria, afirmam: "os trabalhos [referência aos produtos citados no segundo parágrafo] que apresentamos nessas páginas foram desenvolvidos por quem tenta entusiasmar as pessoas, instigar o interesse pela leitura insistindo no fato de que a literatura é o tratamento lúdico que damos às alternativas da imaginação que desconhecíamos".
Por temperamento, sou um leitor sisudo. Não quer dizer que não me divirta com boa parte das obras que leio: gargalho nalgumas passagens do Macunaíma, por exemplo; fiquei fascinado com o complexo jogo proposto por Georges Perec em A vida: modo de usar (como já comentei aqui e aqui); e não resisto às brincadeiras verbais propostas por José Paulo Paes (poeta citado várias vezes no blog, inclusive aqui).
Porém,dando uma olhada nos objetos "lúdicos" e "divertidos" citados pela revista, principalmente nos Literary Greats Paper Dolls (imagem no alto da postagem), fiquei na dúvida se estes podem, de fato, "entusiasmar as pessoas" e "instigar o interesse pela leitura".
Chega a ser um truísmo afirmar que estamos cercados, quase o tempo todo, por estímulos audiovisuais provenientes de dezenas de fontes, sobretudo dos meios de comunicação de massa. Isso sem mencionar o advento, nas últimas décadas, da World Wide Web, com seu luxo e seu lixo. Justamente por essa "overdose" de imagens e sons, nossa atenção é constantemente dispersada. Também somos solicitados, insistentemente, a "interagir" com outras pessoas - enviando mensagens de celular, respondendo publicações nas tais redes sociais ou mesmo exercitando a velha e famigerada conversa fiada (o que me leva a perguntar: quantos atos de comunicação são necessários para nos satisfazer?).
Mas ler efetivamente um texto, penso eu, exige concentração e isolamento (além de esforço, em alguns casos), condições bastante difíceis de se atingir no cenário acima esboçado.
Quero dizer com isso que os produtos exibidos na matéria da revista Metáfora podem ser muito simpáticos (e alguns são mesmo sensacionais) mas não acredito que objetos alusivos a textos literários, por mais lúdicos que sejam, possam fazer com que as pessoas se tornem leitores mais aplicados e qualificados só por tê-los ou manuseá-los. Usar um verso de Fernando Pessoa numa camiseta ou ter um bonequinho lego de Edgar Allan Poe - falo daqueles que por ventura comprarem tais produtos, não daqueles que os elaboraram - é algo bem legal, além de fazer o possuidor dessas coisas ficar "bem na foto". Agora, se essas pessoas vão efetivamente ler as obras desses autores, já não sei dizer.
Com o título Literatura, modo de brincar*, o texto, assinado por Luiz Costa Pereira Júnior e Terciane Lopes, arrola diversos tipos de produtos - brinquedo, calendário fotográfico, camiseta, programa de computador, entre outros - inspirados em escritores, obras ou personagens literários. Os autores dão a seguinte recomendação, logo de início: "Esqueça a ideia de que ela [a Literatura] é um jogo de linguagem da cultura, para iniciados. Pois na vida de seus genuínos apreciadores, será sempre diversão - ou não será literatura". Pereira Júnior e Terciane Lopes, apoiados em boa parte no livro Homo ludens, de Johan Huizinga, defendem que:
"A 'ludicidade' da literatura conviveu e cedeu espaço ao amadurecimento da ideia de estética - a consciência de que há uma cultura literária forjada por uma tradição de procedimentos que podem ser construídos e virtualmente negados. Essa consciência parece ter se tornado robusta o bastante para que a dimensão lúdica da literatura ficasse circunscrita e associada, na cultura literária, a um nicho: a diversão é preocupação acessória, de preferência restrita à produção pouco séria, destinada ao mercado de consumo ligeiro. Virou fato que muito da literatura prèt-à-porter, aquela que é pré-fabricada para vender e ensinada por manuais e cursinhos, ocupe um campo específico no consumo de livros (de ficção, auto-ajuda, religiosos, etc.). Mas também é verdade que parte substancial da grande literatura é resultado de uma forma de encarar a escrita muito próxima à sensação de quem participa de uma brincadeira autossuficiente".
Os autores, na conclusão da matéria, afirmam: "os trabalhos [referência aos produtos citados no segundo parágrafo] que apresentamos nessas páginas foram desenvolvidos por quem tenta entusiasmar as pessoas, instigar o interesse pela leitura insistindo no fato de que a literatura é o tratamento lúdico que damos às alternativas da imaginação que desconhecíamos".
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Por temperamento, sou um leitor sisudo. Não quer dizer que não me divirta com boa parte das obras que leio: gargalho nalgumas passagens do Macunaíma, por exemplo; fiquei fascinado com o complexo jogo proposto por Georges Perec em A vida: modo de usar (como já comentei aqui e aqui); e não resisto às brincadeiras verbais propostas por José Paulo Paes (poeta citado várias vezes no blog, inclusive aqui).
Porém,dando uma olhada nos objetos "lúdicos" e "divertidos" citados pela revista, principalmente nos Literary Greats Paper Dolls (imagem no alto da postagem), fiquei na dúvida se estes podem, de fato, "entusiasmar as pessoas" e "instigar o interesse pela leitura".
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Chega a ser um truísmo afirmar que estamos cercados, quase o tempo todo, por estímulos audiovisuais provenientes de dezenas de fontes, sobretudo dos meios de comunicação de massa. Isso sem mencionar o advento, nas últimas décadas, da World Wide Web, com seu luxo e seu lixo. Justamente por essa "overdose" de imagens e sons, nossa atenção é constantemente dispersada. Também somos solicitados, insistentemente, a "interagir" com outras pessoas - enviando mensagens de celular, respondendo publicações nas tais redes sociais ou mesmo exercitando a velha e famigerada conversa fiada (o que me leva a perguntar: quantos atos de comunicação são necessários para nos satisfazer?).
Mas ler efetivamente um texto, penso eu, exige concentração e isolamento (além de esforço, em alguns casos), condições bastante difíceis de se atingir no cenário acima esboçado.
Quero dizer com isso que os produtos exibidos na matéria da revista Metáfora podem ser muito simpáticos (e alguns são mesmo sensacionais) mas não acredito que objetos alusivos a textos literários, por mais lúdicos que sejam, possam fazer com que as pessoas se tornem leitores mais aplicados e qualificados só por tê-los ou manuseá-los. Usar um verso de Fernando Pessoa numa camiseta ou ter um bonequinho lego de Edgar Allan Poe - falo daqueles que por ventura comprarem tais produtos, não daqueles que os elaboraram - é algo bem legal, além de fazer o possuidor dessas coisas ficar "bem na foto". Agora, se essas pessoas vão efetivamente ler as obras desses autores, já não sei dizer.
* Literatura, modo de brincar. Metáfora, São Paulo, ano I, n. 7, abr. 2012, p. 26-32
BG de Hoje
Taí uma canção - Champagne Supernova - meio metida a besta, né não? Tem uma certa pretensão sinfônica que chega a incomodar muita gente... E como os integrantes do OASIS nunca primaram pela humildade, a coisa se complica ainda mais. Bem, como sou uma besta quadrada - mas um sujeito metido a besta - não me importo em nada com isso. Gosto muito da música; um belo momento da música pop.