Ontem me senti completamente humilhado e desrespeitado como ser humano e como trabalhador da educação básica PÚBLICA brasileira.
Estudantes de uma turma sobre a qual já falei aqui conseguiram fazer jorrar de mim tudo o que tenho de pior - e olha que não é pouca abjeção guardada dentro dessa carcaça a digitar este texto pestilento... Em poucas palavras: senti asco.
Dois deles, os mais insuportavelmente grosseiros e agressivos, marmanjos de 17, 18 anos - semianalfabetos - levantavam-se o tempo todo das carteiras, ofendendo-se e agredindo-se mutuamente, com o intuito canalha de chamar atenção, perturbar a atividade que estava sendo feita e, logicamente, testar minha paciência e autocontrole. O mais curioso é que um terceiro estudante, até "bem-comportado" incitava-me a "dar na cara deles". Eles não me enxergavam como uma pessoa que merecesse qualquer tipo de respeito. Quantas centenas de educadores Brasil afora não passam por isso todos os dias - e pior, continuarão a passar?
Dentro do ônibus, na volta para casa, só conseguia pensar neste poema de Mario Quintana:
COCKTAIL PARTY
Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste porque vocês são burros e feios
E não morrem nunca...
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos...)
Desce o crepúsculo
E quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as poças d'água
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!
Cada vez tenho mais convicção de que na vida são muito poucas, pouquíssimas, as coisas que valem realmente a pena.