"[Borges] Citou-me um verso no qual dizia ter cometido o pior de todos os pecados possíveis ao homem, o de não ter sido feliz".
Álvaro Alves de Faria - Borges: o mesmo e o outro
Há poucos dias fui buscar livros que encomendei na excelente Livraria do Psicólogo e do Educador de BH. NOTA: Faço questão de incluir o merchandising (não remunerado, esclareço) pois tenho sido muito bem atendido por lá. Estou comprando aos poucos - beeeeem aos poucos - algumas das obras de Jorge Luis Borges, reeditadas pela Companhia das Letras. E consegui agora adquirir O livro dos seres imaginários e O livro de areia.
Falar do escritor argentino sem certa reverência é bastante difícil. Leia-se, por exemplo, o verbete dedicado a ele na Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe*:
"Um dos alicerces fundadores da literatura latino-americana do século XX, assegurou a renovação e, ao mesmo tempo, a retomada das raízes da cultura ocidental ao continente". E mais adiante: "[...] instaurou uma metamorfose estética à qual a narrativa será para sempre grata".
"Um dos alicerces fundadores da literatura latino-americana do século XX, assegurou a renovação e, ao mesmo tempo, a retomada das raízes da cultura ocidental ao continente". E mais adiante: "[...] instaurou uma metamorfose estética à qual a narrativa será para sempre grata".
Entretanto, o mesmo verbete considera que, ao lado da erudição impressionante, Borges "manteve uma linearidade política conservadora diante da realidade política de seu país", apoiando inclusive o regime ditatorial militar.
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Em postagem publicada meses atrás, falando sobre Monteiro Lobato, critiquei postura assumida por parte do público leitor, que acostumou-se a idealizar a figura dos escritores, chegando quase a mitificá-los. E, reconheço, às vezes também incorro nesse erro.
Falo disso porque, recentemente, acabei de ler um bom livrinho (o diminutivo aqui só se refere ao número de páginas - menos de 80) que ajuda a lembrar que Jorge Luis Borges, a despeito da genialidade, era, antes de mais nada, um simples mortal. E com opiniões detestáveis, absurdas, asquerosas.
Em Borges: o mesmo e o outro**, de Álvaro Alves de Faria, composto a partir de uma entrevista realizada em Buenos Aires, no ano de 1976, o tom reverente não é abandonado, mas o autor não ameniza as declarações do escritor argentino, como essa, por exemplo:
"A raça negra é inferior em tudo. A raça negra nada fez, nada faz. Se não existissem negros a história do mundo não mudaria em nada. O negro é uma raça que só sabe viver da imitação das coisas dos homens brancos. Os negros não servem para nada".
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Seria o caso de deixar de ler Borges? Não farei isso. Mas quero lembrar a mim mesmo que os artistas, no sentido mais pleno do termo, são muitas vezes tão desprezíveis e odiosos quanto qualquer outro ser humano.
* Jorge Luis Borges. In: SADER, Emir et al. (Coord.). Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, 2006. p. 204-205
BG de Hoje
Graças a meu irmão mais velho, comecei a curtir rock'n'roll (curiosamente, hoje em dia, ele não é mais tão ligado em música). Era eu ainda criança e gostava de ouvir um álbum duplo, ao vivo, da cantora JANIS JOPLIN, pertencente a ele. Achava aquele som maravilhoso. Tanto que passei a admirar todos os cantores que, do mesmo modo que Joplin, interpretam cada canção como se fossem morrer de um mal súbito assim que terminarem de cantar. Embora não seja um rock típico, muito me emociona Kozmic Blues.