Meses atrás, postei texto alusivo aos 80 anos de Ruth Rocha, minha forma de homenagear essa representante fundamental da nossa Literatura Infanto-Juvenil
Mas, e Tatiana Belinky (perguntou-me, outro dia, uma ex-colega de trabalho)? A escritora e tradutora - nonagenária! - não merece também reconhecimento? Claro que sim.
Já havia escrito sobre ela (clique aqui), quando tratei do livro autobiográfico Transplante de menina, no qual a autora narra sua infância, desde o nascimento na Rússia até a chegada a São Paulo, na década de 1930. Motivo para uma brincadeira, na entrevista concedida ao Almanaque Brasil de Cultura Popular*(disponível aqui): "Sou mais brasileira do que vocês. Estou no Brasil há 75 anos [a matéria foi publicada em 2004] e vocês não".
Nesta mesma entrevista, ela relata sua progressiva familiaridade com diversos idiomas: o letão e o russo ("heranças" nativas), o alemão, o francês, o inglês e, obviamente, o português. E dispara: "a gente aprende mais lendo do que decorando mesóclises e outras barbaridades".
Conta-nos sua experiência com o teatro infantil e com a (então incipiente) televisão: não custa lembrar que a escritora foi a primeira a roteirizar textos de Monteiro Lobato (na época, para a extinta TV Tupi).
E embora sua produção autoral seja considerável, sempre valorizei mais a imensa contribuição de Tatiana Belinky na área da tradução.
Recordemos, por exemplo, os trabalhos que fez, nos anos 1980, para a Coleção Asa Delta. Em "Causos" russos**, apresentou a muitos leitores brasileiros (a este blogueiro, por exemplo) as historietas humorísticas de Mikhail Zochtchenko. Em Salada russa***, reuniu narrativas breves de autores destacados com Pushkin, Liermontov, Turgueniev, Tolstoi, Tchekhov e Gorki. É também dela a tradução que se encontra no lindíssimo A feira anual de Sorotchinski**** (de Nicolai Gógol), publicado pela Ática.
Conta-nos sua experiência com o teatro infantil e com a (então incipiente) televisão: não custa lembrar que a escritora foi a primeira a roteirizar textos de Monteiro Lobato (na época, para a extinta TV Tupi).
E embora sua produção autoral seja considerável, sempre valorizei mais a imensa contribuição de Tatiana Belinky na área da tradução.
Recordemos, por exemplo, os trabalhos que fez, nos anos 1980, para a Coleção Asa Delta. Em "Causos" russos**, apresentou a muitos leitores brasileiros (a este blogueiro, por exemplo) as historietas humorísticas de Mikhail Zochtchenko. Em Salada russa***, reuniu narrativas breves de autores destacados com Pushkin, Liermontov, Turgueniev, Tolstoi, Tchekhov e Gorki. É também dela a tradução que se encontra no lindíssimo A feira anual de Sorotchinski**** (de Nicolai Gógol), publicado pela Ática.
Mais recentemente, em Um caldeirão de poemas*****, o público infantil pode conhecer textos da própria Tatiana Belinky e outros, de anônimos a autores afamados, como Emily Dickinson, Walt Whitman, Edward Lear, Goethe, Heine, Lewis Carroll... Todos convenientemente vertidos para o português e acompanhados de ótimas ilustrações.
E antes de encerrar, gostaria de destacar mais um trecho da entrevista acima mencionada. Diante da pergunta "como escrever bem para criança?", Belinky amplia sua resposta e acaba falando sobre algo que julgo indispensável para aqueles que militam no campo da promoção da leitura:
"Precisa expor o livro à criança, expor a criança ao livro. Tem que levá-la à biblioteca; ter livros em casa; ler para ela; ela ver a gente lendo. Nunca vi meus pais sem livro na mão [...]. Eu sou a vovó do livro. Quero que me vejam com o livro na mão". [grifos meus]
As ações de promoção da leitura e aquelas que intentam contribuir para a formação do leitor não serão bem sucedidas, penso eu, enquanto os agentes - professores, bibliotecários, pais e mães, etc. - não se tornarem referências, modelos ou exemplos de leitores para os sujeitos com os quais convivem, interagem e/ou trabalham.
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E antes de encerrar, gostaria de destacar mais um trecho da entrevista acima mencionada. Diante da pergunta "como escrever bem para criança?", Belinky amplia sua resposta e acaba falando sobre algo que julgo indispensável para aqueles que militam no campo da promoção da leitura:
"Precisa expor o livro à criança, expor a criança ao livro. Tem que levá-la à biblioteca; ter livros em casa; ler para ela; ela ver a gente lendo. Nunca vi meus pais sem livro na mão [...]. Eu sou a vovó do livro. Quero que me vejam com o livro na mão". [grifos meus]
As ações de promoção da leitura e aquelas que intentam contribuir para a formação do leitor não serão bem sucedidas, penso eu, enquanto os agentes - professores, bibliotecários, pais e mães, etc. - não se tornarem referências, modelos ou exemplos de leitores para os sujeitos com os quais convivem, interagem e/ou trabalham.
* "Precisa expor o livro à criança, expor a criança ao livro". Almanaque Brasil de Cultura Popular, São Paulo, Ano 6, v. 64, jul. 2004, p. 20-24
** ZOCHTCHENKO, Mikhail M. "Causos" russos. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1988 [tradução de Tatiana Belinky] (Coleção Asa Delta)
*** TOLSTOI, Leon et al. Salada russa. 3 ed. São Paulo: Paulus 1988 [tradução de Tatiana Belinky] (Coleção Asa Delta)
**** Um caldeirão de poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2003 [poemas traduzidos, adaptados ou escritos por Tatiana Belinky]
***** GÓGOL, Nicolai. A feira de Sorotchinski. 2 ed. São Paulo: Ática, 1993 [Adaptado por Sybil G. Schönfeldt e traduzido por Tatiana Belinky]
BG de Hoje
Milagres do povo, de CAETANO VELOSO, inicia-se com um verso antitético: "Quem é ateu e viu milagres como eu". Canção forte, tratando de aspectos caros à negritude brasileira, seja ela religiosa ou não (como é meu caso): "Quem descobriu o Brasil?/ Foi o negro que viu a crueldade bem de frente/ e ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente" . OBS: O vídeo foi extraído do saudoso programa Chico e Caetano.