No último fim de semana encontrei-me, no Bar do Vinícius (chapa de muitos anos), com alguns bons amigos para bebermos e comemorarmos (ou lamentarmos) meu aniversário. Contraditoriamente, fiquei a ruminar certos pensamentos ruins depois. Isso tem sido comum, para mal dos meus pecados.
Durante algum tempo, eu me preocupava sinceramente com o afastamento (voluntário ou não) das pessoas com quem convivi e por quem acabei criando afeição. Eu procurava telefonar, visitar, convidar para festas e outros programas. Hoje isso já não me importa tanto.
Lembrei-me também de um poema muito bonito de José Paulo Paes*:
BALADA DO BELAS-ARTES
Sobre o mármore das mesas
do Café Belas-Artes
os problemas se resolviam
como em passe de mágica.
Não que as leis do real
se abolissem de todo
mas ali dentro Curitiba
era quase Paris
O verso vinha fácil
o conto tinha graça
a música se compunha
o quadro se pintava
Doía muito menos
a dor-de-cotovelo
nem chegava a incomodar
a falta de dinheiro
Para o sedento havia
um copo de água fresca,
média, pão e manteiga
consolavam o faminto
Não se desfazia nunca
a roda de amigos;
o tempo congelava-se
no seu melhor minuto
Um dia foi fechado
o Café Belas-Artes
e os amigos não acharam
outro lugar de encontro
Talvez porque já não tivessem
(adeus Paris adeus)
mais razão de encontrar-se
mais nada a se dizer"
Amizades... Duram apenas se há razões para encontro, se há algo a dizer? Então, do que são feitas? Meus amigos vão ficando pelo caminho...
Mas, quem sabe, posso ainda dizer, como Carlos Drummond de Andrade**, ao derradeiro que restar:
"Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
[...]
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir"
* PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992
** ANDRADE, Carlos Drummond de. Convite triste. In: _____. Sentimento do Mundo. 13 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001 [Este poema, na verdade, faz parte do livro Brejo das Almas, que foi incorporado à edição aqui referida]