terça-feira, 11 de agosto de 2009

E foram ficando pelo caminho...


No último fim de semana encontrei-me, no Bar do Vinícius (chapa de muitos anos), com alguns bons amigos para bebermos e comemorarmos (ou lamentarmos) meu aniversário. Contraditoriamente, fiquei a ruminar certos pensamentos ruins depois. Isso tem sido comum, para mal dos meus pecados.

Durante algum tempo, eu me preocupava sinceramente com o afastamento (voluntário ou não) das pessoas com quem convivi e por quem acabei criando afeição. Eu procurava telefonar, visitar, convidar para festas e outros programas. Hoje isso já não me importa tanto.

Lembrei-me também de um poema muito bonito de José Paulo Paes*:

BALADA DO BELAS-ARTES

Sobre o mármore das mesas
 
do Café Belas-Artes

os problemas se resolviam
como em passe de mágica.

Não que as leis do real 
se abolissem de todo
 
mas ali dentro Curitiba

era quase Paris 

O verso vinha fácil
 
o conto tinha graça
 
a música se compunha

o quadro se pintava 

Doía muito menos
 
a dor-de-cotovelo

nem chegava a incomodar 
a falta de dinheiro


Para o sedento havia 
um copo de água fresca,
 
média, pão e manteiga
 
consolavam o faminto
 

Não se desfazia nunca

a roda de amigos; 
o tempo congelava-se

no seu melhor minuto 

Um dia foi fechado
 
o Café Belas-Artes
 
e os amigos não acharam
 
outro lugar de encontro
 

Talvez porque já não tivessem

(adeus Paris adeus) 
mais razão de encontrar-se

mais nada a se dizer"

Amizades... Duram apenas se há razões para encontro, se há algo a dizer? Então, do que são feitas? Meus amigos vão ficando pelo caminho...

Mas, quem sabe, posso ainda dizer, como Carlos Drummond de Andrade**, ao derradeiro que restar:

"Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal, 
vamos dizer que a vida é ruim,

meu amigo, vamos sofrer.

[...]

Meu amigo, vamos cantar, 
vamos chorar de mansinho

e ouvir muita vitrola, 
depois embriagados vamos

beber mais outros sequestros 
(o olhar obsceno e a mão idiota)
 
depois vomitar e cair

e dormir"

* PAES, José PauloProsas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992

** ANDRADE, Carlos Drummond de. Convite triste. In: _____. Sentimento do Mundo. 13 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001 [Este poema, na verdade, faz parte do livro Brejo das Almas, que foi incorporado à edição aqui referida]