"Talvez os grandes personagens literários sejam aqueles que sempre escapam à nossa compreensão plena. O intolerável Lear trazendo seus cem camaradas à casa da filha, o apaixonado Dante, obcecado por uma mocinha que encontrou brevemente, o desgraçado Dom Quixote, surrado e apedrejado por persistir em suas ilusões - por que eles nos comovem até as lágrimas, por que eles nos acompanham, por que nos sugerem que esta vida faz sentido no final das contas, a despeito de tudo? Eles não oferecem razão alguma; apenas pedem que acreditemos, reconheçamos, afirmemos sua existência 'sob juramento' ".*
* MANGUEL, Alberto. Os livros e os dias: um ano de leituras prazerosas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 155