Como já observei noutra oportunidade (clique aqui), uma das maneiras de se avaliar uma produção de ficção científica é
tentar verificar o que se tornou (ou pode, no curto prazo, se tornar) "realidade" nas "previsões" feitas pela narrativa
Falemos então de certas "previsões" contidas em Neuromancer *, de William Gibson.
Algumas das megacorporações citadas no livro são japonesas (até a máfia torna-se multinacional, com a Yakuza absorvendo suas similares italiana e chinesa!). Nisso o romance reflete bem o que se poderia deduzir desde o final dos anos 1970 e durante a década seguinte, quando as empresas japonesas cresciam de forma gigantesca. O capitalismo é ardiloso, porém. Mitsubishi, Sony, Toyota são imensas, é verdade, mas conglomerados norte-americanos e europeus reagiram no final do milênio passado. Isso sem falar na China. Mas quem imaginaria, em 1984, o cenário hoje existente no país asiático?
Gibson, contudo, acerta em cheio na abordagem de temas como biotecnologia, engenharia genética e cirurgia plástica. Vejamos, por exemplo, os dispositivos denominados microsofts.
O microsoft é - citando nota do tradutor do livro - "um pequeno chip que é inserido numa tomada biotecnológica atrás da orelha para conectar o cérebro do usuário e dotá-lo de alguma habilidade ou conhecimento que ele não tenha, como, por exemplo, falar idiomas estrangeiros. Essa tomada também serve para fazer cópias back-up da memória humana".
(A empresa criada por Bill Gates existe na ficção de Neuromancer, mas foi incorporada, claro, por uma empresa japonesa)
Estamos, é verdade, longe de um dispositivo desse tipo, mas não deixa de ser uma sacada genial do autor, ao vislumbrar essa possibilidade fantástica na relação homem-máquina.
A percepção de que a circulação de dados e informações se tornará um setor vital da economia e da vida sociocultural, como hoje se verifica, naturalmente é o grande trunfo da narrativa de William Gibson. Mas falarei disso depois, no fechamento desta série de postagens.
Algumas das megacorporações citadas no livro são japonesas (até a máfia torna-se multinacional, com a Yakuza absorvendo suas similares italiana e chinesa!). Nisso o romance reflete bem o que se poderia deduzir desde o final dos anos 1970 e durante a década seguinte, quando as empresas japonesas cresciam de forma gigantesca. O capitalismo é ardiloso, porém. Mitsubishi, Sony, Toyota são imensas, é verdade, mas conglomerados norte-americanos e europeus reagiram no final do milênio passado. Isso sem falar na China. Mas quem imaginaria, em 1984, o cenário hoje existente no país asiático?
Gibson, contudo, acerta em cheio na abordagem de temas como biotecnologia, engenharia genética e cirurgia plástica. Vejamos, por exemplo, os dispositivos denominados microsofts.
O microsoft é - citando nota do tradutor do livro - "um pequeno chip que é inserido numa tomada biotecnológica atrás da orelha para conectar o cérebro do usuário e dotá-lo de alguma habilidade ou conhecimento que ele não tenha, como, por exemplo, falar idiomas estrangeiros. Essa tomada também serve para fazer cópias back-up da memória humana".
(A empresa criada por Bill Gates existe na ficção de Neuromancer, mas foi incorporada, claro, por uma empresa japonesa)
Estamos, é verdade, longe de um dispositivo desse tipo, mas não deixa de ser uma sacada genial do autor, ao vislumbrar essa possibilidade fantástica na relação homem-máquina.
A percepção de que a circulação de dados e informações se tornará um setor vital da economia e da vida sociocultural, como hoje se verifica, naturalmente é o grande trunfo da narrativa de William Gibson. Mas falarei disso depois, no fechamento desta série de postagens.
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Escrevi sobre Ray Bradbury recentemente, mas não mencionei o pequeno artigo de Braulio Tavares, em homenagem ao escritor norte-americano, publicado na revista Metáfora** do mês passado (só comprei a edição anteontem). Vale conferir. Tavares ressalta o estilo poético do autor d'As crônicas marcianas e conta um episódio curioso: "Quando Mikhail Gorbachev visitou os EUA e foi recebido por Reagan na Casa Branca, os únicos convidados cujo nome ele indicou pessoalmente foram Ray Bradbury e Isaac Asimov, com a explicação: 'São os autores norte-americanos mais conhecidos e amados na URSS, e os favoritos da minha filha'. A ficção científica tem esse espírito eliminador de fronteiras geográficas e políticas".
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* GIBSON, William. Neuromancer. 3 ed. São Paulo: Aleph, 2003 [ tradução de Alex Antunes ]
** O poeta da ficção científica. Metáfora. São Paulo, ano I, n. 10, jul. 2012, p. 18-19
BG de Hoje
Toda vez que ouço esta canção me vem à cabeça sempre a lembrança de um sonho bom: Fuga nº II, com Os MUTANTES.