Nesse fim de semana, completamente
depauperado, trancafiei-me em casa e decidi rever, em DVD, vários
filmes de que gosto muito: entre estes, A primeira noite de um homem (The Graduate - direção de Mike Nichols, 1967), apesar de seu final piegas.
Benjamin
Braddock (interpretado por Dustin Hoffman) é um jovem de 21 anos, rico,
bem comportado, tímido e mimado (a meu ver, também um pouco covarde).
De volta à casa dos pais após a conclusão do curso universitário, Ben
demonstra insegurança quanto a seu futuro. Numa festa realizada para
homenageá-lo, depara-se com a Sra. Robinson, esposa do sócio de seu
pai. A Sra. Robinson (na pele de Anne Bancroft, espetacular),
obviamente, é muito mais experiente e decidida. Apesar do roteiro fazer
dela uma pessoa rancorosa, alcoólatra e neurótica, é, de longe, a
personagem mais interessante da narrativa. Os dois acabam tendo um relacionamento
- eufemismo amplamente empregado quando não se quer chamar as coisas
pelos seus verdadeiros nomes -, encontrando-se quase todas as noites
num grande hotel da cidade para fazerem sexo.
Na melhor cena do filme, quando ambos estão deitados na cama após uma transa, Ben dirige-se a Sra. Robinson:
"- Será que podemos conversar um pouco desta vez?
- Não temos o que conversar". - responde, peremptoriamente, a personagem de Anne Bancroft.
Ben iniste. Agastada, a Sra. Robinson estrila:
" - Por que está fazendo tantas perguntas?"
Os dois tentam conversar, discutem, brigam, mas acabam se reconciliando, de novo fazendo sexo.
A
cena é marcante, não deixando de ser ridícula; até um pouco patética.
Ben desejava, além da satisfação sexual, uma espécie de... de... (vá
lá!) "entendimento espiritual" com sua parceira, nem de longe
compreendendo o que implicava aquele "relacionamento"; Benjamin
Braddock queria também um pouco de... de... (vá lá!) "amor"...
Acredito
sinceramente que, na vida de um casal, possa haver, enquanto durar sua
convivência, muito respeito, admiração, lealdade (que não se confunde
com fidelidade - os cães são fiéis), estima, afeto e, em parte dos
casos, carinho. Ah, e um pouco de sacanagem, porque, afinal, somos
humanos, demasiado humanos. Quanto ao chamado "amor" - palavra bastante
desgastada mas que adquiriu importância cultural e simbólica gigantesca graças a obras ficcionais, principalmente literárias - nunca presenciei
sua manifestação no plano da realidade concreta.
Pelas
considerações anteriores, isto aqui está parecendo mais um destes
"programetes" de TV em que um "psicólogo" cretino debate com
"celebridades", igualmente ou mais idiotas, questões bizantinas, como
estabelecer a diferença entre "amor" e "sexo". Para tentar salvar a
postagem naufragada - e lembrando que este blog discute principalmente
Literatura -, encerro com um belo poema de Manuel Bandeira*, dizendo tudo o que penso a respeito do tema.
"ARTE DE AMAR
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não".
__________
* Bandeira, Manuel. Arte de amar. In: __________ . Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993
BG de Hoje
O TOOL
é daquelas bandas que estão longe de ser unanimidade. A ala xiita do
heavy metal considera-a fresca e pretensiosa. Outros não gostam de seu
pendor para o rock progressivo (estilo execrado por nove em cada dez
roqueiros). Há ainda quem não aprecie a aproximação do grupo com as
artes visuais. Pessoalmente, adoro os clipes da banda e suas animações
soturnas. E, chegado em rock pesado, não tenho nada do que reclamar do
som do Tool. Abaixo, a ótima canção Sober.