Como se empregaram anteriormente os termos virtual e digital ao longo das postagens, acho apropriado defini-los melhor. Para tanto, recorro ao já clássico livro de Pierre Lévy, Cibercultura (São Paulo: Editora 34, 1999). Segundo o filósofo francês,
"A
palavra ' virtual ' pode ser entendida em ao menos três sentidos: o
primeiro, técnico, ligado à informática, um segundo corrente e um
terceiro filosófico. O fascínio suscitado pela ' realidade virtual '
decorre em boa parte da confusão entre esses três sentidos. Na acepção
filosófica, é virtual aquilo que existe apenas em potência e não em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em uma atualização. O virtual encontra-se antes da concretização efetiva ou formal (a árvore está virtualmente presente
no grão). No sentido filosófico, o virtual é obviamente uma dimensão
muito importante da realidade. Mas no uso corrente, a palavra virtual é
muitas vezes empregada para significar a irrealidade - enquanto a '
realidade ' pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. A
expressão ' realidade virtual ' soa então como um oxímoro, um passe de
mágica misterioso. Em geral acredita-se que uma coisa deva ser real ou
virtual, que ela não pode, portanto, possuir as duas qualidades ao
mesmo tempo. Contudo, a rigor, em filosofia o virtual não se opõe ao
real mais sim ao atual: virtualidade e atualidade são apenas dois modos
diferentes da realidade. Se a produção da árvore está na essência do
grão, então a virtualidade da árvore é bastante real (sem que seja,
ainda, atual)".
Não há, portanto, oposição entre virtual e real.
A virtualidade refere-se a algo muito comum em nossa época mas que
seria simplesmente inimaginável séculos ou mesmo décadas atrás: a
possibilidade de suprimir obstáculos decorrentes das barreiras
geográficas e do tempo, apenas com o uso de aparelhos e máquinas ao
alcance da mão; algo verdadeiramente revolucionário e sem precedentes.
Nossas sociedades, nossas economias, nossas manifestações artísticas,
enfim, nossas culturas estão diante de um fenômeno avassalador (não à
toa, usa-se a metáfora do dilúvio na introdução do livro Cibercultura)
E quanto ao digital?
Digitalização, sendo direto, é traduzir em números uma mensagem, uma informação.
Para Lévy, no geral, "não importa qual é o tipo de informação ou de mensagem: se pode ser explicitada ou medida, pode ser traduzida digitalmente". E são esses dígitos que circulam através dos circuitos eletrônicos, das redes de fibras óticas e outros meios de transmissão. E o mais importante:
Agora a pergunta: se a virtualidade é revolucionária e, hoje em dia, indispensável na vida de milhões de seres humanos e se os processos de digitalização favoreceram enormemente outros tantos milhões, por que desafiar/desafinar o "coro dos contentes" e jogar água no chope da virtualidade?
Tento responder a partir da próxima postagem, falando ainda do livro de Lévy.
Sem muito o que comentar, música de primeira. Compacto, com o baterista e compositor CURUMIN.
E quanto ao digital?
Digitalização, sendo direto, é traduzir em números uma mensagem, uma informação.
Para Lévy, no geral, "não importa qual é o tipo de informação ou de mensagem: se pode ser explicitada ou medida, pode ser traduzida digitalmente". E são esses dígitos que circulam através dos circuitos eletrônicos, das redes de fibras óticas e outros meios de transmissão. E o mais importante:
"Mesmo
se falamos muitas vezes de ' imaterial ' ou de ' virtual ' em relação
ao digital, é preciso insistir no fato de que os processamentos em
questão são sempre operações físicas elementares sobre os
representantes físicos dos O e 1: apagamento, substituição, separação,
ordenação, desvio para determinado endereço de gravação ou canal de
transmissão".
Agora a pergunta: se a virtualidade é revolucionária e, hoje em dia, indispensável na vida de milhões de seres humanos e se os processos de digitalização favoreceram enormemente outros tantos milhões, por que desafiar/desafinar o "coro dos contentes" e jogar água no chope da virtualidade?
Tento responder a partir da próxima postagem, falando ainda do livro de Lévy.
BG de Hoje
Sem muito o que comentar, música de primeira. Compacto, com o baterista e compositor CURUMIN.