quarta-feira, 23 de março de 2011

Blog: uma chatice? (2)

"Hoje, cada ser humano conectado à rede é uma miniempresa de comunicação de si mesmo, atrás de atenção. O que pode nos levar a encarar as opiniões não como o que elas são, pontas de icebergs que revelam nossas visões de mundo, muitas vezes sem graça e parecidas com as da maioria das pessoas, mas como commodities a serem oferecidas ao mercado"

Antonio Prata

Recentemente, na sua coluna jornalística*, Juca Kfouri discorria sobre as gafes cometidas por jogadores de futebol por causa de suas "tuitadas". Mas, a certa altura, resolveu falar sobre os colegas de profissão que mantêm blogs. Relatou que há muitos jornalistas "chocados com o grau de agressividade dos comentaristas" e por isso "acharam melhor parar com a brincadeira". NOTA: Como a Web favorece a cada um com "raivinha" do mundo soltar seus cachorros - de forma bem covarde, aliás - graças à segurança decorrente da distância de trocentos milhões de bytes entre os emissores e os receptores das mensagens, não é mesmo? Isso sem mencionar a condição de "anônimo". Embora, no meu caso, felizmente, só tive um problema desse tipo (e foi no blog antigo).

Kfouri acrescenta um depoimento pessoal: "Nada me surpreendeu tanto na minha vida de mais de 40 anos na profissão do que o tal de blog. Mais: se eu soubesse, não teria feito um". Devo acrescentar que sou leitor eventual do blogdojuca.uol.com.br

Quem deu essa declaração é um profissional de imprensa que já atuou (e atua) em jornal, revista, rádio e TV, acumulando nessas mídias (muita) credibilidade ao longo dos anos. E que não precisava de um blog para cavar espaço e ser lido/ouvido/visto.

Por fim, arremata: "Porque o blog escraviza, como se obrigasse a não parar de produzir, de trabalhar". Peço ao(a) leitor(a) para lembrar-se dessa frase na minha conclusão da postagem.

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O cronista Antonio Prata, no início deste mês, publicou um texto magistral ** sobre os detritos espalhados pela Web afora.

Reconhecendo que é ótimo o fato de que "o debate tenha se democratizado por todos as revoluções culturais e políticas ocorridas de Gutenberg a Zuckerberg", Prata, por outro lado, alerta para o que há de babaquice nesta "competição mundial por audiência". Ele observa:

"Atrás dos sinais imediatos de reverberação - retuítes, comentários no blog, polegares erguidos no Facebook ou mesmo e-mails desaforados à redação - , muita gente parece não refletir sobre o que pensa deste ou daquele assunto, mas calcular: qual a opinião mais cool, ou polêmica, ou bizarra, ou engraçada, para oferecer na bolsa mundial de ideias?"

Tal "niilismo de salão", segundo o cronista, "embora seja mero jogo para a plateia, apresenta-se como pensamento crítico, uma defesa da liberdade individual contra as amarras da moral e do Estado, mas nada tem de corajoso".

Se tá valendo escrever qualquer coisa e emitir qualquer ponto de vista, mesmo ofensivo, "chocar a burguesia não é uma afronta, mas caminho para o sucesso".

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Já disse em outra oportunidade que acompanho, periodicamente, uns 60 blogs mais ou menos (dentro dos limites que estabeleci para mim mesmo no uso da Web) e em vários deles já notei essa tática do "atropelando todo mundo", criticada por Antonio Prata. E observando o que escreveu Juca Kfouri, começo a lamentar ter criado (mais uma vez) um blog. Porque pode não parecer ao(a) leitor(a), mas manter esse espaço me dá trabalho, mesmo que tenha sido um prazer.

Tentando responder a última pergunta que deixei no texto anterior (e pedindo desculpas pela franqueza com que a respondo), começo a achar que ler - e principalmente escrever -  postagens está se tornando uma chatice...

Encerro a série na próxima.
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* KFOURI, Juca. Twitter, com moderação. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2011, p. 13, Caderno Esportes.

** PRATA, Antonio. Atropelando todo mundo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 2 mar. 2011, p. 2, Caderno Cotidiano.

BG de Hoje

Eu já fiz o teste. Mesmo quem não curte rock pesado não consegue deixar de sacudir a carcaça ao ouvir You shook me all night long, do AC/DC.