Antonio Prata
Recentemente, na sua coluna jornalística*,
Juca Kfouri discorria sobre as gafes cometidas por jogadores de futebol
por causa de suas "tuitadas". Mas, a certa altura, resolveu falar sobre
os colegas de profissão que mantêm blogs. Relatou que há muitos
jornalistas "chocados com o grau de agressividade dos comentaristas" e por isso "acharam melhor parar com a brincadeira". NOTA:
Como a Web favorece a cada um com "raivinha" do mundo soltar seus
cachorros - de forma bem covarde, aliás - graças à segurança decorrente
da distância de trocentos milhões de bytes entre os emissores e os
receptores das mensagens, não é mesmo? Isso sem mencionar a condição de
"anônimo". Embora, no meu caso, felizmente, só tive um problema desse tipo (e foi no blog antigo).
Kfouri acrescenta um depoimento pessoal: "Nada
me surpreendeu tanto na minha vida de mais de 40 anos na profissão do
que o tal de blog. Mais: se eu soubesse, não teria feito um". Devo acrescentar que sou leitor eventual do blogdojuca.uol.com.br
Quem
deu essa declaração é um profissional de imprensa que já atuou (e atua)
em jornal, revista, rádio e TV, acumulando nessas mídias (muita)
credibilidade ao longo dos anos. E que não precisava de um blog para
cavar espaço e ser lido/ouvido/visto.
Por fim, arremata: "Porque o blog escraviza, como se obrigasse a não parar de produzir, de trabalhar". Peço ao(a) leitor(a) para lembrar-se dessa frase na minha conclusão da postagem.
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O cronista Antonio Prata, no início deste mês, publicou um texto magistral ** sobre os detritos espalhados pela Web afora.
Reconhecendo que é ótimo o fato de que "o debate tenha se democratizado por todos as revoluções culturais e políticas ocorridas de Gutenberg a Zuckerberg", Prata, por outro lado, alerta para o que há de babaquice nesta "competição mundial por audiência". Ele observa:
"Atrás
dos sinais imediatos de reverberação - retuítes, comentários no blog,
polegares erguidos no Facebook ou mesmo e-mails desaforados à redação -
, muita gente parece não refletir sobre o que pensa deste ou daquele
assunto, mas calcular: qual a opinião mais cool, ou polêmica, ou
bizarra, ou engraçada, para oferecer na bolsa mundial de ideias?"
Tal "niilismo de salão", segundo o cronista, "embora
seja mero jogo para a plateia, apresenta-se como pensamento crítico,
uma defesa da liberdade individual contra as amarras da moral e do
Estado, mas nada tem de corajoso".
Se tá valendo escrever qualquer coisa e emitir qualquer ponto de vista, mesmo ofensivo, "chocar a burguesia não é uma afronta, mas caminho para o sucesso".
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Já
disse em outra oportunidade que acompanho, periodicamente, uns 60 blogs
mais ou menos (dentro dos limites que estabeleci para mim mesmo no uso
da Web) e em vários deles já notei essa tática do "atropelando todo mundo",
criticada por Antonio Prata. E observando o que escreveu Juca Kfouri,
começo a lamentar ter criado (mais uma vez) um blog. Porque pode não
parecer ao(a) leitor(a), mas manter esse espaço me dá trabalho, mesmo
que tenha sido um prazer.
Tentando
responder a última pergunta que deixei no texto anterior (e pedindo
desculpas pela franqueza com que a respondo), começo a achar que ler -
e principalmente escrever - postagens está se tornando uma chatice...
Encerro a série na próxima.
__________
* KFOURI, Juca. Twitter, com moderação. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 mar. 2011, p. 13, Caderno Esportes.
** PRATA, Antonio. Atropelando todo mundo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 2 mar. 2011, p. 2, Caderno Cotidiano.
BG de Hoje
Eu já fiz o teste. Mesmo quem não curte rock pesado não consegue deixar de sacudir a carcaça ao ouvir You shook me all night long, do AC/DC.