Creio que já disse, nalguma postagem anterior, que considero Eliane Brum um dos grandes talentos do jornalismo atual. Suas colunas na edição brasileira do El País devem ser elencadas, sem nenhum exagero, entre os textos de maior qualidade da nossa imprensa. Neste período eleitoral, então, tornaram-se imprescindíveis para mim.
Numa das mais recentes - Como resistir em tempos brutos - , publicada no último dia 9, ela observou, com desgosto, que "Jair Bolsonaro, aquele que é chamado de 'coiso' nas redes sociais, ganhou esta eleição mesmo antes da votação no primeiro turno". Vitória, nesse contexto, significa que a candidatura do PSL, mesmo tendo desprezado a discussão política, eclipsou todas as outras. As pautas reacionárias e obscurantistas de seu interesse, além de suas declarações odiosas, dominaram as conversas, tornando-se o tópico central de toda a campanha
presidencial e deixando ocultos temas urgentes - como, por exemplo, combate ao desemprego, financiamento da saúde pública ou a possibilidade da implementação de reformas (entre elas, a previdenciária). ¹.
Os motivos para essa vitória nada têm de positivo: um deles me aflige particularmente:
Os motivos para essa vitória nada têm de positivo: um deles me aflige particularmente:
"Jair Bolsonaro ganhou mesmo antes de ter ganhado um número expressivo de votos no primeiro turno" - escreve Eliane Brum - "porque conseguiu mergulhar uma parte das pessoas numa paralisia amedrontada, como se estivessem estragadas por dentro. Jamais se esqueçam que a primeira vitória da opressão é sobre a subjetividade. É o que faz uma mulher cotidianamente espancada ficar calada. Ou uma mulher estuprada não denunciar o estuprador. Há algo que a amarra por dentro. É como se perdesse a voz mesmo tendo voz, perdesse a força mesmo tendo força. Esse é o efeito de ser violentada ou violentado. Vi muita gente assim no final da campanha de primeiro turno, vivendo a campanha violenta de Bolsonaro e de seus apoiadores como uma violência sobre o próprio corpo, sobre sua mente e sobre seu espírito. Mulheres, principalmente, mas também homens".
É isso. Encontro-me "numa paralisia amedrontada", como se estivesse estragado por dentro. Não serei energúmeno a ponto de comparar meu estado de ânimo ao de uma mulher que foi espancada/estuprada, pois, na condição de homem, mesmo que venha a sofrer tais brutalidades, não seria capaz sequer de conceber toda a dor e o trauma vividos por mulheres que passaram por isso. Posso dizer, porém, que a violência da cruzada bolsonarista produziu mesmo um efeito inquietante sobre minha mente e sobre meu espírito. Há quem possa querer negar, mas não tenho dúvida de que a violência - efetivada ou em potência - foi a maior marca da campanha do deputado. (Isso gera consequências deletérias. Indivíduos que se julgam ou se sentem agindo em nome de Bolsonaro têm demonstrado conduta violenta, tanto verbal quanto física, inclusive dentro das polícias. Creio que isso se intensificará após 28 de outubro).
Na coluna citada, a autora faz um chamado ao leitor: apesar do cenário de desalento, "é preciso lutar neste segundo turno para o autoritarismo não se instalar no Brasil pelo voto, mais uma contradição da democracia". Pessoalmente, não acredito numa derrota eleitoral de Bolsonaro neste domingo e, mesmo que ela ocorra, a erupção do fascismo à brasileira, encampado pela burguesia predatória local, já tomou conta do cenário (o que pode, paradoxalmente, talvez dar um novo impulso à luta política no Brasil - conhecendo agora quão fascista parte significativa da sociedade brasileira é, tem que se pensar em estratégias de confrontação diferentes). Contudo, ao contrário de mim, que já desisti da peleja, Eliane Brum ainda não esmoreceu: "Mas não podemos permitir que nossos dias sejam devorados, porque, no banquete dos perversos, nossas almas é que são comidas. Há que se resistir ao devoramento das almas"
Ah, e antes que venha a (surrada, oca e repetitiva) acusação "ela-deve-ser-uma-petralha-de-carteirinha!", atenção para este outro trecho:
"Uma parte [dos eleitores que são avessos ao PT], na qual me incluo, terá que segurar o estômago para votar num partido que reeditou o projeto da ditadura civil-militar na Amazônia, reduzindo a floresta a objeto de exploração, evidenciado nas grandes hidrelétricas como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, e na expulsão dos povos da floresta. Uma parte, na qual eu também me incluo, terá que tampar o nariz para votar num partido que assinou a lei antiterrorismo e que usou a Força Nacional para perseguir e reprimir manifestantes e trabalhadores nas cidades e na floresta. Uma parte, na qual eu também me incluo, terá pesadelos para votar num partido que até hoje não se manifestou contra a ditadura assassina de Nicolás Maduro na Venezuela (Nem isso, PT, nem isso...). Uma parte, na qual eu também me incluo, sofrerá para votar num partido que consumiu os esforços de pelo menos duas gerações de brasileiros com a promessa de que seria diferente dos outros e, como os outros, se corrompeu no poder e se aliou ao que havia de mais nefasto na política nacional. E sofrerá também porque o PT fez tudo isso e nenhuma autocrítica. Nem uma autocrítica bem pequenina, uma autocriticazinha. Nada que mereça esse nome"
Atente, porém, também para o complemento:
"Mas uma parte, na qual de jeito nenhum eu me incluo, usa o ódio contra o PT para justificar o injustificável. É um truque. E esse truque precisa ser desmascarado. Se você votou e votará em Bolsonaro, não é porque é contra a corrupção. Havia outros candidatos que não eram suspeitos de corrupção e você não votou neles no primeiro turno. Você votou em Bolsonaro porque compartilha de suas ideias e compartilha do seu ódio. E se você compartilha com quem afirma o que ele afirma - ser contra negros, contra mulheres, contra LGBTQ, contra indígenas, contra camponeses e a favor das armas e do autoritarismo e da tortura e do atirar para matar - então é isso que você defende. E, principalmente, é esse tipo de pessoa que você é"
(Em casos extremos, hoje comuns, o antipetismo leva a crenças absurdas. Para compreender melhor o fenômeno, sugiro a leitura do artigo A estigmatização do PT e o irracionalismo na eleição, de Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV, publicado no Nexo Jornal)
Tenho visto uma hashtag circular no Twitter: #OBrasilÉMelhorQueOBolsonaro.
Tenho visto uma hashtag circular no Twitter: #OBrasilÉMelhorQueOBolsonaro.
Não é não.
Finalmente estamos caindo na real e constatando que a imagem do "brasileiro boa praça", vendida para os turistas, nunca passou de um tremendo conto do vigário. Há por aqui uma quantidade imensa de pessoas integralmente adeptas do emprego da violência para a resolução de todo e qualquer conflito e outro tanto de indivíduos movidos por um ódio primitivo. Todos eles sentem-se plenamente representados - e pior, legitimados - neste momento.
Algumas personalidades que respeito e admiro - como o rapper Emicida, por exemplo - têm ponderado, com razão, que nem todos os eleitores de Bolsonaro são fascistas ou proto-fascistas. Muitos deles, sobretudo entre os mais pobres, fazem essa opção por estarem completamente desiludidos com o establishment político. Desassistidos pelo Estado, procuram pela candidatura que lhes pareça mais antissistêmica. Sem mencionar os convencidos (ou seria manipulados?) por pastores e outros representantes religiosos. Há também aquele eleitor, como escreve Eliane Brum, que está "muito furioso e muito triste com o país e votou com raiva, votou como quando dá aquela vontade de quebrar tudo e ver o circo pegar fogo".
Tudo isso é verdade. É pena que não há mais tempo para conversar com esses eleitores. E, para ser franco, nem sei se adiantaria alguma coisa.
Por falar em argumentar com eleitores, lembrei de outro excepcional texto de Eliane Brum, Bolsonaro e a autoverdade, publicado em julho deste ano.
"Quando a imprensa mostra que Bolsonaro se revelou um deputado medíocre" - escreve ela -, "que ganhou seu salário e benefícios fazendo quase nada no Congresso, quando mostra que ele nada tem de novo, mas sim é um político tão tradicional como outros ou até mais tradicional do que muitos, quando mostra que falta consistência no seu discurso, assim como projeto que justifique seu pleito à presidência, há pouco ou nenhum efeito sobre os seus eleitores. Porque o conteúdo pouco importa. As agências de checagem são um bom instrumento para combater as notícias e as declarações falsas de candidatos, mas têm pouca eficácia para combater a autoverdade" [Segundo a autora, a autoverdade é "a valorização de uma verdade pessoal e autoproclamada, uma verdade do indivíduo, uma verdade determinada pelo 'dizer tudo' da internet", acrescentando que "o valor dessa verdade não está na sua ligação com os fatos"]
A exposição de evidências, as alegações fundamentadas, até a racionalidade, em certa medida, tornaram-se completamente irrelevantes nesta eleição. Um dos motivos para eu estar estragado por dentro vem disso: não é possível argumentar com a quase totalidade dos eleitores de Bolsonaro, muito menos com seu fandom raivoso e cheio de testosterona. Eles só querem aceitar e só vão acreditar naquilo que favoreça seu candidato. Todo o resto é fake news. Tem mais, porém: todas as falas do deputado - pejadas de racismo, homofobia, apologia à tortura, ameaça ao estado democrático de direito, misoginia, etc - são percebidas, por seus eleitores, como "apenas brincadeira" ou exemplo de que ele é "autêntico".
Mas mesmo com tudo o que foi dito até agora, nem é a figura individual de Jair Bolsonaro, com sua canalhice intrínseca, o que mais me causa desespero e apreensão. São os esteios que o sustentarão no poder.
. . . . . . .
Há alguns meses, o filósofo, ensaísta e poeta Francisco Bosco escreveu um ótimo artigo para o caderno Ilustríssima, da Folha de S. Paulo ².
Intitulado O mês que não terminou, o texto procura apontar o "legado" das chamadas "Jornadas de Junho". Bosco considera que
Lembro-me de que olhei com entusiasmo toda aquela agitação (o articulista assim também o fez) e "muitos apostaram nessa movimentação social como a esperança para pressionar, furar ou renovar a política institucional". Após junho de 2013, diversos grupos de esquerda (Muitas, Bancada Ativista, entre outros) e de direita (Vem pra Rua, Novo, entre outros) buscaram representação legislativa. Bosco observa que "apesar das diferenças ideológicas - e, pelo menos no caso do MBL, das estratégias baixas -, são todos sintomas da formação de uma nova cultura política, com o objetivo comum de transformar o sistema político institucional"
Mas os ventos esperançosos das "Jornadas de Junho", passados cinco anos, dissiparam-se quase sem vestígio.
Para Francisco Bosco (e eu concordo com ele),
Vivi, ainda criança, o governo Figueiredo, o último da ditadura militar, do qual tenho nítidas memórias (desagradáveis muitas delas). Passei perrengue, junto com minha família, durante o desastroso governo Sarney e sua hiperinflação. Estudante secundarista, participei de alguns protestos contra Collor. Não fiquei satisfeito com o conjunto da obra, mas reconheço avanços durante os mandatos de FHC, mesmo sem nunca ter votado nele. Tenho sido eleitor do PSOL desde 2006, mas votei em Lula antes (quatro vezes), por me identificar, naquela época, com o programa de seu partido. Desde então, só digitei o número do PT na urna eletrônica nos segundos turnos, porque considerava seu adversário, o PSDB, uma alternativa ruim (e considero até hoje).
Aprendi algumas coisas nesse tempo todo.
E após o desanimador resultado das "Jornadas de Junho", é muito difícil olhar o Brasil com confiança.
Chegamos a 2018. O que temos?
De um lado, mais uma vez o PT, representado agora por Fernando Haddad. O partido, todos sabemos, tem muito o que explicar, desde o Mensalão. Mas seria desonesto da minha parte não admitir que políticas públicas implementadas nos mandatos de Lula e Dilma - algumas bem sucedidas, como o Bolsa Família - tinham como objetivo mitigar a indecente desigualdade social brasileira. E, com todos os seus defeitos, o PT, desde a sua fundação, tem jogado o jogo democrático.
Do outro lado, está um sujeito desequilibrado e que já deu mostras exaustivas de que o autoritarismo não o repugna, muito pelo contrário. E quando vemos que os financistas do mercado, os picaretas travestidos de líderes evangélicos, os tubarões do agronegócio desmatador e empresários inescrupulosos apoiam com euforia a sua candidatura, prevendo ganhos e lucros futuros, não tenho muita dúvida do que fazer.
No próximo domingo, voto em Fernando Haddad. Voto 13!
Não tenho mais ilusões quanto a eleições e democracia representativa ³. Como escreveu o historiador e cientista político camaronês Achille Mbembe (A era do humanismo está terminando), "a democracia liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo financeiro" e, nesse duelo, já sabemos quem será sacrificada. A transformação da política em apenas mais um braço do mercado é visível. A política, como espaço de disputa e também de negociação, poderá (e acho mesmo que será) eliminada em breve pela voracidade do capitalismo financeiro. Quais as alternativas para evitar isso (se é que existem)?
Uma delas é a ação direta. Ir para as ruas e lutar. Mas não só protestar. Lutar mesmo, no real sentido da palavra. Porque o poder econômico, como todo poder, não deseja contestação. Reagirá. E sua reação, garanto, será feroz. O Estado pouco ou nada pode fazer; na maioria das nações, aliás, o Estado está a serviço do poder econômico, inclusive (e principalmente) suas forças de repressão. Como não tenho a coragem necessária para a luta real, tento a outra alternativa.
Que é continuar escolhendo representantes políticos (sempre democraticamente, mesmo reconhecendo as falhas da democracia representativa), acreditando que, se estes não conseguem frear o poder econômico, podem ao menos tentar aliviar um pouco as consequências nefastas das ações de financistas, banqueiros e megacorporações, sobretudo para as parcelas mais pobres da sociedade.
É provável que um hipotético governo Haddad pouco possa fazer para contrapor-se ao poder econômico. Contudo, não tenho dúvida de que um hipotético governo Bolsonaro é o sonho dos canalhas endinheirados, loucos para que bobagens (estou sendo irônico, viu?) como direitos humanos, direitos trabalhistas, garantias constitucionais, auditorias, fiscalizações ambientais caiam por terra e possibilitem maior lucro.
"o sentido geral de junho de 2013 era a revolta acumulada contra a tendência progressivamente privatista da democracia liberal (tiveram o mesmo sentido o Occupy Wall Street, em Nova York, e os Indignados, em Madri), que comprimia cada vez mais o espaço do comum, e contra um sistema institucional endógeno, blindado, que asfixiava a participação política, reduzindo ao mínimo possível sua intensidade [...] Não era só por 20 centavos. Estava em jogo o poder empresarial submetendo o poder público e o interesse dos cidadãos; um péssimo serviço a preço alto; péssimas condições de circulação. Estava em jogo, em suma, o direito à cidade".
Lembro-me de que olhei com entusiasmo toda aquela agitação (o articulista assim também o fez) e "muitos apostaram nessa movimentação social como a esperança para pressionar, furar ou renovar a política institucional". Após junho de 2013, diversos grupos de esquerda (Muitas, Bancada Ativista, entre outros) e de direita (Vem pra Rua, Novo, entre outros) buscaram representação legislativa. Bosco observa que "apesar das diferenças ideológicas - e, pelo menos no caso do MBL, das estratégias baixas -, são todos sintomas da formação de uma nova cultura política, com o objetivo comum de transformar o sistema político institucional"
Mas os ventos esperançosos das "Jornadas de Junho", passados cinco anos, dissiparam-se quase sem vestígio.
Para Francisco Bosco (e eu concordo com ele),
"O gigante rapidamente foi se revelando menos progressista do que reacionário. Menos esclarecido do que irracional. Menos espontâneo do que titerizado por setores poderosos. Por fim, menos democrático do que autoritário.
Junho de 2013 foi uma montanha que pariu um pato - e uma récua de cavalgaduras. Chega a quase dar saudade daquelas figuras de direita da Veja e até do delírio paranoico de Olavo de Carvalho, inofensivo perto da regressão em massa dos infantilizados adoradores de Bolsonaro"
Vivi, ainda criança, o governo Figueiredo, o último da ditadura militar, do qual tenho nítidas memórias (desagradáveis muitas delas). Passei perrengue, junto com minha família, durante o desastroso governo Sarney e sua hiperinflação. Estudante secundarista, participei de alguns protestos contra Collor. Não fiquei satisfeito com o conjunto da obra, mas reconheço avanços durante os mandatos de FHC, mesmo sem nunca ter votado nele. Tenho sido eleitor do PSOL desde 2006, mas votei em Lula antes (quatro vezes), por me identificar, naquela época, com o programa de seu partido. Desde então, só digitei o número do PT na urna eletrônica nos segundos turnos, porque considerava seu adversário, o PSDB, uma alternativa ruim (e considero até hoje).
Aprendi algumas coisas nesse tempo todo.
E após o desanimador resultado das "Jornadas de Junho", é muito difícil olhar o Brasil com confiança.
Chegamos a 2018. O que temos?
De um lado, mais uma vez o PT, representado agora por Fernando Haddad. O partido, todos sabemos, tem muito o que explicar, desde o Mensalão. Mas seria desonesto da minha parte não admitir que políticas públicas implementadas nos mandatos de Lula e Dilma - algumas bem sucedidas, como o Bolsa Família - tinham como objetivo mitigar a indecente desigualdade social brasileira. E, com todos os seus defeitos, o PT, desde a sua fundação, tem jogado o jogo democrático.
Do outro lado, está um sujeito desequilibrado e que já deu mostras exaustivas de que o autoritarismo não o repugna, muito pelo contrário. E quando vemos que os financistas do mercado, os picaretas travestidos de líderes evangélicos, os tubarões do agronegócio desmatador e empresários inescrupulosos apoiam com euforia a sua candidatura, prevendo ganhos e lucros futuros, não tenho muita dúvida do que fazer.
No próximo domingo, voto em Fernando Haddad. Voto 13!
Não tenho mais ilusões quanto a eleições e democracia representativa ³. Como escreveu o historiador e cientista político camaronês Achille Mbembe (A era do humanismo está terminando), "a democracia liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo financeiro" e, nesse duelo, já sabemos quem será sacrificada. A transformação da política em apenas mais um braço do mercado é visível. A política, como espaço de disputa e também de negociação, poderá (e acho mesmo que será) eliminada em breve pela voracidade do capitalismo financeiro. Quais as alternativas para evitar isso (se é que existem)?
Uma delas é a ação direta. Ir para as ruas e lutar. Mas não só protestar. Lutar mesmo, no real sentido da palavra. Porque o poder econômico, como todo poder, não deseja contestação. Reagirá. E sua reação, garanto, será feroz. O Estado pouco ou nada pode fazer; na maioria das nações, aliás, o Estado está a serviço do poder econômico, inclusive (e principalmente) suas forças de repressão. Como não tenho a coragem necessária para a luta real, tento a outra alternativa.
Que é continuar escolhendo representantes políticos (sempre democraticamente, mesmo reconhecendo as falhas da democracia representativa), acreditando que, se estes não conseguem frear o poder econômico, podem ao menos tentar aliviar um pouco as consequências nefastas das ações de financistas, banqueiros e megacorporações, sobretudo para as parcelas mais pobres da sociedade.
É provável que um hipotético governo Haddad pouco possa fazer para contrapor-se ao poder econômico. Contudo, não tenho dúvida de que um hipotético governo Bolsonaro é o sonho dos canalhas endinheirados, loucos para que bobagens (estou sendo irônico, viu?) como direitos humanos, direitos trabalhistas, garantias constitucionais, auditorias, fiscalizações ambientais caiam por terra e possibilitem maior lucro.
Claro, posso estar completamente equivocado e o apologista da tortura pode fazer um bom governo, mostrar-se à altura do cargo e nem recorrer ao autoritarismo e a violência sistematizada. Porém, acho isso altamente improvável. O consórcio que tentará sustentá-lo - agronegócio, sistema financeiro, setores rapaces do empresariado, parte da mídia corporativa - não está disposto a ceder um centímetro de terreno, sobretudo após o bem sucedido golpe parlamentar-judicial de 2016. E o deputado do PSL é o cara certo pra completar o serviço.
Há um último ponto que quero abordar.
Uma característica dos governos autoritários é limitar e mesmo reprimir a exteriorização de opiniões contrárias a eles.
Sei que sou um ninguém, mas é também característica dos governos autoritários criar ou incentivar a criação de uma rede de delatores, dispostos a vigiar e denunciar pessoas com opiniões contrárias ao governo autoritário, que podem acionar seus próprios meios de repressão ou deixar isso a cargo de milícias ou grupos de valentões não-oficiais.
Há um último ponto que quero abordar.
Uma característica dos governos autoritários é limitar e mesmo reprimir a exteriorização de opiniões contrárias a eles.
Sei que sou um ninguém, mas é também característica dos governos autoritários criar ou incentivar a criação de uma rede de delatores, dispostos a vigiar e denunciar pessoas com opiniões contrárias ao governo autoritário, que podem acionar seus próprios meios de repressão ou deixar isso a cargo de milícias ou grupos de valentões não-oficiais.
Corro risco? "O medo, o medo daquela ridícula Regina, me tomou", como desabafou o escritor e artista plástico Nuno Ramos.
No próximo domingo, voto em Fernando Haddad. Voto 13!
No próximo domingo, voto em Fernando Haddad. Voto 13!
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¹ Para sermos honestos, se recuarmos até 2014, veremos que aquela campanha foi também pobremente propositiva, além de excessivamente agressiva, tanto do lado do PT (lembram-se como foi feita a "desconstrução" de Marina Silva pela militância petista?), quanto do lado do PSDB. Ainda assim, a deste ano apresenta um nível de baixeza quase inacreditável da parte bolsonarista.
² BOSCO, Franciso. O mês que não terminou. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 jun. 2018. Caderno Ilustríssima, p. 4-5
² BOSCO, Franciso. O mês que não terminou. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 jun. 2018. Caderno Ilustríssima, p. 4-5
³ Por favor, não se entenda com isso que me oponho à democracia. Defendo a democracia. Aponto apenas que a democracia representativa tem seus limites, É hora de começarmos a implementar a democracia direta, com mais plebiscitos e referendos, além de favorecer a criação de conselhos populares, dando a estes poder de deliberação.
BG de Hoje
Apesar de gostar de ambos, devo dizer que o primeiro disco da banda potiguar, radicada em São Paulo, FAR FROM ALASKA (Mode Human, lançado em 2014) tem um som mais pesado (e mais do meu agrado) do que o segundo (Unlikely, de 2017). Um exemplo é a ótima faixa Dino vs Dino.