terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Moralismo econômico, Macunaíma, "ficar à toa" e outros assuntos (I)




Quantas vezes você já ouviu a expressão (ou suas variantes): " No Brasil, o ano só começa depois do Carnaval"? Tenho, aliás, um complemento para ela: "Ainda bem!". Note-se que ano, nesse contexto, denota "atividade produtiva" (sob que ótica?)

De uns tempos pra cá, li e ouvi alguns jornalistas e outros formadores de opinião reprovando, com uma veemência um tanto fingida, a quantidade de feriados distribuídos ao longo do ano, Brasil afora (pessoalmente, acho até pouca). Entre as lamentações, alega-se o "prejuízo" para o país nos dias suplementares de folga, pois deixa-se de "produzir", além de reforçar a imagem de indolência, comumente associada aos brasileiros por gringos de maus bofes. Francamente, que moralismo econômico é esse?

Outro ponto. Alertas vêm de diversos setores - e feitos não só por ambientalistas: o planeta passa por um esgotamento, cujas consequências serão terríveis para a sobrevivência da humanidade. Esse esgotamento nada mais é do que o resultado da intensa atividade industrial e comercial (o tal "produzir"), dependente e geradora de um consumismo  desenfreado, acompanhado de toneladas de lixo. Isso sem falar que esse tal "produzir" enche o bolso mesmo, "na real" - estou falando de lucros luxuriantes - apenas de um reduzidíssimo número de indivíduos (lamentavelmente, porém, já encontrei trabalhadores assalariados como eu assumindo, sem questionamento, a defesa do "produzir").

Não posso ser ingênuo e nem quero dar uma de santo esquerdista: o dinheiro e os expedientes para ganhá-lo são centrais na vida da maioria das pessoas (inclusive na minha) - mesmo que algumas delas não admitam. Entretanto, já me acostumei com a ideia de que nunca terei - trabalhando duro ou não - os recursos financeiros que poderiam tornar minha vida menos desagradável. Sendo assim, por que vou dar trela a esse moralismo econômico? Por que vou condenar os feriados se é justamente neles que posso aproveitar para fugir da imbecilização que nos atropela? Reivindico o ócio; reclamo o direito à e a necessidade de minha preguiça.

E por falar em preguiça, não consigo deixar de me lembrar do Macunaíma, livro e personagens marcantes da cultura brasileira. Mas isso - sem pressa, take it easy - é só a partir da próxima postagem.

BG de Hoje

O PIXIES  é daquelas "bandas-adoradas-por-nerds" mas que não têm nenhum apelo popular. Foi uma das influências do Nirvana, o que não é pouca coisa. Gosto bastante de Gouge away, que integra o ótimo disco Doolittle.