"[...] Teve o lançamento dos livros e a Ana Maria Machado e a Sylvia Ortoff e o João Marinho e a Anna Flora e a Edy Lima vieram e assinaram muitos autógrafos nos livros deles.
Eu fui também e ganhei das crianças o Prêmio Jacaré, que era um prêmio que elas inventaram".
Ruth Rocha, em Atrás da porta
No dia 2 de março de 1931 nascia Ruth Rocha. A escritora paulistana, a partir da década de 1970, tornou-se referência nacional quando se pensa em qualidade na Literatura Infantil. Não poderia deixar de falar dela no ano de seu octogésimo aniversário.
Numa entrevista publicada em 2008*(disponível aqui), diante da pergunta Como reage quando os críticos dizem que literatura infantil é "mais fácil"?, Ruth Rocha faz as seguintes observações:
"[...] Acho literatura infantil importante e está cheio de grande escritor que escreveu para criança e quebrou a cara. Escrever para criança ou é fácil ou é impossível. Ou você tem ligação com criança, cumplicidade, ou não tem. E se tem, contar uma história não é difícil, não sai forçada. Literatura infantil é um gênero, como teatro, poesia. Para mim não é difícil, é normal, é trabalho. Acho que sei o caminho. Ao passo que escrever para adulto, eu não sei. Já quis, não deu. O engraçado é que minha leitura é 90% adulta. Só às vezes leio literatura infantil. Mas em grande parte, acho tudo muito ruim".
Penso que a escritora tem autoridade para falar; ela realmente "sabe o caminho". Fiz o teste recentemente. Li, para algumas turmas de crianças com as quais trabalho, o livro mais famoso de Ruth Rocha, Marcelo, marmelo, martelo (Editora Salamandra), publicado pela primeira vez em 1976. E é notável como a história do menino inconformado com a arbitrariedade lexical "funciona" e faz rir até hoje.
Em outro trecho da entrevista, a escritora critica o papel das editoras: "A editora não tem que dar rumo, pautar a literatura. A literatura tem como maior objetivo ser nova, fresca, nunca pré-pautada". Tudo se torna mas complexo, porém, se pensarmos que, a partir da consolidação de um mercado livreiro no país, os editores tornaram-se atores destacados da cena, para o "bem" ou para o "mal" dos artistas (particularmente no segmento de obras infantis), indo além do papel de publishers. Mas isso é assunto para outra postagem...
Meus prediletos entre os trabalhos de Ruth Rocha? Além dos (justamente) celebrados Marcelo, marmelo, martelo e O reizinho mandão, incluiria o texto, de "inspiração antropológica", Este admirável mundo louco (no qual um alienígena produz um relatório sobre o que observou numa visita ao planeta Terra); Ruth Rocha conta a Odisseia (e a escritora, mesmo adaptando o clássico para leitores mais jovens, não dilui a narrativa, mantendo, por exemplo, até alguns daqueles epítetos grandiloquentes com os quais Homero designava certos personagens); e Historinhas malcriadas (em que se encontra a engraçadíssima Apanhei assim mesmo, contando o aperto de um garoto que, para disfarçar o cheiro dos cigarros que fumara escondido, "inteligentemente", lava a boca com pinga...)
Obrigado, Ruth Rocha, por ajudar a fazer do meu trabalho algo mais instigante e criativo!
* A encantadora de crianças. Língua Portuguesa, São Paulo, ano 3, n. 32, p. 12-16, jun. 2008 - Editora Segmento [entrevista concedida a Rachel Bonino]
Conheça o site da artista: http://ww2.uol.com.br/ruthrocha/home.htm
BG de Hoje
Acho meio chato todo esse revival em torno dos anos 1980. Muito programa de rádio, muita festa temática, muitas bandas covers... Já encheu o saco, penso eu. Mas uma canção que não me canso de ouvir - mesmo reproduzida exaustivamente - é Tempos Modernos, de LULU SANTOS; abaixo, na versão acústica para a MTV.