"Todos esses são leitores, e seus gestos, sua arte, o prazer, a responsabilidade e o poder que derivam da leitura, tudo tem muito em comum comigo.
Não estou sozinho".
Alberto Manguel
Num espirituoso apontamento feito nos idos de 1970*, Mario Quintana prognosticou:
"2005
Com
a decadência da arte da leitura, daqui a trinta anos os nossos
romancistas serão reeditados exclusivamente em histórias de
quadrinhos...
A grande consolação é que jamais poderão fazer uma coisa dessas com os poetas.
A poesia é irredutível".
Dois pontos: 1) Quintana chama de arte o ato de ler;
2) A permanência dos longos textos em prosa tem futuro incerto. Será?
Dúvidas à parte, o poeta gaúcho, habilmente, puxa brasa para
sua sardinha...
Meses atrás, reli um magnífico trabalho de Alberto Manguel** e só então compreendendi o quanto suas observações dão alento à sobrevida deste blog. Escreve ele:
"Os leitores são maltratados em pátios de escolas e em vestiários tanto quanto nas repartições do governo e nas prisões. Em quase toda parte, a comunidade de leitores tem uma reputação ambígua que advém de sua autoridade adquirida e de seu poder percebido. Algo na relação entre um leitor e um livro é reconhecido como sábio e frutífero, mas é também visto como desdenhosamente exclusivo e excludente, talvez porque a imagem de um indivíduo enroscado num canto, aparentemente esquecido dos grunhidos do mundo, sugerisse privacidade impenetrável, olhos egoístas e ação dissimulada singular ('saia e vá viver!' dizia minha mãe quando me via lendo, como se minha atividade silenciosa contradissesse seu sentido do que significava estar vivo). O medo popular do que um leitor possa fazer entre as páginas de um livro é semelhante ao medo intemporal que os homens têm do que as mulheres possam fazer em lugares secretos de seus corpos, e do que as bruxas e os alquimistas possam fazer em segredo, atrás de portas trancadas. O marfim, de acordo com Virgílio, é o material de que é feito o Portal dos Sonhos Falsos; segundo Sainte-Beuve, é também o material de que é feita a torre do leitor".
Nesse momento dirijo-me a você, leitor(a) - no sentido pleno do termo -; particularmente, ao(à) leitor(a) de Literatura.
Desde o advento da escrita, formamos uma contraditória confrariazinha:
numas vezes considerada elitista; noutras, simplesmente ignorada.
Prestigiosa em certos tempos; noutros, desprezada.
Busquemo-nos. É o que proponho.
______________
* QUINTANA, Mario. A vaca e o hipogrifo. 3 ed. São Paulo: Globo, 2006
** MANGUEL, Alberto. Um história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 [tradução de Pedro Maia Soares]
BG de Hoje
Isso é que é uma boa letra de música popular: ZECA PAGODINHO, SPC:
"Precisei de roupa nova
Mas sem prova de salário
Combinamos: eu pagava,
Você fez o crediário.
Nosso caso foi pra cova
E a roupa pro armário.
E depois você quis manchar meu nome
dentro do meu metier
Mexeu com a moral de um homem
Vou me vingar de você:
Eu vou sujar seu nome no SPC!"
"Precisei de roupa nova
Mas sem prova de salário
Combinamos: eu pagava,
Você fez o crediário.
Nosso caso foi pra cova
E a roupa pro armário.
E depois você quis manchar meu nome
dentro do meu metier
Mexeu com a moral de um homem
Vou me vingar de você:
Eu vou sujar seu nome no SPC!"