quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poesia: questão de tudo ou nada? (5)

 [Postagem atualizada em 06/12/2023]

 
"Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, [a poesia] ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é a máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!"

Octavio Paz

 
O conhecidíssimo ensaio Poesia e Poema*, de Octavio Paz, é um daqueles textos que a gente lê e relê durante anos e anos. Tem grande poder encantatório. Entretanto, dificilmente nos levará a uma conclusão segura sobre o tema e o objeto nele analisados. Caso de se conjecturar: é o assunto que não permite afirmações peremptórias ou é o poeta mexicano que não quer, esteticamente falando, correr riscos ao posicionar-se, agora na condição de crítico?

Sem me arriscar a responder, por ora,  e atendendo a objetivos colocados para  a série, destacarei 11 passagens do ensaio, apropriadas a meus argumentos. IMPORTANTE: não se deve perder de vista que Octavio Paz escreve tendo por base a concepção de que existe uma "unidade essencial das artes", ou seja, existe um "parentesco" entre a Literatura e a Música, a Literatura e a Pintura, etc. Naturalmente, a discussão dessas passagens será desdobrada em mais de uma postagem. Vamos às duas primeiras:

1) "[...] há poesia sem poemas; paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas. Pois bem, quando a poesia acontece como uma condensação do acaso ou é uma cristalização de poderes e circunstâncias alheios à vontade criadora do poeta, estamos diante do poético. Quando - passivo ou ativo, acordado ou sonâmbulo - o poeta é o fio condutor e transformador da corrente poética, estamos na presença de algo radicalmente distinto: uma obra. Um poema é uma obra".

O poeta como "fio condutor e transformador da corrente poética". Isso até que é bonito. Mas me faz ver o poeta como uma espécie de médium da literatura...

2) "Como nos apoderarmos da poesia, se cada poema se mostra como algo diferente e irredutível?"

De fato, cada poema é algo diferente e irredutível. Talvez pelo fato da própria noção do que seja a poesia escapar das definições limitantes.

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* PAZ, Octavio. Poesia e Poema. In:______________. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992 (p. 15-31) [tradução de Olga Savary]

BG de Hoje

O FAITH NO MORE, na minha opinião, foi  o grupo  que melhor uniu a levada  sacolejante do funk com a porrada vigorosa do heavy metal.  NOTA: Não cito Red Hot Chili Peppers - também ótima banda - porque estes nunca comungaram do "espírito" metaleiro. Pode-se verificar isso ouvindo, por exemplo, The morning after, canção do excelente disco The Real Thing (1989)