[Postagem atualizada em 06/12/2023]
"Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, [a poesia]
ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma:
o poema é a máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua
grandeza de toda obra humana!"
Octavio Paz
O conhecidíssimo ensaio Poesia e Poema*, de Octavio Paz,
é um daqueles textos que a gente lê e relê durante anos e anos. Tem
grande poder encantatório. Entretanto, dificilmente nos levará a uma
conclusão segura sobre o tema e o objeto nele analisados. Caso de se
conjecturar: é o assunto que não permite afirmações peremptórias ou é o
poeta mexicano que não quer, esteticamente falando, correr riscos ao
posicionar-se, agora na condição de crítico?
Sem
me arriscar a responder, por ora, e atendendo a objetivos colocados
para a série, destacarei 11 passagens do ensaio, apropriadas a meus
argumentos. IMPORTANTE: não se deve perder de vista que Octavio Paz escreve tendo por base a concepção de que existe uma "unidade essencial das artes", ou seja, existe um "parentesco" entre a Literatura e a Música, a Literatura e a Pintura, etc. Naturalmente, a discussão dessas passagens será desdobrada em mais de uma postagem. Vamos às duas primeiras:
1) "[...] há poesia sem poemas; paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas. Pois bem, quando a poesia acontece como uma condensação do acaso ou é uma cristalização de poderes e circunstâncias alheios à vontade criadora do poeta, estamos diante do poético. Quando - passivo ou ativo, acordado ou sonâmbulo - o poeta é o fio condutor e transformador da corrente poética, estamos na presença de algo radicalmente distinto: uma obra. Um poema é uma obra".
O poeta como "fio condutor e transformador da corrente poética". Isso até que é bonito. Mas me faz ver o poeta como uma espécie de médium da literatura...
2) "Como nos apoderarmos da poesia, se cada poema se mostra como algo diferente e irredutível?"
De fato, cada poema é algo diferente e irredutível. Talvez pelo fato da própria noção do que seja a poesia escapar das definições limitantes.
______________
* PAZ, Octavio. Poesia e Poema. In:______________. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992 (p. 15-31) [tradução de Olga Savary]
BG de Hoje
O FAITH NO MORE, na minha opinião, foi o grupo que melhor uniu a levada sacolejante do funk com a porrada vigorosa do heavy metal. NOTA: Não cito Red Hot Chili Peppers - também ótima banda - porque estes nunca comungaram do "espírito" metaleiro. Pode-se verificar isso ouvindo, por exemplo, The morning after, canção do excelente disco The Real Thing (1989)