"A revolução é o inverso do existente. É não só virar a página, mas mudar o dicionário".
Joseph Ki-Zerbo
As
notícias sobre a África, nos grandes veículos de comunicação de massa
brasileiros, tratam, geralmente, de dois únicos assuntos: a fauna da
região (de fato, impressionante) ou o persistente estado de guerra em
alguns de seus países. Durante a Copa do Mundo de Futebol deste ano,
disputada na África do Sul, esperava um retrato mais ampliado do
continente. Mas não foi o que vi (nem li) naquele período.
Por isso, considero fundamental a publicação de livros como este que acabei de ler: Para quando a África?*,
resultado de longa entrevista feita com o historiador Joseph Ki-Zerbo.
Nascido no Alto Volta (atual Burkina Fasso ou Burkina Faso), Ki-Zerbo
desempenhou papel relevante nos campos educacional e político em
diversos países africanos, como Senegal e Mali, entre outros. Tendo
feito seus estudos na Sorbonne, o historiador foi dos primeiros, nas
décadas de 1960-1970, a retomar o esforço de produzir, para as ciências
sociais em geral, um conhecimento menos etnocêntrico, até então (e é
necessário que se diga, ainda hoje) dominado por europeus e
norte-americanos. E eis aí outro motivo para a leitura de livros como
esse: dar ouvidos a intelectuais de peso fora do eixo EUA-Comunidade
Europeia.
Joseph Ki-Zerbo procura compreender o atual estágio - econômico, político e cultural - africano a partir de dois eventos que marcaram, de forma profunda e negativa, a história do continente: o tráfico de escravos durante mais de 350 anos e a condição de colônia, consequência das ações imperialistas deflagradas principalmente a partir do século XIX.
Pensador assumidamente de esquerda - crítico do modelo capitalista de desenvolvimento "sugerido" a todos os países (pobres ou ricos) -, o historiador burquinense afirma que
A desigualdade das trocas culturais entre a África e o "mundo desenvolvido"; a desvalorização e a homogeneização linguísticas; as causas das constantes guerras, o papel do Estado e das formas tradicionais de organização política para o fortalecimento das nações; a importância do conceito de identidade. Esses são alguns dos muitos temas discutidos em Para quando a África?. Retomarei parte deles na próxima postagem. Um, no entanto, considero fundamental: a defesa de uma outra ideia do que significa desenvolvimento. Escreve Ki-Zerbo:
* KI-ZERBO, Joseph. Para quando a África? : entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro: Pallas, 2009 [tradução de Carlos Aboim de Brito]
Esta era um banda que eu curtia muito nos anos 1990, quando era um fã xiita do rock pesado: SLAYER. Continuo escutando até hoje, mas sou agora (felizmente, acho) mais aberto a outros gêneros musicais. O nome da canção é Seasons in the abyss.
Joseph Ki-Zerbo procura compreender o atual estágio - econômico, político e cultural - africano a partir de dois eventos que marcaram, de forma profunda e negativa, a história do continente: o tráfico de escravos durante mais de 350 anos e a condição de colônia, consequência das ações imperialistas deflagradas principalmente a partir do século XIX.
Pensador assumidamente de esquerda - crítico do modelo capitalista de desenvolvimento "sugerido" a todos os países (pobres ou ricos) -, o historiador burquinense afirma que
"[...] não se globaliza inocentemente. Penso que dificilmente poderemos ter um lugar na globalização porque fomos desestruturados e deixamos de contar como seres coletivos. Se você comparar o papel da África e dos Estados Unidos, verá os dois pólos da situação na globalização: os globalizadores, que são os Estados Unidos, e os globalizados, que são os africanos. Não sei de que lado você se situa; quanto a mim, eu sei que sou um globalizado. A África, como continente, situa-se mais nesta categoria, porque é uma questão de relação de forças. É a questão de saber se somos sujeitos da história, se estamos aqui para desempenhar um papel na peça de teatro. Na realidade, não há peça onde só há atores principais. Também deve haver figurantes, isto é, como utensílios e segundas figuras para por em destaque os papéis dos protagonistas".
A desigualdade das trocas culturais entre a África e o "mundo desenvolvido"; a desvalorização e a homogeneização linguísticas; as causas das constantes guerras, o papel do Estado e das formas tradicionais de organização política para o fortalecimento das nações; a importância do conceito de identidade. Esses são alguns dos muitos temas discutidos em Para quando a África?. Retomarei parte deles na próxima postagem. Um, no entanto, considero fundamental: a defesa de uma outra ideia do que significa desenvolvimento. Escreve Ki-Zerbo:
"[...] é necessário tomar a decisão de reconhecer que é difícil classificar países pelo nível de desenvolvimento. É certo que a Ciência postula, exige mesmo a quantificação. Mas as coisas requintadas, refinadas, são realizadas em muitos países pobres do mundo. Pense na cozinha, no vestuário, no artesanato, na arte ou, ainda, na delicadeza e no refinamento das expressões de certas línguas: são coisas que tornam o homem perfeito, no plano humanista, mas que não podem ser tomadas em consideração na identificação ou na classificação do desenvolvimento".
* KI-ZERBO, Joseph. Para quando a África? : entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro: Pallas, 2009 [tradução de Carlos Aboim de Brito]
BG de Hoje
Esta era um banda que eu curtia muito nos anos 1990, quando era um fã xiita do rock pesado: SLAYER. Continuo escutando até hoje, mas sou agora (felizmente, acho) mais aberto a outros gêneros musicais. O nome da canção é Seasons in the abyss.