(Adriana Falcão)
"Doze anos, oito meses e quinze dias é o tempo que se leva para dar a volta ao mundo procurando uma pessoa".
Luna Clara & Apolo Onze - Adriana Falcão.
Outras duas excelentes obras voltadas para o público infanto-juvenil lidas recentemente foram Luna Clara & Apolo Onze* e Reis, viajantes e vampiros: aventuras ao redor do mundo**.
A escritora Adriana Falcão já havia lançado, em 2001, um ótimo livro para crianças: Mania de explicação (premiado pela FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). Luna Clara & Apolo Onze, publicado logo depois, mantém o bom humor característico da autora. Mas também chamaram minha atenção neste livro as criativas alterações no tempo narrativo e as mudanças ligeiras de cena, destacando ora um, ora outro personagem (ou grupo de personagens). Aliás, a profusão destes anima e tonifica o texto. Adriana Falcão foge da linearidade pouco imaginativa que costuma afetar alguns livros escritos para crianças e adolescentes.
Luna Clara & Apolo Onze, entre outras coisas, fala do poder exercido em nossas vidas pelas coincidências (ação do acaso ou do destino, pouco importa). Nesse aspecto, é preciso atentar para o papel de certas velhinhas surgidas na narrativa (mas não vou revelar o segredo delas para não tirar o prazer do possível leitor).
Exemplos do bom humor do texto? Observe esta explicação do culto papagaio Pilhério, personagem do livro:
" - Por favor, Pilhério, o que vem a ser eufemismo?
- É o ato de suavizar uma ideia substituindo a palavra ou expressão por outra mais agradável, mais polida.
- Fiquei na mesma.
- Eufemismo é em vez de se dizer que você é uma burra completa, dizer apenas que você é um pouco desprovida de inteligência, sua burra completa! - ele simplificava!"
Repare agora nesta tentativa de metaforização:
"A ponte oscilava de um lado para o outro como um pêndulo furioso, explicando melhor, como uma colher de pau batendo um bolo, explicando melhor ainda, como uma ponte frágil, feita de cordas e troncos balangando de um lado para o outro debaixo de uma tempestade".
Ou ainda as muitas "Nossas Senhoras" invocadas ao longo da história. Uma pequena mostra: Nossa Senhora do Falta Bem Pouquinho, Nossa Senhora do Preciso Urgentemente de Uma Boa Notícia, Nossa Senhora dos Amigos que Precisam da Gente, Nossa Senhora do Que é Que Eu Faço...
É para ler e curtir.
Reis, viajantes e vampiros é de Lia Neiva, escritora habilidosíssima, que tem o saudável hábito de respeitar a inteligência das crianças e dos jovens para os quais escreve.
Neste livro, Neiva trata da(s) narrativa(s) por detrás das narrativas.
Dizendo de outro modo: a autora relata os antecedentes históricos e o
contexto cultural e geográfico relacionado a grandes obras da ficção
universal, valendo-se de cinco personagens legendários: Robinson Crusoé, Rei Arthur, Drácula, o Máscara de Ferro e Simbad, O Marujo. "Conduzido
pela prosa cativante e bem construída de Lia Neiva, o leitor atravessa
diferentes períodos da História e da Literatura", como observa Maria Elizabeth Graça de Vasconcellos, no prefácio do livro.
Em minha opinião, entre os muitos méritos de Reis, viajantes e vampiros, destacaria dois deles: 1) o postscriptum ao final de cada capítulo, trazendo dados complementares e curiosidades relacionadas a cada uma das narrativas; 2) a maneira competente como a autora ajuda a qualificar as leituras do público jovem, uma vez que este trabalho de Lia Neiva é também um exercício de crítica literária.
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A escritora Adriana Falcão já havia lançado, em 2001, um ótimo livro para crianças: Mania de explicação (premiado pela FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). Luna Clara & Apolo Onze, publicado logo depois, mantém o bom humor característico da autora. Mas também chamaram minha atenção neste livro as criativas alterações no tempo narrativo e as mudanças ligeiras de cena, destacando ora um, ora outro personagem (ou grupo de personagens). Aliás, a profusão destes anima e tonifica o texto. Adriana Falcão foge da linearidade pouco imaginativa que costuma afetar alguns livros escritos para crianças e adolescentes.
Luna Clara & Apolo Onze, entre outras coisas, fala do poder exercido em nossas vidas pelas coincidências (ação do acaso ou do destino, pouco importa). Nesse aspecto, é preciso atentar para o papel de certas velhinhas surgidas na narrativa (mas não vou revelar o segredo delas para não tirar o prazer do possível leitor).
Exemplos do bom humor do texto? Observe esta explicação do culto papagaio Pilhério, personagem do livro:
" - Por favor, Pilhério, o que vem a ser eufemismo?
- É o ato de suavizar uma ideia substituindo a palavra ou expressão por outra mais agradável, mais polida.
- Fiquei na mesma.
- Eufemismo é em vez de se dizer que você é uma burra completa, dizer apenas que você é um pouco desprovida de inteligência, sua burra completa! - ele simplificava!"
Repare agora nesta tentativa de metaforização:
"A ponte oscilava de um lado para o outro como um pêndulo furioso, explicando melhor, como uma colher de pau batendo um bolo, explicando melhor ainda, como uma ponte frágil, feita de cordas e troncos balangando de um lado para o outro debaixo de uma tempestade".
Ou ainda as muitas "Nossas Senhoras" invocadas ao longo da história. Uma pequena mostra: Nossa Senhora do Falta Bem Pouquinho, Nossa Senhora do Preciso Urgentemente de Uma Boa Notícia, Nossa Senhora dos Amigos que Precisam da Gente, Nossa Senhora do Que é Que Eu Faço...
É para ler e curtir.
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Reis, viajantes e vampiros é de Lia Neiva, escritora habilidosíssima, que tem o saudável hábito de respeitar a inteligência das crianças e dos jovens para os quais escreve.
Em minha opinião, entre os muitos méritos de Reis, viajantes e vampiros, destacaria dois deles: 1) o postscriptum ao final de cada capítulo, trazendo dados complementares e curiosidades relacionadas a cada uma das narrativas; 2) a maneira competente como a autora ajuda a qualificar as leituras do público jovem, uma vez que este trabalho de Lia Neiva é também um exercício de crítica literária.
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* FALCÃO, Adriana. Luna Clara & Apolo Onze. 2 ed. São Paulo: Salamandra, 2006 [ ilustrações de José Carlos Lollo]
** NEIVA, Lia. Reis, viajantes e vampiros: aventuras ao redor do mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008 [ilustrações de Iuri Lioi]
BG de Hoje
O Brasil tem tantas ótimas cantoras (e compositoras) que fica difícil destacar algumas delas. CÉU é uma das que mais gosto. Abaixo, Malemolência, apresentada no indispensável programa Ensaio, da TV Cultura.