sexta-feira, 3 de maio de 2024

Falou e disse...

"Alguém já disse que a única coisa que cresce indefinidamente é o câncer. E os urbanistas, aqueles que amam as cidades, que gostam de lamber os muros da cidade, devem ficar horrorizados quando digo que as cidades estão crescendo como um tumor no corpo da Terra. Como vamos curar a Terra com essa praga das cidades expandindo-se de maneira inconsequente e indiferente ao fato de estarem plasmando o corpo da Terra dessa matéria manipulada por nós, o asfalto, as lajes, o piso e todas essas coisas que querem nos isolar do corpo da Terra, como se estivéssemos produzindo um nojo da Terra, isolados da terra? Talvez seja por isso que alguns idiotas estão querendo arrumar um foguete e ir para Marte, estabelecer-se em Marte, porque o nojo da Terra já se desenvolveu a ponto de essas pessoas não suportarem mais a atmosfera terrestre e quererem viver em outro planeta. Vi uma planta de uma espécie de assentamento em Marte, uma coisa totalmente futurista , 'super-hiper', sugerida como um equipamento capaz de se autorregular com o clima. Obviamente caberão meia dúzia de pessoas, enquanto o resto morrerá em algum lugar por aqui onde a vida não vale nada, e que se dane o planeta Terra". *

 

* KRENAK, Ailton. Saiam desse pesadelo de concreto! In: Habitar o Antropoceno/ organizado por Gabriela Moulin, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado. Belo Horizonte: BDMG Cultural/Cosmópolis, 2022. p. 216-217