"Livros: tocá-los. Fazer fluir a mão, distraída e dúctil no deslizar das páginas. Excursionar entre palavras, iluminá-las com o facho da inteligência, sem, com isso, deixar de reconhecer o que nelas resiste como opacidade visceral ao trânsito de sentidos. Falar de literatura é, desejavelmente, caminhar além do rosto visível do discurso alheio, e, ao mesmo tempo, aquém do resto indizível que a ele subjaz. Percorrer, em suma, o fio estreito da fala criadora, que simultaneamente nos convoca à palavra crítica e nos malogra, ao apontar sempre para um horizonte outro e mais amplo, do qual, a duras penas (e a frias teclas) mal conseguimos nos abeirar. Por isso, a palavra crítica é vocacionada para a insistência e a repetição, à espera da paciente brecha, onde, subitamente, ver de novo se transforme em ver o novo". *
* SECCHIN, Antonio Carlos. A mão e os livros. In: __________. Escritos sobre poesia & alguma ficção. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003. p. 281-282