sexta-feira, 29 de julho de 2016

Língua, comunicação, identidade


Antes de começar a tratar propriamente do assunto da postagem de hoje, peço a atenção do(a) eventual leitor(a) para o trecho abaixo, que inicia o capítulo 17 do ótimo romance Americanah*, de Chimamanda Ngozi Adichie, relido nos meus últimos dias de recesso do trabalho durante este mês de julho:

"Ifemelu decidiu parar de fingir que tinha sotaque americano num dia ensolarado de julho, no mesmo dia em que conheceu Blaine. Era um sotaque convincente. Ela o aperfeiçoara, ouvindo com cuidado amigos e apresentadores de noticiário, a contração do tê, o enrolado profundo do erre, as frases começando com 'então' [deduzo que a tradutora esteja se referindo a palavra 'so'] e a resposta fácil, 'é mesmo?' ['really?'], mas o sotaque tinha rachaduras, era consciente, precisava ser lembrado. Exigia um esforço, o lábio retorcido, os volteios da língua. Se Ifemelu estivesse em pânico, apavorada, ou se fosse acordada de supetão no meio de um incêndio, não ia lembrar como produzir aqueles sons americanos. Por isso, resolveu parar naquele dia de verão, no fim de semana do aniversário de Dike. Sua decisão foi tomada devido a uma ligação de telemarketing".

Caso você não tenha lido o livro convém informar que Ifemelu, jovem nigeriana, estudante (nesse momento da narrativa), é a protagonista; Blaine é um professor universitário norte-americano (mais adiante, será namorado de Ifemelu); e Dike é o primo da personagem central, que a trata quase como tia ou irmã mais velha.

Um dos vários temas de Americanah é a situação do imigrante e suas estratégias de adaptação a um país que não é o seu. No capítulo 14, já havíamos conhecido uma personagem secundária bastante antipática, Cristina Tomas. Funcionária da universidade Wellson (pseudônimo para a Drexel University, como vim a saber depois), instituição de ensino para onde Ifemelu se encaminhou ao sair da Nigéria, Cristina Tomas trata a jovem estudante africana com condescendência e um certo desprezo por presumir que ela não falasse inglês (não custa lembrar que o inglês é a língua oficial da Nigéria, ensinada nas escolas, embora o igbo, o iourubá, o hausá e outros idiomas nativos continuem sendo usados naturalmente pela população). Ifemelu fica desconcertada:

"[...] antes de pegar os formulários, ela se encolheu. Como uma folha seca. Falava inglês desde pequena, fora a capitã da equipe de debate no ensino médio e sempre achara a pronúncia anasalada dos americanos um pouco rudimentar; não devia ter se acovardado e encolhido, mas o fez. E, nas semanas seguintes, conforme o frio do outono ia surgindo, começou a treinar um sotaque americano"

Posteriormente, entretanto, como vimos, ela acaba decidindo "parar de fingir". Recebe uma banal ligação de telemarketing. Não encerra logo a chamada, como habitualmente faria, pois algo na voz do rapaz do outro lado manteve-a na conversa. Sentiu "uma estranha pena dele" - quem sabe por ser o telemarketing uma das piores ocupações no atual estágio da economia capitalista... "Talvez fosse seu primeiro dia no emprego e ele estivesse com o fone machucando-lhe o ouvido enquanto trabalhava, sentindo a vaga esperança de que as pessoas pra quem ligava não estivessem em casa". A conversa prossegue, negociam tarifas de ligações internacionais. Ao saber que Ifemelu estava há apenas três anos nos Estados Unidos, o rapaz diz, em tom de elogio: "Uau. Legal. Você parece uma americana falando". É quando a personagem percebe o que se passa:

"Só depois de desligar Ifemelu começou a sentir a mácula de uma vergonha crescente se espalhando sobre ela, por ter agradecido ao rapaz, por ter transformado as palavras dele, 'Você parece uma americana falando', numa guirlanda que pôs em volta do próprio pescoço. Por que era um elogio, uma realização, soar como um americano? Ifemelu tinha ganhado; Cristina Tomas, a branca Cristina Tomas sob cujo olhar se encolhera como um pequeno animal derrotado, falaria normalmente com ela agora. Tinha ganhado de fato, mas seu triunfo era vazio. Sua vitória efêmera havia criado um enorme espaço oco, porque ela assumira, por tempo demais, um tom de voz e uma maneira de agir que não eram seus. Assim, ela acabou de comer os ovos e decidiu parar de fingir que tinha sotaque americano".


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É difícil não admitir o poderio econômico e militar dos Estados Unidos (ainda que em declínio nas últimas décadas), como também é tarefa árdua negar a imensa influência cultural - sobretudo por meio do entretenimento, do cinema e da música - exercida pelos norte-americanos. Que fique claro: não estou enaltecendo tal estado de coisas, muito menos exaltando-o; trata-se apenas de reconhecê-lo. Assim sendo, é bastante compreensível que a língua inglesa, na atualidade, possa ser considerada, inequivocamente, lingua franca (como foram o grego e, principalmente, o latim, durante séculos, e ainda é o caso do suaíli e do árabe, hoje, em certas partes do mundo). O estabelecimento de uma lingua franca está, como se pode intuir facilmente, ligado a razões comerciais e diplomáticas, mas, infelizmente, o idioma a ser usado não passa pela escolha dos povos em contato (basta ver o fracasso de uma língua internacional de contato planejada, como é o caso do esperanto). Um certo idioma impõe-se em determinada época - muito em função do poder ou do prestígio do país/nação que o utiliza - e os indivíduos e instituições passam a adotá-lo como instrumento de comunicação possível entre falantes de línguas diversas. Como já disse, o inglês exerce tal papel na atualidade, especialmente no mundo ocidental, goste-se ou não.

No entanto, a situação torna-se angustiante e desconfortável, muitas vezes, porque o uso de um idioma que julgamos não nos pertencer (ou, no caso de Ifemelu, que nos soa ensaiado, pouco natural) mexe com nossa identidade. As pessoas desejam reconhecer-se nas línguas que falam. Por isso é tão dramática a situação de milhares de comunidades mundo afora que veem o número de falantes de suas respectivas línguas morrerem sem que seu patrimônio linguístico seja repassado ou preservado (o Brasil é um dos locais em que isso acontece). Por outro lado, poucas coisas são tão prazerosas quanto transitar - seja como simples usuário ou como estudioso - pelos diversos registros de um idioma: culto ou popular, escrito ou falado, notando as diferenças regionais e as variações dialetais.

O problema é que, num mundo intensamente globalizado, somos cada vez mais tangidos para um certo tipo de "nova ordem mundial comunicacional" (na esteira da web e das tics) na qual o inglês americano (não o britânico, australiano ou aquele falado na Índia ou em países africanos) coloca-se como a força dominante, pouco disposta a abrir brecha para outro idioma (embora, no futuro, o árabe e, principalmente, o mandariam possam estar nessa posição). Tudo isso nos leva a pensar em como agir, linguisticamente falando, no atual cenário. Este blogueiro já definiu sua tática - pelo menos com relação ao uso do inglês americano. Mas isso é assunto para outra postagem (a ser publicada em breve, espero).

* ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Americanah. São Paulo: Companhia das Letras, 2014 [Tradução de Julia Romeu]

BG de Hoje

Voltar ao trabalho é sempre uma grandessíssima m...! Por isso preciso reunir forças (não sei de onde). Ajuda ouvir músicas que nos fazem sentir bem. Embora meus "dias de cão" estejam longe de acabar (se é que acabarão um dia), esta canção de FLORENCE + THE MACHINE sempre me anima: Dog Days Are Over.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Continuo sendo um babaca (mas já fui bem pior)



Há certos trechos de Grande sertão: veredas que são exaustivamente citados e, assim tão repetidos, acabam por se tornar clichês, perdendo muito do encantamento inicial. Quer um exemplo?

"O senhor... mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra de montão".

Mesmo desgastado pela repetição, o trecho acima ainda me leva a refletir sobre muitas coisas (afinal, Guimarães Rosa será sempre Guimarães Rosa). Não estamos condenados a mantermos as mesmas velhas visões de mundo, a carregarmos os inexplicáveis preconceitos e opiniões que sempre tivemos e aos quais nos acostumamos preguiçosamente. Somos livres - ao menos sob certas circunstâncias - para mudarmos nosso modo de pensar e agir; devemos fazê-lo, inclusive, em muitas situações, para que novos compromissos éticos sejam firmados - "as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando". Ser um indivíduo mais sábio depende do modo como damos acabamento ao eu que queremos apresentar ao mundo, o quanto conseguimos afinar em meio a tanta desafinação.

O parágrafo anterior não difere da autoajuda barata, admito. Não quer dizer, entretanto, que eu esteja necessariamente mentindo. Falei sobre o eu que se quer apresentar ao mundo e não posso deixar de pensar nessa forma contemporânea de construção da subjetividade que são as ditas mídias sociais. Já insisti aqui no blog em outras oportunidades que nos Facebooks, Twitters, Instagrams e Snapchats da vida estamos lidando, a maior parte do tempo, com um perfil e não com uma pessoa. Nesse perfil, o indivíduo publica algo de si, sem dúvida, mas seleciona, em geral, somente aquilo que o deixa bem na fita. Por isso, não costumo confiar em perfis na web. Além do narcisismo e da autorreferência sufocantes que os caracterizam, eles omitem muito da babaquice de que fomos (e, na maioria dos casos, ainda somos) feitos.

Em geral, alinho-me a causas progressistas, humanistas e "do bem" (argh, como odeio essa expressão!). E posso às vezes dar a impressão de que sou culto e intelectualmente bem aparelhado. Tudo bobagem! Este é o perfil que tento projeto na web. É altamente provável que, no fundo, permaneça sendo um indivíduo desprezível (como boa parte dos sujeitos que conheço pessoalmente, aliás).

Mas se "as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas", creio valer a pena não ser mais aquele cara que (e eis uma pequena amostra do merda que já fui)

  • contou piadas racistas, machistas e homofóbicas sem se dar conta do mal que estava fazendo
  • endossou discursos de ódio dirigidos a gays, lésbicas e transgêneros
  • já tentou justificar, por rancor pessoal, discursos misóginos e sexistas
  • já foi um leitor preguiçoso e desleixado (e ainda hoje tem grande resistência na hora de largar a TV para pegar um livro)
  • alvo de bullying nalgumas ocasiões, não deixou, contudo, de praticá-lo impiedosamente também durante parte da infância e da adolescência
  • já disse grosserias para mulheres na rua porque acreditava que "homem que é homem tem que fazer isso"
  • já colecionou a revista Playboy, um símbolo da objetificação da mulher (e ainda não conseguiu se livrar totalmente do hábito nefasto de olhar as mulheres como objetos algumas vezes)
  • já pré-julgou grupos de jovens negros como "arruaceiros" e "marginais" sem que eles fizessem nada de errado, mesmo sendo negro ele(eu) próprio
  • já votou em péssimos candidatos, por desinformação e baixa preocupação com a coletividade
  • já achou graça em programas do tipo Pânico
  • já se recusou a pelo menos repensar seu consumo de carne
(E paro por aqui porque a vergonha me impede de dizer mais)

Definitivamente, não quero mais ser esse cara. Embora (pessimista crônico) não acredite mais na viabilidade da espécie humana e não ache que nos tornaremos seres melhores algum dia, pretendo ao menos combater minha babaquice interior enquanto eu puder.

BG de Hoje

Pessoas de minha geração (nascidos nos anos 1970 e que viveram a maior parte de sua adolescência na década seguinte) têm alguns surtos nostálgicos que me dão nos nervos às vezes. Estranhamente, contudo, acabei tendo um desses hoje, ao lembrar desta faixa Talking in your sleep, da banda one-hit-wonder THE ROMANTICS. Como eu gosto dessa música (e como ela me lembra coisas legais)!


sábado, 16 de julho de 2016

Falou e disse...

"Na especulação é, contudo, um destino habitual da razão humana concluir o quanto antes seu edifício e apenas depois investigar se seu fundamento está bem assentado". *

* KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 57 [Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger]

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Não se pode esquecer que somos seres de linguagem: discutindo o politicamente correto


Estamos cercados de não-leitores (anti-leitores, diria até). Numa situação tal, difundir Filosofia através de textos é tarefa inglória. Deve ser por isso, talvez, que encontramos na atualidade tanta pop philosophy, com representantes em solo brasileiro, inclusive: Mario Sergio Cortella, Viviane Mosé, Luiz Felipe Pondé, entre outros. Márcia Tiburi, cujo trabalho, diferentemente dos citados, me interessa e agrada (mas que eu incluiria nessa categoria sem hesitação), publicou um manifesto a respeito dessa modalidade de filosofia na revista Cult, um tempinho atrás (disponível aqui). Além disso, a autora lançou em 2011 um livro cujo título é justamente Filosofia Pop.

Independentemente do posicionamento assumido (ou não) dentro do espectro político-ideológico, todos os pop thinkers - chamemo-los assim, sem qualquer intenção depreciativa - tornam flagrante aquela característica de trabalho menos admitida pelos filósofos quando descrevem a si mesmos: a de serem os grandes palpiteiros profissionais no universo da intelectualidade (calma, pessoal: é só uma provocaçãozinha). Isso pode explicar a considerável presença de alguns deles nos meios de comunicação de massa e/ou nas mídias sociais da Internet, sobretudo através de registros em vídeo (e nota-se claramente que alguns/algumas têm maior talento oratório e performático do que outros/as). 

Uma "tarefa" frequente dos pop thinkers é aliviar o esforço de leitura daquele indivíduo motivado para a Filosofia (raro até entre os poucos ainda leitores) mas não tanto a ponto de encarar as páginas e páginas de uma fonte primária, original (seja esta um texto de Aristóteles, Descartes, Husserl ou qualquer outro pensador clássico/canônico) ou mesmo algumas linhas que sejam de obras elaboradas por comentadores e especialistas em determinado filósofo ou tópico da área.

O mundo de Sofia, do norueguês Jostein Gaarder, é provavelmente o mais conhecido livro de pop philosophy publicado nas últimas décadas (embora muitos talvez não deem a ele essa rotulação) NOTA¹: Gosto desse livro. De gênero completamente diverso do romance de Gaarder - mas pertencente à mesma linha pop - estão as compilações organizadas pelo norte-americano William Irwin, tais como Seinfeld e a Filosofia: um livro sobre Tudo e Nada, Os Simpsons e a Filosofia: o D'oh! de Homer e Matrix: bem-vindo ao deserto do real (gosto do último, mas não tanto dos dois primeiros). NOTA²: Vale muito a pena ler o ótimo artigo de John Shelton Lawrence, Pop Culture 'and Philosophy' books, publicado em 2007 na revista Philosophy Now (disponível aqui, em inglês). No texto, o autor se pergunta sobre a validade ou não deste tipo de publicação para a difusão do entendimento filosófico.  Na França, alguns livros de Luc Ferry (excelente escritor, diga-se de passagem) e André Comte-Sponville são claramente pop philosophy. Isso sem falar em praticamente todos os trabalhos água-com-açúcar lançados pelo suíço Alain de Botton. Ah, e vale acrescentar alguns escritos de Slavoj Zizek... Incluirei também na linha pop o livro do catalão Xavier Rubert de Ventós, Deus, entre outros inconvenientes*.

Embora afirme não pretender fazer "uma crônica do nosso tempo", Rubert de Ventós acaba por reunir em sua publicação uma série de... crônicas (não consigo achar outro termo para classificar o gênero textual empregado pelo autor nessa publicação)**, abordando temas variados -     dos desafios éticos da
biotecnologia à programação televisiva, dos percalços da democracia às vicissitudes da moda no vestuário - e recorrendo, ligeira e competentemente, a pensadores como Kierkegaard, Nietzsche, Hegel, Pascal, Rousseau, Kant, Wittgenstein e figuras do período helenístico (entre outros).

No cômputo geral, entretanto, considero Deus, entre outros inconvenientes um livro com mais contras do que prós - a despeito de minha simpatia com o ateísmo do autor, motivo, aliás, que me levou a comprar o título há três anos. De todo modo, um texto ali - Ser politicamente (e esteticamente) correto - servirá de base para a discussão da postagem de hoje.

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Após argumentar que o fenômeno da correção política foi uma "invenção" norte-americana vista de maneira desdenhosa pelos europeus (como várias coisas provenientes dos EUA), Rubert de Ventós considera que não se trata, contudo, apenas de uma "maquiagem" usada para encobrir os verdadeiros conflitos e desigualdades. Segundo o catalão,

"[...] os estudos modernos de 'longa duração' [das ciências sociais] revelaram que muitos fenômenos que víamos como inscritos na natureza humana não são senão obra sua; o lento produto do enfrentamento e adaptação de uma espécie a seu ambiente. E também que as características ou funções atribuídas a homens ou mulheres, adolescentes ou doentes, judeus ou estrangeiros são uma construção que hoje nos permite falar de uma 'história natural' da infância, da morte, da homossexualidade, etc,"

Ou seja, grande parte dos atributos que "identificamos" nos indivíduos ou grupos de indivíduos tem origem histórica, não são inatos; foram construídos, moldados, pré-concebidos. Tudo isso ficará inscrito na cultura, graças a ação dos grupos dominadores, com evidentes reflexos na linguagem, obviamente. 

"Vista dessa perspectiva" - prossegue Rubert de Ventós - "a ação de lutar tanto pela contratação (discriminação positiva para minorias) como pela designação (linguagem politicamente correta) dos grupos marginais ou minoritários não parece mais que uma tímida tentativa de amenizar ou compensar a desigualdade de oportunidades de que eles partem. Reconhece-se com isso pelo menos que o passado foi construído em boa medida às suas custas e que a própria linguagem com que são nomeados serve para reforçar e perpetuar essa condição. 'A maravilha da linguagem', dizia Merleau-Ponty, 'é que se faz esquecer por trás do dito'. Essa é sua maravilha, de fato, e esse é também seu maior perigo: o de nos levar a tomar as palavras pelas coisas - ou as definições por meras e assépticas definições".

Discordo do autor quando usa a expressão discriminação positiva; prefiro pensar em reparação histórica (uma vez que o próprio filosofo admite que se trata de reconhecer que "o passado foi construído em boa medida às custas" dos grupos marginalizados/minoritários). Seriam as atitudes politicamente corretas, de fato, apenas uma "tímida tentativa"? Deixo essa questão em aberto. Pensemos agora noutro aspecto bastante discutido quando o assunto é o chamado politicamente correto: o humor e a atividade humorística.

Em sua Carta aberta aos humoristas do Brasil, Alex Castro (também conhecido como Xandelon, foi colaborador da extinta revista MAD, em sua edição brasileira) afirma que muitos comediantes e profissionais ligados ao humor costumam reclamar de uma patrulha, isto é, certa vigilância que os impediria de fazer o que fazem, configurando até uma restrição para a liberdade de expressão. Castro observa que 

"Torcer o nariz para as piadas racistas, homofóbicas ou machistas não é 'patrulha': é o público exercendo pacificamente sua liberdade de expressão de considerar babaca uma pessoa que faça piadas racistas, homofóbicas ou machistas. Esses pobres humoristas 'perseguidos' que reclamam da 'patrulha politicamente correta' não estão defendendo a liberdade de expressão: liberdade de expressão de verdade é comediantes poderem fazer piada sobre mulheres estupradas e nós podermos fazer críticas severas a isso. Na verdade, a liberdade que querem essas pessoas paladinas do 'politicamente incorreto' é a liberdade de falar os maiores absurdos sem nunca sofrerem críticas. Aí é fácil, né?"

As pessoas precisam assumir responsabilidade não só pelo que fazem, mas também pelo que dizem. Somos, essencialmente, seres de linguagem. Portanto, palavras não são "só" palavras; seu uso produz consequências. Foi-se o tempo, felizmente, em que alguém podia chamar, só "de brincadeirinha" outro alguém de macaco, fazer graça com uma mulher agredida, dizer que "esses viados precisam é de porrada" e esperar que todo mundo ache divertido ou simplesmente engula o sapo sem reclamar. 

Alex Castro, a meu ver, é certeiro quando diz: "não existe piada inofensiva: se alguém gargalhou é porque alguém se deu mal". Mas "a questão é: quem se dá mal nessa piada?". Fazer piada com os alvos de sempre - homossexuais, mulheres, negros, pobres -, além de revelar falta de criatividade, é reforçar preconceitos e discriminações por meio da linguagem. É adular a opressão. Por isso, Castro aconselha: "façam graça das pessoas que agridem, não das que são agredidas". Voltemos à crônica da qual falávamos.

É importante ressaltar que Rubert de Ventós também incluiu em seu texto reflexões sobre a discriminação que ocorre em relação à aparência dos indivíduos (é preciso ter isso em mente para compreender melhor o excerto abaixo):

"O dogma liberal desejaria que a aparência e outros fatores genéticos não tivessem influência decisiva na vida dos indivíduos. 'A ideia implícita que existe em nossa sociedade', dizia E. Bescherd, 'é de que vivemos num mundo onde cada qual recebe aquilo que merece'. A face obscura dessa ideia é a convicção de que, se nos coube a desgraça ou a miséria, algo fizemos para merecê-la, já que o ponto de partida era igual para todos. Essa é a crença liberal que culpa o desgraçado por suas desgraças ao mesmo tempo em que exime o agraciado ou privilegiado de qualquer responsabilidade para com os outros. Vem daí a tese que expus neste capítulo, que resumo agora em três pontos: 1) contra a desigualdade social de oportunidades é preciso lutar; 2) com a desigualdade de oportunidades físicas ou psíquicas é preciso, além disso, aprender a contar; e 3) diante da desigualdade sancionada pelos usos e pela própria linguagem é preciso compensar seus efeitos, embora até agora não se tenha inventado um expediente mais eficaz que a 'discriminação positiva' nem nada menos brega que o 'politicamente correto' ".

Deixando de lado o qualificativo brega adotado acima, há que se destacar duas coisas importantes nessa passagem. Primeiramente, a advertência, correta a meu ver, acerca da falácia do discurso meritocrático (principalmente quando se pensa em nações tão desiguais, socioeconomicamente falando; ora, deveria ser evidente para todos que o desgraçado, em grande parte dos casos, não pode ser culpado por sua desgraça e que o privilegiado precisa ter consciência de seus privilégios). E, segundo, a constatação de que nossos usos da linguagem sancionam situações de desigualdade.

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O(a) eventual leitor(a) pode não ter entendido o porquê da primeira seção desta postagem - tratando do reduzido número de leitores na sociedade e da filosofia pop -, já que o assunto central aqui é outro (o chamado politicamente correto). Convém explicar.

Uma de minhas constantes preocupações (e não apenas pelo lado profissional) é com a baixíssima atividade de leitura imersiva entre as pessoas de um modo geral (para saber do que estou falando, clique aqui). Determinados tipos de texto - como a literatura mais sofisticada/de vanguarda e o discurso filosófico, por exemplo - são mais difíceis de circular entre (e serem assimilados por) um público não-restrito (ou seja, não-elitizado). Como contornar essa situação (caso seja importante ou desejável fazê-lo, claro)?

Talvez uma alternativa possível, no caso da Filosofia, pelo menos, seja a publicação de livros "mais leves" (e um exemplo seria o próprio Deus, entre outros inconvenientes).

Mas não é simples produzir (bons) textos de conteúdo filosófico com essa característica (a "leveza"). A propósito, há uma crônica excelente a esse respeito no livro de Rubert de Ventós. Em Passar as ideias a ferro, o filósofo espanhol relata algumas das dificuldades de se escrever artigos que não compliquem a leitura, dificuldades surgidas sobretudo para "nós, para quem sempre falta um último remate, cujas sinapses se cruzam e cujas ideias se multiplicam, ramificam e complicam como um conto de Arce".

Noutra oportunidade falarei mais dessa crônica.
__________
* RUBERT DE VENTÓS, Xavier. Deus, entre outros inconvenientes. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011 [Tradução de Eliana Aguiar]

** Acho que o termo ensaio não seria adequado para descrever o tipo de texto encontrado na maioria dos escritos do autor nesse livro.

BG de Hoje

Num momento em que a legitimidade das ações policiais (dada a violência e o viés racista manifestado nelas) está sendo questionada em várias partes do mundo (no Brasil e nos EUA, de forma mais aguda nos últimos anos), é no mínimo estranho que o blogueiro use como BG uma canção que homenageia um dos heróis mais sinistros dos quadrinhos, o juiz Dredd. Estou falando de I Am The Law, do ANTHRAX, faixa que faz parte do ótimo disco Among The Living (gravado em 1987 e que eu ouvi quase até furar). Mas quando eu era garoto (e aposto ter sido assim também com os caras do Anthrax), aquela história nos interessava simplesmente como narrativa de ação e aventura. O juiz-policial-carrasco foi adaptado para o cinema em duas oportunidades: uma vez na década de 1990, com Sylvester Stallone no papel principal (é uma bosta!), e mais recentemente, em 2012, num bom filme protagonizado por Karl Urban (na apresentação abaixo, há um cara no palco fantasiado como o Dredd desta última adaptação cinematográfica).


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Esse tal de paradigma...


Algo une gurus de autoajuda a profissionais do entretenimento; jornalistas encanecidos a youtubers imberbes; líderes sindicais a marqueteiros da moda: o (ab)uso da palavra paradigma. É mudança de paradigma pra cá, quebra de paradigma pra lá... Como todo chavão, torna-se oco, esvaziado de sentido com o passar do tempo.

O Dicionário Houaiss* nos dá três acepções para o termo. As duas últimas referem-se a usos em contextos bem delimitados (na gramática e na linguística estrutural) e não vem ao caso agora. Vamos à primeira, então: "um exemplo que serve como modelo, padrão". O verbete nos fornece também a etimologia: vem do grego parádeigma, significando, justamente, modelo, exemplo. Por que, então (diabos me carreguem!), ao invés de dizer simplesmente "modelo", "padrão" ou "exemplo", tanta gente faz questão de soltar logo um "paradigma"? Tem a ver, claro, com exibicionismo discursivo. Entretanto, deixarei isso para um outro momento da postagem.

Paradigma fez (e ainda faz) parte do jargão acadêmico em algumas áreas. Difundiu-se a partir dos anos 1960-70 graças, principalmente, a um livro surpreendentemente agradável de se ler, a despeito de seus temas interessarem mais a um público restrito e intelectualizado: A estrutura das revoluções científicas, de Thomas S. Kuhn** (mas nem por isso se tornou um best-seller, convenhamos).

O físico e ensaísta norte-americano propôs em seu livro um novo enfoque para os estudos históricos dedicados à atividade dos cientistas: "talvez a ciência não se desenvolveu pela acumulação de descobertas e invenções individuais", escreve ele no prefácio. Também é nessa seção que se pode encontrar sua primeira definição de paradigma:

"Considero "paradigmas" as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência".

E logo adiante, no primeiro capítulo, Kuhn acrescenta que tais realizações precisam apresentar duas características essenciais para serem consideradas paradigmas: "[serem] suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidários, afastando-os de outras formas de atividade científica dissimilares", bem como "[serem] suficientemente abertas para deixar toda espécie de problemas para serem resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência"

Essas realizações acontecem no âmbito daquilo que o autor chama de "ciência normal", que "significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior"

Ou seja, na maior parte das vezes, a ciência segue padrões e parâmetros já estabelecidos. E é rígida. O que não implica defeito intrínseco: isso a faz ser operacional e bem sucedida, por incrível que pareça.

Como se vê, o termo paradigma, empregado da maneira que acabamos de mostrar, distancia-se do sentido popularizado a partir dos anos 1980-90. Porém, quando um comentarista esportivo, num desses inúteis programas de debate futebolístico na TV, diz que o treinador Fulano precisa "partir para um novo paradigma tático" (sim, eu ouvi essa bobagem dias atrás)***, está fazendo um uso do vocábulo, acredito eu, como sendo quase uma reverberação (ainda que longínqua e equivocada) do termo paradigma tal como este foi adotado por Thomas S. Kuhn. E esse uso estranho é "culpa" dos cursos universitários das (muitas vezes pejorativamente) chamadas ciências humanas e áreas afins. Tentarei me fazer entender

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De acordo com Thomas Kuhn, os cientistas precisam "assumir um corpo qualquer de crenças comuns [relacionadas a uma determinada concepção de como a natureza "funciona"]". Caso contrário, não estão fazendo ciência, pois poderiam, nesse caso, simplesmente aderir ao pressuposto metafísico que mais lhes agrade no momento. O autor exemplifica com a óptica:

"Por não ser obrigado a assumir um corpo qualquer de crenças comuns, cada autor de óptica física sentia-se forçado a construir novamente seu campo de estudos desde os fundamentos. A escolha das observações e experiências que sustentavam tal reconstrução era relativamente livre. Não havia qualquer conjunto-padrão de métodos ou de fenômenos que todos os estudiosos da óptica se sentissem forçados a empregar e explicar. Nessas circunstâncias o diálogo dos livros resultantes era frequentemente dirigido aos membros das outras escolas tanto como à natureza. Hoje em dia esse padrão é familiar a numerosos campos dos estudos criadores e não é incompatível com invenções e descobertas significativas. Contudo, esse não é o padrão de desenvolvimento que a óptica física adquiriu depois de Newton e nem aquele que outras ciências da natureza tornaram familiar hoje em dia".

A ciência normal põe fim aquilo que Kuhn chama de "incomensurabilidade de maneiras de ver o mundo". A prática desse tipo de ciência estabelece o conjunto-padrão de métodos e indica quais fenômenos os estudiosos se sentem forçados a empregar e explicar.

"A ciência normal" - escreve o ensaísta -, "atividade na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente quase todo o seu tempo, é baseada no pressuposto de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do sucesso do empreendimento deriva da disposição da comunidade para defender esse pressuposto - com custos consideráveis se necessário".

Surgem, então, regras para se aprender e para se praticar tal ciência. Segui-las significa manter o(s) paradigma(s) que a sustenta(m) fortalecido(s). "A aquisição de um paradigma [...] é um sinal de maturidade no desenvolvimento de qualquer campo científico que se queira considerar". E como se adquire um paradigma? "Para ser aceita como paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras mas não precisa (e de fato isso nunca acontece) explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada".

Assumido o paradigma, os cientistas prosseguem com seu trabalho, que consiste, basicamente, em reforçar e incrementar o próprio paradigma. Peço agora a atenção mais detida do(a) eventual leitor(a) para o excerto a seguir. É extenso, mas julgo que valerá a pena, principalmente porque me ajudará a explicar a "culpa" pelo uso indiscriminado do termo paradigma aludida acima.

Segundo Thomas Kuhn,

"Poucos dos que não trabalham realmente com uma ciência amadurecida dão-se conta de quanto trabalho de acabamento [...] resta por fazer depois do estabelecimento do paradigma ou de quão fascinante é a execução desse trabalho [...]. A maioria dos cientistas, durante toda a sua carreira, ocupa-se com operações de acabamento. Elas constituem o que chamo de ciência normal. Examinado de perto, seja historicamente, seja no laboratório contemporâneo, esse empreendimento parece ser uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis fornecidos pelo paradigma. A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente não são vistos. Os cientistas também não estão constantemente procurando inventar novas teorias; frequentemente mostram-se intolerantes com aquelas inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal está dirigida para a articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma".

O ensaísta não menciona a ciência a-normal (incluirei-a aqui apenas como provocação); porém, ele trata, no decorrer do livro, do período extraordinário - no sentido de não previsto, fora da normalidade - no qual uma ciência amadurecida vivencia uma crise (em cujo interior pode ocorrer uma revolução, que leva à mudança de paradigma). Quero, entretanto, insistir na minha provocação e pensar um pouco sobre o que seria uma ciência a-normal.

No excerto incluído logo acima, Kuhn defende que, na ciência normal, o trabalho habitual e típico do cientista é o acabamento do paradigma: não há busca frenética por novas teorias. Por quê? Porque a prática da ciência normal predomina sobretudo em áreas científicas já amadurecidas (por exemplo, Física, Química e, em grande parte, a Biologia), com paradigmas mais confiáveis. Sou tentado a conjecturar: a ciência a-normal ocorreria então, com mais frequência, nas áreas científicas imaturas?

Antes de prosseguir, quero deixar claro que sou um sujeito das Humanidades (que expressão mais fora de moda!...) e afeito às soft sciences, OK? Sou - para minha vergonha e opróbrio - um quase analfabeto científico que pouco (ou quase nada) conhece das hard sciences. Nem por isso deixarei de lado a provocação (até mesmo como exercício de autocrítica).

As áreas científicas imaturas - e estou me referindo aqui às ciências sociais em sentido amplo (Sociologia, Psicologia, Economia, etc.) - são marcadas pela quase inexistência da assunção de crenças comuns. Disso decorrem concepções incompatíveis sobre os seres humanos como objeto de escrutínio científico (antropológica e psicologicamente falando), passando por visões distintas sobre a organização social e sobre os fenômenos culturais, metodologias tão variadas quanto a criatividade individual dos pesquisadores permitir, até chegar na abrangência colossal dos fenômenos passíveis de estudo pelos cientistas sociais. É difícil reconhecer paradigmas consensuais estabelecidos nas ciências imaturas e, portanto, pouca prática de ciência normal (basta observar a profusão de teorias conflitantes no interior da Sociologia, Economia, Psicologia, Linguística, etc.). Pode-se argumentar, entretanto, que isso não seria um defeito; afinal, quão complexos são a mente e o comportamento humanos, bem como as suas organizações socioeconômicas e suas manifestações culturais! E quão diferente dos objetos das ciências da natureza tudo isso é! Daí o fato de diversos manuais de introdução às ciências sociais insistirem em destacar a especificidade de seu objeto em relação ao das ciências naturais.

Tudo isso é verdade. O problema, porém, é que as soft sciences estão a todo momento querendo emular a cientificidade das hard sciences na sua busca por legitimação. Não seria o caso de tentar trilhar e estabelecer um outro modelo investigativo? É também o caso de perguntar se estamos verdadeiramente ganhando alguma coisa com essa situação, em matéria de um melhor nível de conhecimento sobre o social e o mental. É, contudo, uma discussão que vai além do objetivo desta postagem e da capacidade do blogueiro.

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Por que os cursos universitários das ciências humanas e disciplinas afins (como a Filosofia, a Comunicação Social e a Pedagogia, por exemplo) têm "culpa" pelo uso indiscriminado do temo paradigma?

Bem, eu diria que, mesmo sem dispor de paradigmas estabelecidos e reconhecíveis (de acordo com os conceitos de Thomas Kuhn, convém dizer), as ciências sociais/humanas adoram usar essa palavrinha (paradigma) para se referir a simples formulações conceituais ou escolas de pensamento em determinado campo de estudo. E como a palavra não sai da boca de milhares de professoras e professores universitários de Sociologia, Antropologia, Psicologia, Economia, Direito, Ciência Política, História, Jornalismo, Biblioteconomia, Geografia e por aí vai, seus ex-alunos e ex-alunas não param de repeti-la - em boa parte das vezes, com resultados ridículos ou simplesmente não significando nada, tentando apenas exibir um vocabulário mais apurado do que de fato possuem. 
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* PARADIGMA. In: HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 2127

** KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 10 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011 [Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira]

*** É provável que o(a) eventual leitor(a) já tenha reparado que os jornalistas da área esportiva (sobretudo ligados ao futebol) são especialmente criativos (aqui estou sendo irônico) na hora de escrever e/ou falar sobre o assunto com o qual trabalham. E, não raro, submetem o leitor-ouvinte-telespectador a verdadeiros "enchimentos de linguiça" enfeitados.

BG de Hoje

Adorada pela crítica musical, a banda ALABAMA SHAKES ainda não me convenceu totalmente. Claro, são apenas dois discos lançados e sua trajetória está apenas começando. Ao comprar o primeiro CD (Boys & Girls), impressionado que fiquei com a poderosa canção Hold on, terminei um pouco decepcionado com o resultado - o grupo prometia mais. Acho que os outros integrantes precisam incorporar um pouco da pujança e do carisma da frontwoman Brittany Howard, sei lá. Ainda não consegui adquirir o segundo trabalho, Sound & Color, mas ouvi algumas faixas pela web, como o BG de hoje, Don't wanna fight. Estou gostando até agora.