sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Esporte, a figura do ídolo e o dinheiro



Na última postagem, estava tratando do livro enquanto objeto que carrega consigo, ao mesmo tempo, tanto um poder simbólico e cultural imenso quanto o estigma da obsolescência e da inadequação a estes novos tempos internéticos. Deveria dar continuidade ao tema, mas não gostei dos textos que elaborei nas últimas semanas. Tentarei modificá-los; se ficarem pelo menos razoáveis, volto ao assunto. Hoje escreverei sobre outra coisa.

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Neste mês de outubro a edição 1407 da revista Placar* publicou uma matéria em que se divulgava uma daquelas famosas listas da Forbesnesta, em particular, o destaque eram os atletas mais bem pagos do planeta. Um dado logo chama atenção: só há duas mulheres entre os 100 esportistas com melhor remuneração. São duas tenistas: a russa Maria Sharapova e a norte-americana Serena Williams, representantes daquele que é "possivelmente o esporte menos machista da atualidade e da história", segundo Edgardo Martolio, que assina a matéria da Placar. NOTA: Embora Sharapova tenha um desempenho esportivo inferior ao de Serena (basta olhar a posição ocupada por elas no ranking da WTA), o faturamento da russa é maior, sobretudo por causa dos contratos publicitários (para isso há uma explicação - nem um pouco nobre - como já escrevi aqui).

E por falar em publicidade, parte significativa do ganho dos atletas mais ricos vem dessa área e não somente dos salários e prêmios que recebem ao competir. São as grandes corporações e empresas querendo associar sua marca a certos esportistas vistos pelo público como seres humanos fora do comum. Por isso não é de se espantar que 62% da lista da Forbes seja made in USA, a nação que - gostemos ou não - mais sabe lucrar com o marketing esportivo.

Olho para este nosso mundão globalizado - em que o grande capital dita as regras do jogo (valendo-se de todos os recursos de que dispõe, inclusive da publicidade) - e confesso não saber como me posicionar (politicamente, quero dizer) diante desse fenômeno tão característico de nossas sociedades de massa chamado esporte profissional.

Esclareço que não costumo formular questionamentos do tipo "é justo que Beltrano ganhe X milhões por ano?". Pessoalmente, acho que atletas devem ganhar bem simplesmente porque acho que qualquer trabalhador deveria ser bem remunerado, independentemente da atividade que exerça. Tenho consciência de que isso é tremendamente utópico (e até ingênuo), pois o capitalismo, que tem como um de seus fundamentos a desigualdade econômica, precisa sobrevalorizar determinadas ocupações em detrimento de outras para perpetuar sua existência. As estrelas do esporte são uma das muitas engrenagens desse mecanismo. Não vou, entretanto, colocá-las no papel de vilão (até porque esse não é o meu ponto de vista).

Creio que os atletas profissionais funcionam como modelo e espelho para um sem-número de pessoas por aí. Seria burrice, penso eu, menosprezar a grande influência que esses esportistas exercem sobre o comportamento e as escolhas de seus fãs. Este blogueiro é um exemplo: decidi praticar o basquete, quando era jovem, por causa de um dos meus maiores ídolos, a ex-jogadora da seleção brasileira (Magic) Paula. Até sonhei em seguir carreira, mas faltavam alguns requisitos (talento, por exemplo). Ainda assim, a prática esportiva amadora, durante muito tempo, me trouxe grande satisfação.

Contudo, preocupo-me com a imensa concentração de dinheiro em determinadas modalidades (e, consequentemente, a falta de grana noutras). Só há 7 esportes representados pelos 50 atletas mais ricos do mundo - Boxe, Futebol, Futebol Americano, Tênis, Basquetebol, Golf e Baseball. Devo acrescentar que há entre eles um representante do críquete e quatro da Fórmula 1 (embora eu tenha certa resistência para considerar corridas de automóvel como sendo um esporte...). Penso que seria bem melhor para o universo esportivo - e para a sociedade em geral - se o leque de modalidades exploradas como entretenimento (e investimento) fosse maior. Ídolos surgidos noutras atividades menos badaladas poderiam estimular parcelas da população que não se reconhecem nos atuais astros dos esportes mais lucrativos.

Acredito que esporte é um assunto tão sério quanto qualquer outro poderia ser. É provável que volte a falar disso em breve.

* Os 100 atletas mais bem pagos do mundo, na última temporada. Placar. n. 1407, out. 2015. p. 36-41

BG de Hoje

Uma música ideal pra se ouvir tomando uma cerveja gelada (algo que farei daqui a pouco): Show me your soul, RED HOT CHILI PEPPERS.