terça-feira, 20 de maio de 2014

Duas sugestões - Literatura Juvenil

Interrompo a série de postagens sobre leitura fora da escola para sugerir duas ótimas obras que podem agradar ao leitor adolescente.

Aproveitando a "onda Shakespeare" neste ano (em razão do quadringentésimo quinquagésimo aniversário de nascimento do autor inglês), uma boa pedida é William Shakespeare e seus atos dramáticos*, exemplar da coleção Mortos de fama, da editora Claro Enigma. Biografia muito bem-humorada, com o texto ágil, típico de almanaque, e as ilustrações despretensiosas que caracterizam a coleção, o livro tem ótimas sacadas, como o "diário secreto" do escritor e o "box" intitulado shakespearenas (no qual se anotam curiosidades sobre a vida e a obra do dramaturgo). Mas a seção de que mais gostei foi Nas luzes da ribalta, uma espécie de resumo dos trabalhos mais destacados de Shakespeare. Nessa seção, as "traduções" para famosas falas das peças são muito engraçadas. Veja esta, por exemplo, para um trecho célebre de Macbeth:

" ' A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e se agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, que nada significa '.Tradução: Não devia ter saído da cama hoje..."

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Quem aprecia obras ficcionais de terror (meu caso) não deveria deixar de ler Coraline**, de Neil Gaiman, autor da série de quadrinhos Sandman  e do livro de contos Coisas frágeis (obras das quais gosto muito), entre outras publicações. Em Coraline, uma adolescente, ao atravessar certa porta fora de uso dentro de casa, entra num mundo fantástico, obscuro e assustador, mas que, bizarramente, assemelha-se à "realidade" domiciliar a que estava acostumando-se. Naquele mundo existe uma entidade maligna que o controla e está sequiosa de ocupar o papel de mãe da garota. O diálogo abaixo revela um pouco dessa entidade:

" - Eu juro - dissse a outra mãe - Eu juro pelo túmulo da minha mãe. - Ela tem um túmulo? - perguntou Coraline. - Oh, sim - disse a outra mãe - Eu mesma a coloquei lá. E quando descobri que estava tentando arrastar-se para fora, coloquei-a de volta".

Na próxima postagem, comento outros dois livros também voltados para o público juvenil (ambos de Eliane Ganem).
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* DONKIN, Andrew. William Shakespeare e seus atos dramáticos. São Paulo: Claro Enigma, 2012 [Ilustrado por Clive Goddard e tradução de Eduardo Brandão]

** GAIMAN, Neil. Coraline. Rio de Janeiro: Rocco, 2003 [Ilustrado por Dave Mckean e tradução de Regina de Barros Carvalho]

BG de Hoje

Já foi BG aqui, mas gosto muito dessa canção e resolvi repetir. Para mim é a "prova" de que as raízes do NIRVANA brotaram do punk: Breed.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Leitura fora da escola (III)

A pesquisa Retratos da leitura no Brasil também busca apurar a opinião geral das pessoas em relação ao ato de ler. Quando se perguntou "qual destas frases melhor explica o que é a leitura", tendo 3 opções de resposta, a primeira escolha dos informantes (com 64% de incidência) recaiu sobre "fonte de conhecimento para a vida" , tendo "fonte de conhecimento e atualização profissional" na segunda colocação e em terceiro lugar, "fonte de conhecimento para a escola/faculdade"  (veja quadro abaixo).



O que se pode inferir a partir desses dados? 

A leitura, em geral, é tida como algo positivo, uma vez que a associação desta com as frases "produz cansaço/exige muito esforço" e "uma atividade entediante" resultou em escolhas minoritárias. Mas quando olho para os reduzidos 18% que apontaram ler como um prazer, meu pessimismo, de hábito bastante alto, vem à tona.

Ao responder, preponderantemente, que a leitura é fonte de conhecimento para a vida/atualização profissional/escola e faculdade, os informantes, pergunto eu, não teriam em mente apenas uma concepção utilitária (e reducionista) dessa atividade, não obstante sua valoração positiva? Por outro lado, a pouca identificação da leitura com o prazer serve de alerta para que se pense mais criticamente a respeito dessas campanhas publicitárias chinfrins e discursos inócuos que insistem em comparar o ato de ler a um alucinógeno "do bem" ("a leitura é uma viagem...")

Outro ponto da pesquisa procurou listar os 22 livros mais lidos no ano em que foi realizado o levantamento (quadro abaixo). É de se notar a presença significativa de best sellers : quase metade dos títulos citados, o que parece demonstrar a ação do marketing editorial, ainda mais quando associado ao peso da indústria cinematográfica (no caso de Harry Potter e a série Crepúsculo).


A aparição  na lista de livros como Dom Casmurro, A escrava Isaura, Iracema e Memórias póstumas de Brás Cubas talvez seja indício de uma possível influência da instituição escolar nas preferências de leitura da população. Será?

Encerro por hoje, mas voltarei a falar da pesquisa mais adiante.

BG de Hoje

Que grande canção! Apesar de ser uma "composição de circunstância", não perde a qualidade típica do R.E.M.: Man in the moon.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Leitura fora da escola (II)



Muitas vezes, quando se encerra a visita feita por uma turma de alunos à biblioteca escolar na qual trabalho, costumo sugerir aos estudantes (sobretudo crianças com idade entre 6 e 10 anos) que, em casa, mostrem a algum adulto o livro escolhido no momento do empréstimo e, se possível, peçam a essa pessoa que leia o exemplar junto com eles.

A intenção é fazer com que os pais ou responsáveis comecem a demonstrar interesse pela leitura e o livro se torne um pequeno, mas ainda assim importante estimulante cultural. Sinceramente, não sei dizer quantos conseguem dar prosseguimento à sugestão.

Creio que seria fundamental, para orientar ações educativas e mesmo políticas públicas para a formação do leitor, obter dados sobre as práticas e as preferências de leitura das pessoas fora do ambiente escolar. Nesse sentido, considero a pesquisa Retratos da leitura no Brasil um dos melhores instrumentos ora disponíveis.

Atualmente em sua terceira edição, a última pesquisa publicada aconteceu entre os dias 11 de junho e 3 de julho de 2011, sob responsabilidade do Instituto Pró-Livro e executada pelo IBOPE Inteligência (para saber mais e obter um arquivo PDF dos resultados do trabalho, visite o site da entidade: http://www.prolivro.org.br).

Tendo como "objetivo [geral] avaliar o comportamento leitor do brasileiro" (grifo meu)*, Retratos da leitura no Brasil constitui-se numa amostra composta por 5.012 entrevistas domiciliares, em 315 municípios, incluindo informantes acima de 5 anos de idade, alfabetizados ou não. O livro é o suporte de leitura priorizado na pesquisa**. Será considerado leitor "aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses" e não-leitor "aquele que não leu nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12". Em 2011, leitores e não-leitores distribuíram-se igualmente na população (50% para cada lado); isso indica uma diminuição no número de leitores, pois, no levantamento anterior, (ocorrido em 2007), eram maioria (55% contra 45% de não-leitores).

Nas próximas postagens dessa série discutirei, com mais vagar, alguns outros dados da pesquisa, mas chamo a atenção no momento para o seguinte: ler é apenas a 7ª atividade que as pessoas mais gostam de fazer no tempo livre, atrás de assistir televisão (1ª), escutar música ou rádio (2ª), descansar (3ª), reunir com os amigos ou família (4ª), assistir vídeos/filmes em DVD (5ª) e sair com amigos (6ª). Para minha surpresa, ler está à frente de navegar na internet (8ª) e praticar esportes (9ª). Acho oportuno mencionar que a preferência pela navegação na internet vem aumentando desde o último levantamento em 2007.

Continuarei a tratar da pesquisa Retratos da leitura no Brasil mais adiante, nas atualizações seguintes do blog.

* Segundo a pesquisa, para definir o que se chama de comportamento leitor, medir-se-á a "intensidade, forma, motivação e condições de leitura da população brasileira"

** O que é considerado livro, para a pesquisa?: " [...] estamos falando de livros tradicionais, livros digitais/eletrônicos, audiolivros digitais-daisy, livros em braile e apostilas escolares. Estamos excluindo manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais".

BG de Hoje

Wuthering heights faz parte de todas as programações "mela-cuecas" das rádios. Mesmo assim, gosto bastante dessa canção, que, obviamente, foi inspirada no livro de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes (cujo título original é Wuthering heights). E que tal a coreografia - estranhíssima - de KATE BUSH no clipe abaixo?