Paula Sibilia - O show do eu
Há algum tempo, mantive um perfil no Facebook no qual advertia os "amigos" adicionados do meu hábito costumeiro de ocultar históricos (excluir do feed de notícias) por completo. Ou seja, simplesmente não lia nem acompanhava nada que fosse postado ou compartilhado pelo sujeito cujo histórico ocultei. E lembrava a todos que eles tinham o direito de fazer a mesmíssima coisa em relação ao meu próprio histórico. Por que adotei esse hábito (e ainda adoto, num novo perfil)? Porque, em meio a itens publicados muito instigantes e outros mais espontâneos, mas não menos interessantes, há dezenas e dezenas de vulgaridades repetitivas, humorismo de segunda mão, recados indiscretos e grotescos, além de mostras de estupidez envernizadas com citações fora de contexto - a maioria de autoria questionável - com o rasteiro intuito de se fazer passar por culto.
Mas o pior são os inúmeros relatos banais - a viagem "incrível" pra São José do Piancó; o jogo de casados e solteiros disputado no último fim de semana; ou o "imperdível" show da dupla Lelé de Navarro e Cipriano, etc. Tudo, é claro, acompanhado de fotos (muuuuitas fotos) enjoativas até a medula, demonstrando que o narcisismo e o cabotinismo parecem não vexar mais ninguém nestes tempos internéticos.
O livro, a meu ver, tem, um objetivo amplo: entender melhor as atuais formas de ser e estar no mundo, discutindo como se manifesta a subjetividade na web, no estágio vigente do capitalismo (sob o ponto de vista de uma estudiosa da área da Comunicação, claro). Para tanto, a autora buscará , entre outras coisas, "desnaturalizar as novas práticas comunicativas. Algo que só será possível se desnudarmos suas raízes e suas implicações políticas".
No final do capítulo introdutório, Paula Sibilia escreve:
"A rede mundial de computadores se tornou um grande laboratório, um terreno propício para experimentar e criar novas subjetividades: em seus meandros nascem formas inovadoras de ser e estar no mundo, que por vezes parecem saudavelmente excêntricas e megalomaníacas, mas outras vezes (ou ao mesmo tempo) se atolam na pequenez mais rasa que se pode imaginar".
Pessoalmente, tenho a pretensão de tentar escapar do atoleiro (pelo menos na maior parte do meu tempo de uso da web). O livro O show do eu será o tema principal da nova série de postagens.
* SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
BG de Hoje
Não me pergunte o porquê, mas acho a canção A verdadeira Mary Poppins, do TITÃS, inteiramente afim com o assunto da postagem. OBS: Essa canção faz parte do último disco decente do grupo paulistano: Titanomaquia (1993).