Encerremos de vez essa lenga-lenga que custou a se concluir. E termino encenando, infelizmente, o que chamo de o fácil bom-mocismo internético. A série de postagens acabou se alongando demais e, na pressa de fechá-la (já encheu o saco), não consegui achar nada menos boboca do que apelar para esse discurso salpicado de humanismo ornamental (já sinto vontade de vomitar), característico de certos perfis mantidos na web e que tento evitar ao máximo. Lamento, eventual leitor(a).
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No capítulo Piaimã, o narrador nos conta que "Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com a Máquina" *.
Fico pensando na expressão brigas sem vitória. As sociedades atuais (incluindo a brasileira) são marcadas por um poderoso controle do tempo das pessoas, sobretudo nos locais de trabalho. "Tempo é dinheiro", diz o conhecido adágio popular (provavelmente criado pelo primeiro capitalista da História). As horas livres ou ociosas costumam, então, ser associadas ao desperdício ou à vagabundagem. Tanto num caso quanto noutro, ficar à toa é condenável (para alguns, quase um crime).
Mas o tempo considerado útil tornou-se alienante. Arrisco dizer que a maioria dos trabalhadores mundo afora não se identifica com seu trabalho e não encontra o menor reconhecimento no seu ganha-pão. Fazem o que fazem simplesmente para pagar suas contas. E, espantosamente, terminada a jornada no emprego, o período de folga quase vira outra jornada, quando os sujeitos correm desabalados em busca da dopagem proporcionada pela indústria do entretenimento, seja domiciliar, seja aquela adquirida nos estabelecimentos que comercializam o "lazer".
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A briga entre os filhos da mandioca e a Máquina continuará - sem a vitória dos primeiros sobre a segunda - enquanto o moralismo econômico continuar determinando nossa forma de agir no mundo, controlando nosso tempo, nosso lazer, intentando nos impedir de desfrutar o ócio, necessário e indispensável, nos impedindo de ficar à toa, segundo nosso desejo. E Macunaíma parece nos sugerir uma alternativa, quando prefere inventar histórias e criar situações imprevisíveis a se submeter a uma rotina sem significado.
Só é possível praticar, em plenitude, ações criadoras ou refletir sobre nossa existência e as condições que a sustentam quando não se é oprimido pela mecanização do nosso tempo. A arte e a filosofia - para mencionar duas atividades progressivamente desvalorizadas no mundo contemporâneo - puderam surgir apenas quando os indivíduos obtiveram a liberdade de optar pelo "inútil".
A preguiça do Macunaíma, sob esse ponto de vista, é libertadora.
* ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São Paulo. Círculo do Livro, 1983.
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12 de março: Dia do Bibliotecário
Conheci, por meio do trabalho, alguns bibliotecários. Só me lembro, entretanto, de duas profissionais ao longo desses anos que ultrapassavam a mesmice e o convencionalismo das posturas típicas da categoria. Não me arrependo de ter abandonado o curso de Biblioteconomia há pouco tempo. Neste, o apego às tecnalidades e a sanha normativa pouco têm contribuído, assim me parece, para que surjam, entre seus estudantes, indivíduos capazes de entusiasmar e cativar futuros leitores. Se políticas de leitura eficientes passam pela participação e colaboração de bibliotecários, nesse aspecto, estamos bem mal também.
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BG de Hoje
O rock pesado passou por muitas transformações ao longo das últimas décadas. Firulas à parte, ainda sou mais o som cru, tosco e sujo do BLACK SABBATH. Essa "podreira" (no bom sentido, claro), é imediatamente sentida no primeiro disco da banda inglesa, na qual destaco Warning e seu andamento cheio de mudanças de riff, como gosta o guitarrista Tony Iommi.