"A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais"
E nossas vidas são tão normais"
Renato Russo/Legião Urbana, em Baader-Meinhof Blues
Os primeiros livros de Rubem Fonseca provocaram forte impressão no público, nos anos 1960-70, pela violência que retratavam, mas - observa Boris Schnaiderman* - "de lá para cá, a vida brasileira, em seu conjunto, tornou-se mais brutal e implacável, fatos como os narrados ali passaram a fazer parte de nossa vivência diária e acabamos mais acostumados com eles".
Poderia escolher vários de seus contos para discutir a representação literária da marginalidade e do crime; vou me concentrar, contudo , em O jogo do morto **.
Quatro comerciantes de São João de Meriti decidem, de modo macabro, apostar dinheiro adivinhando o número de vítimas do esquadrão da morte a cada mês. Com o passar do tempo os apostadores "ampliaram as regras do jogo. Além da quantidade, da idade e da cor dos mortos, foi acrescentada a naturalidade, o estado civil e a profissão. O jogo tornara-se complexo". O popularesco jornal O Dia servia para "validar " os palpites. A prática regular de assassinato divulgada pela imprensa sensacionalista: nada muito diferente do que testemunhamos hoje.
O mais azarado dos apostadores, Anísio, decide trapacear no jogo para recuperar o dinheiro perdido. Numa passagem do conto ele diz :
Nas áreas urbanas grupos sociais criam subculturas e a criminalidade também tem a sua, além de um código não escrito, conhecido até por quem não é do métier - como, por exemplo, saber do fato do esquadrão da morte poupar meninas e comerciantes - dada a penetração do crime nas demais esferas da vida das cidades. O assustador é que estamos cada vez mais familiarizados com essa subcultura e com esse código.
Nunca viveremos em sociedades sem crime, obviamente. Mas o que o conto O jogo do morto parece sugerir é que os assassinatos do crime organizado, mesmo que atinjam números astronômicos, deixaram de nos chocar há bastante tempo.
Quatro comerciantes de São João de Meriti decidem, de modo macabro, apostar dinheiro adivinhando o número de vítimas do esquadrão da morte a cada mês. Com o passar do tempo os apostadores "ampliaram as regras do jogo. Além da quantidade, da idade e da cor dos mortos, foi acrescentada a naturalidade, o estado civil e a profissão. O jogo tornara-se complexo". O popularesco jornal O Dia servia para "validar " os palpites. A prática regular de assassinato divulgada pela imprensa sensacionalista: nada muito diferente do que testemunhamos hoje.
O mais azarado dos apostadores, Anísio, decide trapacear no jogo para recuperar o dinheiro perdido. Numa passagem do conto ele diz :
"Aposto que o esquadrão este mês mata uma menina e um comerciante. Duzentas mil pratas. Que loucura, disse Gonçalves [outro dos apostadores], pensando no seu dinheiro e no fato de que o esquadrão jamais matava meninas e comerciantes".
Nas áreas urbanas grupos sociais criam subculturas e a criminalidade também tem a sua, além de um código não escrito, conhecido até por quem não é do métier - como, por exemplo, saber do fato do esquadrão da morte poupar meninas e comerciantes - dada a penetração do crime nas demais esferas da vida das cidades. O assustador é que estamos cada vez mais familiarizados com essa subcultura e com esse código.
Nunca viveremos em sociedades sem crime, obviamente. Mas o que o conto O jogo do morto parece sugerir é que os assassinatos do crime organizado, mesmo que atinjam números astronômicos, deixaram de nos chocar há bastante tempo.
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* SCHNAIDERMAN, Boris. Vozes de barbárie, vozes de cultura : uma leitura dos contos de Rubem Fonseca [esse ensaio foi publicado como posfácio da 1ª edição dos Contos reunidos, de Rubem Fonseca, pela Companhia das Letras]
** FONSECA, Rubem. O jogo do morto. In: __________. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 585-590 [esse conto integra o livro O cobrador, publicado originalmente em 1979]
BG de Hoje
Crianças não são essas gracinhas que muita gente imbecil vive dizendo adorar. Trabalho com elas há bastante tempo pra não me iludir. A letra da canção Sweet Sour, da ótima BAND OF SKULLS é meio maluca, mas o clipe demonstra bem a agressividade infantil.