domingo, 31 de agosto de 2025

Um grande escritor popular se foi: Luis Fernando Verissimo (1936 - 2025)


Ser um escritor profissional popular e, ao mesmo tempo, estimado por aquela parcela de leitores considerados mais exigentes (identificada como  crítica literária ) não é algo comum no Brasil. Mas Luis Fernando Verissimo foi capaz de atingir esse patamar.

Embora não tenha sido tema de muitas postagens aqui no  Besta Quadrada,  leio o escritor gaúcho frequentemente e há muitos anos - como o fazem e vem fazendo milhares e milhares de outras pessoas.

Ele produziu romances e contos, é verdade, mas Verissimo foi mesmo perito num formato de escrita que lhe era muito próprio: o texto bastante curto (que não é bem uma crônica, gênero no qual se notabilizou, obviamente) mais próximo de pequenos recortes cênicos ou esquetes, com variados graus de humor (do mais pastelão ao quase surrealista), ambientados num apartamento, numa praça ou, sei lá, dentro de uma nave espacial, a depender da imaginação do escritor.

Ontem li algumas homenagens publicadas e gostei muito do que escreveu Frei Betto, dizendo:

"Não pensem que Verissimo era apenas um comediante com o manual de erudição debaixo do braço. Ele tinha a melancolia elegante dos humoristas de verdade. Sabia, como poucos, que a ironia é irmã da tristeza e, às vezes, o riso é apenas uma forma de dizer que não vale a pena chorar. Seu segredo era rir e fazer rir com poesia, zombar com delicadeza, atirar pedras com a mão enluvada".

Abaixo, o texto completo.


LUIS FERNANDO VERISSIMO, O ARTISTA QUE RETRATOU O BRASIL *

Frei Betto



Conheci Luis Fernando Verissimo na casa de seus pais, Mafalda e Érico Veríssimo, no arborizado bairro Petrópolis, em Porto Alegre, em 1974, ao sair da prisão. Fui agradecer a Érico as várias caixas repletas de livros enviadas por ele, a meu pedido, à biblioteca da penitenciária de Presidente Venceslau (SP), onde a ditadura me isolou, entre presos comuns, por quase dois anos.

Interessado em reler  
O Tempo e o Vento,  que se encontrava em poder de Pedro, vizinho à minha cela, passei semanas insistindo que terminasse de lê-lo. Um dia me confessou que protelava o repasse do livro porque havia gostado tanto que comprara grossos cadernos para copiar à mão cada volume da trilogia. Fiquei tão impactado que narrei o fato em carta ao Érico. Semanas depois ele fez chegar à penitenciária caixas contendo livros seus e de outros autores.

Costumava encontrar Lúcia e Luis Fernando em eventos literários, na casa deles em Porto Alegre e também no Recife, no apartamento de Leda Alves e Hermilo Borba Filho, onde o casal e eu nos hospedávamos em visita à capital pernambucana. Parecia que as conversas naquela sala, com vista para a praia de Boa Viagem, já viessem com direitos autorais, prontas para virar peça, conto, crônica, anedota de botequim ou até mesmo discurso de formatura.

Um fim de tarde, ao ser provocado sobre a política da época, Veríssimo disse algo tão simples e devastador que, até hoje, me parece uma síntese do Brasil:  
“O problema não é que estamos mal-governados. O problema é que estamos bem governados por quem não devia governar.”  Disse isso ao mexer o café, como quem fala sobre o tempo. E pronto, se calou.

Em qualquer ambiente Verissimo tinha a peculiaridade de estar presente e, ao mesmo tempo, parecer um personagem de si mesmo, recolhido ao silêncio, entretido com a sua subjetividade como se fosse um monge budista. Era como se tivesse sido inventado por Henfil, escrito por Millôr e retratado pelo traço de Chico Caruso.

Em meus lançamentos de livros no Rio, no “Esch Café”, no Leblon, Veríssimo se fazia presente em companhia de Chico Caruso e Jaguar. Na roda de amigos, lembrava o passageiro clandestino de um navio que, ao ser descoberto, não era expulso, e sim convidado para reger a orquestra. Escutava mais do que falava, e quando se pronunciava, vinha a frase curta, seca, tão exata que parecia ensaiada por séculos de reflexão.

Convidado a fazer palestras, Verissimo não discorria sobre o tema, preferia que o público o inquirisse. Assim, o caráter dialógico imprimia vivacidade ao evento. Em especial quando cessava o palavrear, retirava da caixa o saxofone e improvisava um show de jazz.

Veríssimo escrevia como quem bebe café sem açúcar, em gole rápido, quente, às vezes amargo, mas sempre pertinente. Seu humor político fugia a todos os parâmetros proselitistas. Ácido, contundente, tanto nos textos quanto nas charges vinha banhado de inteligência.

Era um cronista que não escrevia apenas sobre o Brasil; radiografava a condição humana. Seus personagens, como Ed Mort, detetive particular trapalhão; o Analista de Bagé; a Velhinha de Taubaté; as Cobras; a Família Brasil; e Dora Avante, expressam e espelham nossas facetas mais abscônditas e, ao mesmo tempo, ridículas e verdadeiras. Veríssimo era o gênio da banalidade, elogio superlativo a um artista que tocava muito mais que sete instrumentos - escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista, dramaturgo e romancista. Foi também publicitário e revisor de jornal.

Ele era o mais convincente dos disfarçados. Escrevia sobre um casal brigando pelo controle remoto e fazia parecer que narrava a Guerra de Troia. Descrevia um jantar insosso como quem pinta o teto da Capela Sistina. E fazia rir. Rir de verdade, rir de si mesmo, rir tanto a ponto de não sabermos por que estamos rindo. Em plena ditadura, no universo verissimiano rir não era uma opção estética, era uma forma de sobrevivência.

Veríssimo não precisava de grandes acontecimentos para escrever. Bastava-lhe um espirro, um engarrafamento, um pedaço de queijo esquecido na geladeira, e pronto, virava crônica. A genialidade estava em perceber que o cotidiano é um palco onde todos atuamos sem ensaio, e que o riso é o aplauso involuntário de quem reconhece a própria trapalhada.

Em seus lançamentos de livros, talvez os leitores tivessem vontade de, em vez de autógrafo, pedir a receita da felicidade em pílulas. Porque, no fundo, todos suspeitavam que ele escondia no bolso a fórmula simples de rir das desgraças antes que elas rissem de nós.

Não pensem que Verissimo era apenas um comediante com o manual de erudição debaixo do braço. Ele tinha a melancolia elegante dos humoristas de verdade. Sabia, como poucos, que a ironia é irmã da tristeza e, às vezes, o riso é apenas uma forma de dizer que não vale a pena chorar. Seu segredo era rir e fazer rir com poesia, zombar com delicadeza, atirar pedras com a mão enluvada.

E pensar que o encontrei tantas vezes e nunca lhe perguntei como conseguia manter tamanha leveza naquele corpanzil. Talvez a resposta fosse esta: aprenda a rir de si mesmo com a seriedade de quem sabe que a vida, se não for engraçada, não tem a menor graça.


* Este texto foi publicado na Folha de S. Paulo, em 30/08/2025, mas também está disponível no site de Frei Betto, no endereço: <https://www.freibetto.org/luis-fernando-verissimo-o-artista-que-retratou-o-brasil/>. Acesso em 31/08/2025

domingo, 24 de agosto de 2025

Falou e disse...


 "A ficção narrativa proporciona uma selva controlada, uma oportunidade de ser e de se tornar o Outro. O estrangeiro. Com empatia, clareza e o risco de uma autoinvestigação". *

 

 

* MORRISON, Toni. Narrar o outro. In: ________. A origem dos outros : seis ensaios sobre racismo e literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 121 [Tradução de Fernanda Abreu]


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Ano 117 d. F (II)



Kidults

A primeira vez que vi essa palavra foi na capa de uma edição do (saudoso) caderno  Mais!  da Folha de S. Paulo, décadas atrás. Não cheguei a ler o texto principal, mas a perspectiva era crítica, acho eu, pelo que pude perceber no lead do artigo e nas ilustrações, demonstrando preocupação com o fenômeno dos  adultos-crianças.

Corta pra 2025. Entro no Google e a visão geral da IA do buscador me dá o seguinte resumo:
 

" 'Kidults' é um termo usado para descrever adultos cujos interesses ou atividades são frequentemente associados à infância, como colecionar brinquedos, jogar videogames ou assistir a desenhos animados. Esse fenômeno tem crescido e impactado diversos setores, como o mercado de brinquedos e jogos. 

O que são Kidults?

São adultos que mantêm interesses e atividades tradicionalmente consideradas infantis, como colecionar brinquedos, jogar videogames, assistir a desenhos animados ou filmes de super-heróis, e participar de eventos geek e de cultura pop.

A nostalgia desempenha um papel importante, com muitos kidults buscando reviver momentos felizes da infância através de itens colecionáveis ou atividades relacionadas.

O termo pode ser visto de duas formas: algumas fontes o usam para descrever adultos que agem de maneira infantil, evitando responsabilidades, enquanto outras o usam para descrever adultos que buscam ativamente manter a alegria e o lado lúdico da infância, usando esses interesses como forma de escapismo ou para trazer mais diversão para suas vidas".

Na sequência, menciona como esse comportamento influencia o consumo de determinados produtos.

Algum tempo atrás, assisti a esta esquete do Saturday Night Live  que me fez rir um bocado:

   

Tudo fica mais engraçado quando se lê os comentários do vídeo no Youtube, com um monte de perfis choramingando que a franquia Star Wars  agora é  woke  (e por isso ruim, na visão do comentarista), reclamando que a venda de brinquedos desse tipo caiu porque o verdadeiro fã está sendo desrespeitado pela Disney, etc., demonstrando que os adultos-crianças ficam nervosinhos com muita facilidade...

Fiquei sabendo que a empresa chinesa Pop Mart, fabricante dos bonecos Labubu, viu seus lucros subirem cerca de 200% de um ano para o outro. Tal como os bebês reborn (e assim foi anteriormente com os Funko Pops), uma porcentagem significativa do público interessado nos monstrinhos é de adultos. 

Sobre esse último ponto: Bebês reborn, Labubus, Funko Pops são (ou foram)  trends, usando a terminologia atual calcada nas mídias sociais. Quem não quer ficar de fora (e tem dinheiro pra gastar) segue. Um comportamento assim não seria possível sem o estabelecimento da sociedade de massa.  

Imersos na sociedade de massa (ou de massas) há tanto tempo, raramente tomamos real consciência das implicações psicossociais negativas desse tipo de existência transcorrida em meio a enormes agrupamentos de pessoas.

Nesta postagem, dando sequência à anterior, continuarei a tratar do livro  Admirável mundo novo, um texto que também buscou refletir sobre a sociedade de massa (entre outras coisas), concentrando-me numa das disfunções relacionadas a esse fenômeno: o consumismo.

. . . . . . .

No capítulo dezessete de Admirável mundo novo, Mustafá Mond, um dos poderosos Administradores do Estado Mundial (e meu personagem predileto na narrativa), diz o seguinte ¹: "Mas a civilização industrial somente é possível quando não há desprendimento. É necessário o gozo até os limites impostos pela higiene e pelas leis econômicas. Sem isso, as rodas cessariam de girar".

Convém dizer que os principais argumentos do livro (afinal, estamos falando de um romance com intento filosófico) estão mais claramente expostos no antepenúltimo e no penúltimo capítulos, por meio do sensacional diálogo entre John, o Selvagem, e Mustafá Mond. John repele um mundo que interdita as emoções autênticas, não deixa espaço para a liberdade individual, sufoca as expressões artísticas digamos "elevadas" (nesse caso, representadas pela obra de Shakespeare) e prescinde das religiões tais como as conhecemos. Mond, por sua vez, vai mostrar que não se precisa de nada disso para atingir os objetivos do Estado Mundial: a manutenção de um corpo social estável e feliz. Portanto, Deus, arte, indivíduos que pensam por si mesmos e emoções genuínas são coisas desnecessárias.

Pela maneira como o romance é construído, percebe-se que o narrador tenciona levar o leitor a endossar a exaltação do Selvagem e a se distanciar da fleuma utilitarista do Administrador. Aceitarei, por ora, esse arranjo. Voltemos, porém, à declaração de Mond: será mesmo que as engrenagens da civilização industrial deixariam de funcionar se a abnegação (uma outra palavra para  desprendimento) fosse amplamente disseminada?

Diversas foram as maneiras encontradas pelo Estado Mundial para assegurar que  todos amem a servidão. Uma delas é criar mecanismos para diminuir o intervalo de tempo entre "a consciência de um desejo e a sua satisfação", como diz o Administrador a um grupo de aprendizes no capítulo três. Ele está se referindo sobretudo às relações sexuais (com indisfarçável moralismo, as condutas sexuais chamadas de  promíscuas  no livro são a norma naquele futuro imaginado), mas o Estado Mundial também se ancora num modelo de vida orientado para o consumo permanente: em complementariedade, a divisão por castas e o condicionamento psicológico fazem com que cada indivíduo naquela sociedade aceite o seu quinhão sem reclamar. 

Pensemos agora no sistema econômico preponderante na atualidade. Não é difícil constatar o quanto nossa capacidade de gastar ou de adquirir produtos é uma das principais definidoras de nosso estar no mundo. Se há algo que irmana as pessoas no planeta é o fato de praticamente todos sermos consumidores, variando "apenas" o poder aquisitivo dos indivíduos. Muitos de nós valem-se do consumo como compensação emocional. Noutros casos, consumir torna-se uma meta em si mesma. Ter ou não acesso (pago) a determinados serviços, marcas, conteúdos, mercadorias e  lifestyles  determina nosso lugar social. Chegamos talvez a um ponto em que não sabemos mais como - ou se queremos - deixar de ser tais criaturinhas consumidoras. Estamos atolados nessa ordem socioeconômica (seria exagero dizer nessa  servidão?) e não se vê muitos esforços significativos para escaparmos dela. Como agravante, adultos infantilizados, por vezes resignada, noutras vezes prazerosamente engajados (como os colecionadores de brinquedo) nas ininterruptas cadeias de consumo são uma realidade já há bastante tempo. As rodas não param de girar. A diferença para o Estado Mundial é que não há castas e não sofremos o condicionamento psicológico mencionado no livro.

Hmm... Não falo das castas, mas há muito a se dizer sobre o condicionamento psicológico hoje em dia.

Huxley compôs seu texto no período entreguerras. A  propaganda  (em uma de suas acepções mais antigas, ou seja, o uso de técnicas de comunicação voltadas para a inculcar mensagens político-ideológicas) corria solta nessa época. Embora a hipnopedia não tenha se convertido em realidade e o poder do condicionamento pavloviano seja superdimensionado em Admirável mundo novo, o autor, contudo, não estava errado em indicar o quanto os seres humanos poderiam ser manipulados psicologicamente para agirem de acordo com propósitos determinados. Atualmente, sabe-se que cientistas e acadêmicos "emprestam" seus conhecimentos para grandes empresas, entre elas as chamadas Big Techs, com intuito de garantir que usuários/clientes destas ajam de tal ou qual modo, prevendo reações e estimulando atitudes específicas (o caso do Laboratório de Tecnologia Persuasiva de Stanford talvez seja o mais conhecido). Além disso, a ubíqua publicidade e o marketing contemporâneos são bastante sofisticados e eficientes quando se trata de gerar convencimento e aceitação do  status quo, sem falar que a propaganda passou a ser veiculada de diferentes maneiras, diluída noutras formas de narrativa, sendo uma delas o cinema (a poderosa indústria hollywoodiana faz o que sempre fez há quase  um século e não me deixa mentir). NOTA: Falei em  adultos infantilizados  e acaba de me ocorrer o seguinte: já reparou como as plataformas digitais e empresas de mídia - hoje, transnacionais - estão sempre tentando nos empurrar entretenimento goela abaixo?  Não menos importante, a educação formal e o trabalho, incapazes de promover real emancipação, também têm sua parte no "adestramento".

O panorama imaginado pelo escritor britânico, isto é, a consolidação de um gigantesco Estado dominador supranacional, olhando para o hoje, não se verifica. Pelo contrário, o imenso poder do capital financeiro em poucas mãos privadas e as megacorporações é que dão as cartas na maior parte do tempo. Entretanto, estamos apenas no ano 117 d. F (depois de Ford). O que poderá acontecer nos próximos 500 anos, uma vez que a história contada no romance se passa em 632 d. F (isto é, no ano 2540 do calendário gregoriano)?

. . . . . . .  

Gostaria de retomar um ponto mencionado, mas não desenvolvido acima. Afirmei que o leitor do Admirável mundo novo, graças à intercessão do narrador, inclina-se para o lado de John, o Selvagem, e não para o de Mustafá Mond. Em minhas últimas leituras, devo admitir, porém, que o ponto de vista do Administrador Mundial me parece cada vez menos estapafúrdio.

Vou reproduzir abaixo um trecho de que gosto muito:

"- [Diz John a Mustafá] Mas eu gosto dos inconvenientes.
- Nós, não. Preferimos fazer as coisas confortavelmente.
- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
- Em suma - disse Mustafá Mond -, o senhor reclama o direito de ser infeliz.
- Pois bem, seja - retrucou o Selvagem em tom de desafio. - Eu reclamo o direito de ser infeliz.
- Sem falar no direito de ficar velho, feio e impotente; no direito de ter sífilis e câncer; no direito de não ter quase nada que comer; no direito de ter piolhos; no direito de viver com a apreensão constante do que poderá acontecer amanhã; no direito de contrair a febre tifoide. no direito de ser torturado por dores indizíveis de toda espécie.
Houve um longo silêncio.
- Eu os reclamo todos - disse finalmente o Selvagem.
Mustafá Mond deu de ombros.
- À vontade - respondeu"

Nesse trecho, sempre me lembro que o Selvagem, mesmo rejeitando a conformação do Estado Mundial, não foi preso ou executado. Simplesmente escolheu viver como uma espécie de eremita num lugar desabitado (não muito distante de Londres, aliás), o que lhe foi permitido. Mesmo Bernard Marx e Helmholtz Watson, tidos como heréticos dissidentes, foram apenas banidos para locais onde encontrariam pessoas que pensavam como eles. 

Admirável mundo novo  descreve uma comunidade global em que praticamente tudo é controlado. Sem dúvida, um regime totalitário. Brutal, contudo? Não estou certo.

Isso vai soar inadvertido, eu sei, mas, pessoalmente, acho que a tão propalada liberdade individual perde muito do seu valor quando as pessoas se encontram cercadas por insegurança, insalubridade e miséria. Quer dizer então que valeria a pena sacrificar a liberdade em troca da estabilidade social? Se for para que o maior número possível de pessoas tenha acesso a uma vida mais igualitária e com menos privações materiais, talvez sim. NOTA: Apesar de repetir que todos os seres humanos são física e quimicamente iguais e ter no seu lema a ideia de uma concentração harmônica de pessoas, o Estado Mundial não é igualitário, uma vez que necessita das castas para existir.  Lamento revelar-me menos humanista e mais antidemocrático do que costumo me mostrar em várias das postagens já publicadas aqui, mas creio que seria pior fugir do questionamento do que cair no conceito do(a) eventual leitor(a).

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¹HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 22 ed. São Paulo: Globo, 2014. [Tradução de Lino Vallandro e Vidal Serrano]. Todas as passagens do livro citadas nesta postagem foram extraídas dessa tradução.

 

BG de Hoje

Billy Gorgan disse, bastante tempo depois do lançamento do álbum Siamese Dream (1993), que a canção  Soma  foi composta após o término de uma relação amorosa particularmente importante para ele. O musicista também confirmou que o miraculoso remédio do Admirável mundo novo  inspirou o título (embora isso não esteja tão evidente na letra). De todo modo, achei bacana colocar essa faixa dos SMASHING PUMPKINS no BG de hoje, extraída de um dos discos mais marcantes dos anos 1990.