O jornalista Franklin Martins, ex-comentarista do Jornal da Globo, bem como ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula (e, só por curiosidade, irmão da escritora Ana Maria Machado), publicou recentemente um trabalho de fôlego denominado Quem foi que inventou o Brasil?: a música popular conta a história. Numa participação no programa Observatório da Imprensa (TV Brasil), o jornalista reconheceu que, a partir dos anos 1990, o rap passou a ser a principal fonte das canções brasileiras com mensagem inegavelmente política, papel que fora desempenhado pela MPB (e, um pouco menos, pelo rock) em períodos anteriores.
Nesta segunda década do século XXI, talvez o principal representante desse segmento dentro da nossa música seja Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido pelo nome artístico de Emicida. Na semana passada, o rapper lançou a faixa Boa Esperança, acompanhada do videoclipe dirigido pela cineasta Kátia Lund e pelo fotógrafo João Wainer.
O resultado é grandioso, impressionante. Trata-se de uma projeção - dessas que só são possíveis por meio do empreendimento artístico - incidindo sobre o fosso existente no país, que coloca de um lado a elite branca rica e, do outro, a classe trabalhadora negra pobre.
Boa esperança fala por si. Vamos logo à composição (videoclipe no final).
Nesta segunda década do século XXI, talvez o principal representante desse segmento dentro da nossa música seja Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido pelo nome artístico de Emicida. Na semana passada, o rapper lançou a faixa Boa Esperança, acompanhada do videoclipe dirigido pela cineasta Kátia Lund e pelo fotógrafo João Wainer.
O resultado é grandioso, impressionante. Trata-se de uma projeção - dessas que só são possíveis por meio do empreendimento artístico - incidindo sobre o fosso existente no país, que coloca de um lado a elite branca rica e, do outro, a classe trabalhadora negra pobre.
Boa esperança fala por si. Vamos logo à composição (videoclipe no final).
BOA ESPERANÇA
(Emicida/Vinícius Nave)
Por mais que você corra irmãoPra sua guerra vão nem se lixarEsse é o xis da questãoJá viu eles chorar pela cor do Orixá?E os camburão o que são?Negreiros a retraficarFavela ainda é senzala, JãoBomba relógio prestes a estourarAíO tempero do mar foi lágrima de pretoPapo reto, como esqueletos, de outro dialetoSó desafeto, vida de inseto, imundoIndenização? Fama de vagabundoNação sem teto, Angola, Ketu, Congo, SowetoA cor de Eto'o, maioria nos guetoMonstro sequestro, capta três, raptaViolência se adapta, um dia ela volta pu cêisTipo campos de concentração, prantos em vãoQuis vida digna, estigma, indignaçãoO trabalho liberta, ou nãoCom essa frase quase que os nazi varre os judeu? extinçãoDepressão no convésHá quanto tempo nóiz se fode e tem que rir depoisPique jack-ass, mistério tipo Lago Ness, sério ésTema da faculdade em que não pode por os pésVocês sabem, eu seiQue até Bin Laden é Made in USATempo doido onde a KKK veste Obey (é quente memo)Pode olhar, num falei?Nessa equação, chata, policia mata? Plow!Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrãoDesacato, invenção, maldosa intençãoCabulosa inversão, jornal distorçãoMeu sangue na mão dos radical cristãoTranscendental questão, não choca opiniãoSilêncio e cara no chão, conhece?Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouqueceVence o Datena, com luto e audiênciaCura baixa escolaridade com auto de resistênciaPois na era cyber, ceis vai lerOs livro que roubou nosso passado igual Alzheimer, e vai verQue eu faço igual Burkina FasoNóiz quer ser dono do circoCansamos da vida de palhaçoÉ tipo Moisés e os hebreus, pés no breuOnde o inimigo é quem decide quando ofendeu(Cê é loco, meu?)No veneno igual água e sódioVai vendo sem custódioAguarde cenas no próximo episódioCês diz que nosso pau é grandeEspera até ver nosso ódioPor mais que você corra irmãoPra sua guerra vão nem se lixarEsse é o xis da questãoJá viu eles chorar pela cor do Orixá?E os camburão o que são?Negreiros a retraficarFavela ainda é senzala, JãoBomba relógio prestes a estourar