"Minha avaliação é que os currículos, atualmente, estão inchados, do nível fundamental à universidade (e há os que querem mais: educação para o trânsito, educação sexual etc.). Cursos de pedagogia discutem mais poder (Foucault) do que estudos dos campos da fonologia e sociolinguística, cruciais para a alfabetização. Cursos de letras introduzem uma dúzia de conceitos (interessantes) por semana, mas formam alunos que não leem e, fundamentalmente, não escrevem. Há uma mania de introduzir 'novidades' pedagógicas e pouca prática do que é fundamental: ler e escrever (no caso de língua portuguesa). A humanidade já sabe como fazer isso, mas não faz, assim como sabe manter a forma, mas prefere seguir uma dieta por semana.
Os cursos de letras deveriam conseguir que os formandos escrevessem e lessem bem. Com isso, inclusive, o restante será aprendido com maior facilidade. Claro, devem aprender a analisar fatos da língua. Por exemplo, diante de erros de grafia, devem conseguir entender de onde vieram. Nada contra ler Foucault ou Derrida, mas quantas resenhas se escrevem e como os professores as leem?". *
* POSSENTI, Sírio. Ensino da língua (entrevista para a revista Presença Pedagógica. v. 20, n. 120, nov./dez. 2014. p. 11)