terça-feira, 16 de outubro de 2012

Shakespeare no Cinema (I)



Aproveitei os dias de recesso no trabalho para assistir a um punhado de filmes. Sem método algum ou mesmo critério de escolha, pois, quando o assunto é cinema, sou uma besta ainda mais quadrada. Volto a falar de educação na semana que vem.

Entre os títulos assistidos, havia desde uma recente realização da Hammer, velha produtora de filmes de terror, passando por desenhos animados, blockbusters hollywoodianos e até um clássico "filme-cabeça" alemão (que não entendi). Ah, e adaptações de duas peças de William Shakespeare, além de um filme no qual se questiona o próprio estatuto autoral do dramaturgo inglês.

Não é  nenhuma novidade, obviamente, a presença de Shakespeare na telona (ou telinha, no caso de quem prefere ver filmes em casa, como eu). Menciono, por exemplo, os trabalhos do ator e diretor Kenneth Branagh anos atrás. Não gostei da sua versão de Muito barulho por nada, mas achei as de Hamlet e Otelo muito boas (OBS: Branagh não dirigiu a última, na qual apenas interpreta o vilão Iago). 

Penso que a maior dificuldade para se adaptar cinematograficamente a obra de Shakespeare esteja na apresentação dos diálogos. Qual a melhor opção: "facilitá-los" para que sejam prontamente assimilados pelos espectadores ou manter-se o mais fiel possível ao texto original? Falemos de um dos filmes que vi recentemente.

Em A tempestade (The tempest - direção de Julie Taymor, 2010) o roteiro, parece-me, não se desvia em quase nada da composição de Shakespeare, fixada entre 1611 e 1612. É claro que essa opinião é meio capenga, porque meu conhecimento da língua inglesa é bastante reduzido (assisti ao filme cotejando as legendas com a tradução em português de Carlos Alberto Nunes*).

Nesta peça, vale dizer, estão algumas das frases mais famosas da dramaturgia shakespereana (e valho-me uma vez mais da tradução de Nunes):

" Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono".

" É mais nobre o perdão do que a vingança".

" Admirável mundo novo que tem tais habitantes! "

E duas notas sobre o filme:

1) Próspero torna-se Próspera. Ao invés do duque traído de Milão, perito nas "ciências secretas", temos uma duquesa, interpretada por Helen Mirren.

2) O ator beninense (naturalizado norte-americano) Djimon Hounsou,  como Calibã (o monstro filho da bruxa Sicorax, escravizado por Próspero), exerce o papel sem demasiada extravagância, ajudado pela criativa maquiagem, usando a voz poderosa e uma curiosa movimentação corporal.

Na próxima postagem, comento a versão - um pouco mais iconoclasta, mas só um pouquinho - de Coriolano.

* SHAKESPEARE, William. A tempestade; A comédia dos erros. São Paulo: Melhoramentos, 195? [tradução de Carlos Alberto Nunes] As legendas do filme, na maioria das vezes - como no epílogo cantado por Próspero(a) - repetem ipsis litteris essa tradução. Será que ela já caiu em domínio público e por isso pode ser livremente citada ou é apenas coincidência? Ou tratar-se-ia de plágio? Cartas para a redação, hehehe...

BG de Hoje

Minha música preferida, de uma das minhas bandas do coração: Hand of doom, BLACK SABBATH. No finalzinho da apresentação, eles emendam Rat Salad, ambas composições presentes no clássico Paranoid, de 1970)