"Aquilo
significava que os outros, os intrusos, lá estavam. Embora não fossem
anjos, ' passavam ' - como se diz em francês - e, enquanto lá
permaneciam, faziam-me estremecer de medo de que dirigissem às suas
vítimas mais jovens alguma mensagem ainda mais infernal ou uma imagem
mais vívida ainda do que as que haviam julgado suficientes para mim".
A outra volta do parafuso - Henry James
No mês passado, na última edição da revista Conhecimento Prático: Literatura, publicou-se pequena matéria* analisando a famosa novela A outra volta do parafuso**,
do escritor norte-americano (naturalizado inglês) Henry James, a partir
da conceituação formulada pelo crítico literário Tzvetan Todorov sobre
a Literatura Fantástica. Decidi, então, ler o texto de James e comunicar aqui minhas impressões. Antes, contudo, breve esclarecimento.
Em sua tipologia das narrativas dessa linhagem, Todorov, a partir do "estado" do leitor em relação aos fatos narrados, faz a seguinte distinção: existiria o fantástico estranho, em que se busca para estes fatos uma explicação baseada na plausibilidade racional; o fantástico maravilhoso, no qual há pleno domínio do sobrenatural sobre os acontecimentos; e o fantástico puro, cujos textos "mantém a ambiguidade até o fim, o que quer dizer também: além. Fechando o livro, a ambiguidade permanecerá". Tal é o caso de A outra volta do parafuso, de acordo com o crítico.
Uma jovem e inexperiente preceptora torna-se responsável pela educação e cuidados de duas crianças ricas. Desloca-se para uma velha casa (alguém aí pensou em "mal-assombrada"?), na qual um "elemento inominado e inabordável" acaba tomando conta da vida das personagens. A recomendação de H. P. Lovecraft (citado na matéria acima mencionada) é fundamental para melhor apreciar a novela: "[...] devemos julgar o conto fantástico não tanto em relação às intenções do autor e os mecanismos da intriga, mas em função da intensidade emocional que ele provoca". E, sem dúvida, a tensão e a sensação de desconforto nos seguem do início ao fim da narrativa.
Em A outra volta do parafuso, o primeiro narrador, ao atribuir a um terceiro (no caso, uma narradora) a "verdadeira" autoria do relato - feito em primeira pessoa - lança mão de um expediente comum da ficção para aumentar a verosimilhança do que é contado. E como esse recurso funciona admiravelmente para criar a atmosfera propícia de suspense e terror! Sim, estamos aqui no campo do mais puro terror, ainda que não haja nenhum episódio de violência corporal em toda a história. Menciono essa circunstância, porque, graças ao cinema industrial mais vulgar, terror tornou-se, para muita gente, sinônimo apenas da ação brutal de serial killers e outros psicopatas.
Para a difícil tarefa de obter "uma outra volta do parafuso da virtude humana comum", a protagonista da trama se vê diante de crianças cuja "beleza quase sobre-humana" e a "doçura absolutamente anormal" compõem um insólito "jogo, uma coisa estudada, uma fraude!". A presença de crianças, aliás - vistos geralmente como símbolos da inocência e da incorruptibilidade - só faz aumentar a sensação de terror.
Nesse aspecto, a propósito, a novela de Henry James me lembra narrativas cinematográficas nas quais as crianças tem papel fundamental para a história, como é o caso dos ótimos filmes O sexto sentido ( The sixth sense - direção de M. Night Shyamalan, 1999) e, principalmente, Os outros (The others - direção de Alejandro Amenábar, 2001)
Um modo extraordinário de olhar para esses pequenos seres.
* FERREIRA, Letícia. O parafuso a mais de Henry James. Conhecimento Prático: Literatura, São Paulo, n.30, jul. 2010, p. 38-41 [Editora Escala Educacional)
** JAMES, Henry. A outra volta do parafuso. In: ____________. Lady Barberina; A outra volta do parafuso. São Paulo: Abril Cultural, 1980 [tradução de Brenno Silveira]
Por enquanto, na seção, só bandas da época áurea do gênero (1965 - 1985). Abaixo, versão ao vivo de Good Golly, Miss Molly, com o vibrante CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL.
Em sua tipologia das narrativas dessa linhagem, Todorov, a partir do "estado" do leitor em relação aos fatos narrados, faz a seguinte distinção: existiria o fantástico estranho, em que se busca para estes fatos uma explicação baseada na plausibilidade racional; o fantástico maravilhoso, no qual há pleno domínio do sobrenatural sobre os acontecimentos; e o fantástico puro, cujos textos "mantém a ambiguidade até o fim, o que quer dizer também: além. Fechando o livro, a ambiguidade permanecerá". Tal é o caso de A outra volta do parafuso, de acordo com o crítico.
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Uma jovem e inexperiente preceptora torna-se responsável pela educação e cuidados de duas crianças ricas. Desloca-se para uma velha casa (alguém aí pensou em "mal-assombrada"?), na qual um "elemento inominado e inabordável" acaba tomando conta da vida das personagens. A recomendação de H. P. Lovecraft (citado na matéria acima mencionada) é fundamental para melhor apreciar a novela: "[...] devemos julgar o conto fantástico não tanto em relação às intenções do autor e os mecanismos da intriga, mas em função da intensidade emocional que ele provoca". E, sem dúvida, a tensão e a sensação de desconforto nos seguem do início ao fim da narrativa.
Em A outra volta do parafuso, o primeiro narrador, ao atribuir a um terceiro (no caso, uma narradora) a "verdadeira" autoria do relato - feito em primeira pessoa - lança mão de um expediente comum da ficção para aumentar a verosimilhança do que é contado. E como esse recurso funciona admiravelmente para criar a atmosfera propícia de suspense e terror! Sim, estamos aqui no campo do mais puro terror, ainda que não haja nenhum episódio de violência corporal em toda a história. Menciono essa circunstância, porque, graças ao cinema industrial mais vulgar, terror tornou-se, para muita gente, sinônimo apenas da ação brutal de serial killers e outros psicopatas.
Para a difícil tarefa de obter "uma outra volta do parafuso da virtude humana comum", a protagonista da trama se vê diante de crianças cuja "beleza quase sobre-humana" e a "doçura absolutamente anormal" compõem um insólito "jogo, uma coisa estudada, uma fraude!". A presença de crianças, aliás - vistos geralmente como símbolos da inocência e da incorruptibilidade - só faz aumentar a sensação de terror.
Nesse aspecto, a propósito, a novela de Henry James me lembra narrativas cinematográficas nas quais as crianças tem papel fundamental para a história, como é o caso dos ótimos filmes O sexto sentido ( The sixth sense - direção de M. Night Shyamalan, 1999) e, principalmente, Os outros (The others - direção de Alejandro Amenábar, 2001)
Um modo extraordinário de olhar para esses pequenos seres.
* FERREIRA, Letícia. O parafuso a mais de Henry James. Conhecimento Prático: Literatura, São Paulo, n.30, jul. 2010, p. 38-41 [Editora Escala Educacional)
** JAMES, Henry. A outra volta do parafuso. In: ____________. Lady Barberina; A outra volta do parafuso. São Paulo: Abril Cultural, 1980 [tradução de Brenno Silveira]
BG de Hoje
Por enquanto, na seção, só bandas da época áurea do gênero (1965 - 1985). Abaixo, versão ao vivo de Good Golly, Miss Molly, com o vibrante CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL.