sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Memória, vivência e Literatura




Carolina Maria de Jesus, autora de um dos mais extraordinários livros de nossa Literatura* - verdadeiro ponto fora da curva - dizia que "a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos".

Em sua obra mais conhecida, podemos ler, com sua prosa característica, o seguinte trecho:

"Os meus filhos estão defendendo-me. Vocês são incultas, não pode compreender. Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo que aqui se passa. E tudo que vocês fazem. Eu quero escrever o livro, e vocês com estas cenas desagradaveis me fornece os argumentos".

Quando Quarto de despejo veio a público, causou espanto. Como uma mulher pobre, com tão pouca escolaridade, produzira texto tão fora do comum? Logicamente, havia o talento. Mas havia também o olhar de dentro, de quem viveu tudo aquilo. A narradora ganhava autenticidade, respeito. Para falar da pobreza, tal como ela efetivamente existe, é preciso tê-la experimentado com intensidade, ora com amargura, ora com resistência.

Quarto de despejo merece uma análise mais aprofundada, que virá a seu tempo. Hoje, contudo, escrevo sobre Becos da memória**, de Conceição Evaristo que, na minha opinião, é tributário do livro de Carolina Maria de Jesus.

Falava em autenticidade da narradora. De onde ela emana? Da memória desta. Ainda que não seja declaradamente autobiográfico, no romance de Conceição Evaristo se lê:

"Hoje, a recordação daquele mundo me traz lágrimas aos olhos. Como éramos pobres! Miseráveis talvez! Como a vida acontecia simples e como tudo era e é complicado!"

Mas há diferenças nos modos de narrar. Carolina Maria de Jesus não foi além do segundo ano primário e sua escrita revela esse fato. Conceição Evaristo, por sua vez, felizmente teve vida estudantil mais prolongada (e, anos após a elaboração desse livro, atingiria o pico da formação acadêmica). Escolaridade não é sinônimo de talento literário, sabe-se. Contudo, a experiência escolar fornece ao escritor maiores recursos textuais; Conceição Evaristo, para além de sua habilidade artística, soube utilizá-los. Observe-se, por exemplo, a descrição de um festival de futebol de várzea:

"Em volta do campo, fincavam-se bandeirinhas armadas em um varal de estacas de bambu. A garrafa de cachaça rolava de mão em mão, algumas cervejas também. Miúdos de porco eram sempre servidos. Muita gente criava porquinho no chiqueiro, no fundo do barraco. A bebida ficava sempre por conta daqueles que, no momento, tivessem mais. Donos de botequim e de bitaquinha sempre davam alguma. A criançada ganhava balas, pipocas e pirulitos. Os heróis ali muitas vezes ganhavam mulheres. Brigas, sempre, só de faca; tiro, às vezes, saía algum. Muito raro alguma morte. Se morte havia, o jogo, a bola não tinham culpa. Existiam outros motivos; quase sempre mulher".

São muitas personagens, cada qual com seu drama, sua dor, seu calor. Particularmente emocionante é a história da empregada doméstica Ditinha e seu filho menino-homem, Beto.

Becos da memória foi terminado no final dos anos 1980, mas só ganhou edição comercial quase vinte anos depois. Conceição Evaristo, acertadamente, observa, na apresentação do livro, que aquele tipo de favela, descrito no romance, não mais existe.

Contudo, indago: houve alguma modificação essencial na condição de vida, do ponto de vista econômico, para boa parte da população negra brasileira durante esse tempo?

A escritora defende a tese, adotada por outros também. de que a favela é, na verdade, uma "atualização" da antiga senzala. E ainda que as comunidades sejam bem distintas do que eram há alguns anos, certos fatos permanecem:

"Quando descíamos o morro, lá na praça, rapazes alegres, bem vestidos, brincavam, conversavam ao sol. Eram tidos como jovens contestadores, estudantes. Os filhos de Ana do Jacinto, jovens vagabundos, perturbadores, marginais".

Falar de um povo. De seu povo. Do nosso povo. Conceição Evaristo assume essa imensa responsabilidade. E o faz com dignidade, força e talento.

* JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 8 ed. São Paulo: Ática, 2000.

** EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Belo Horizonte: Mazza, 2006

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pierre Bourdieu e Mano Brown


"Olha só aquele clube:
Que 'da hora'!
Olha o pretinho vendo tudo
do lado de fora".

Racionais MC's - Fim de semana no parque


No momento estou muito envolvido com a leitura de duas obras daquelas que nos fazem ter uma visão mais profunda e menos maniqueísta do Brasil, sem a intermediação edulcorada e vazia de nossa mídia televisiva.

Estou me referindo aos livros Cabeça de porco (Ed. Objetiva, 2005), do antropólogo Luiz Eduardo Soares, do rapper MV Bill e do empresário e produtor cultural Celso Athayde; e a Falcão: meninos do tráfico (Ed. Objetiva, 2006) - este último sem a participação de Soares.

Certamente escreverei alguma coisa sobre os trabalhos acima mencionados, tal é o efeito que ambos vêm provocando na minha percepção da realidade brasileira. Um exemplo desse efeito: só agora começo a entender plenamente a força dos comportamentos-símbolo, das vestimentas-símbolo, dos objetos-símbolo na formação de adolescentes e jovens do país. Pior: esses símbolos muitas vezes estão diretamente relacionados ao circuito que liga pobreza, violência, tráfico de drogas e outras modalidades de crime. Mas me permita entrar em outro assunto, sem, no entanto, romper inteiramente com o que venho falando.

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No bairro onde moro não costumo ver pessoas praticando corrida. Para dizer a verdade, nunca vi nenhuma, nos mais de 30 anos que vivo lá. De vez em quando até percebo gente idosa fazendo "caminhadas", talvez por prescrição médica. Mas cooper ou jogging, nunca.

Essa constatação (bastante tola, reconheço) me veio de chofre, dia desses, quando escutava Fim de semana no parque, canção gravada pelos Racionais MC's (sampleando frases de outras de Jorge Ben (Jor) e que está no discaço Raio X Brasil (1993), do grupo paulistano.

A letra da música - um paralelo entre a vida dos ricaços de São Paulo e a dos moradores das regiões mais pobres da metrópole - leva o letrista, em seu início, a partir da visão "de uma caranga do ano/ toda equipada e um tiozinho guiando", que, "com seus filhos ao lado/ estão indo ao parque/ eufóricos", a pensar em sua própria comunidade: "a molecada lá da área como é que tá?".

Diante da diferença, Mano Brown registra:

"Eles também gostariam
de ter bicicleta
de ver seu pai fazendo cooper
tipo atleta.
Gostam de ir ao parque
e se divertir
E que alguém os ensinasse
a dirigir."

Detenho-me nestes versos: "de ver seu pai fazendo cooper/ tipo atleta". Volto ao começo de minha postagem. Fazer cooper ou jogging - ainda que se admita ser um comportamento saudável (para quem tem tempo disponível para fazê-lo, é bom que se diga) - é uma prática que não acontece nas periferias, nos bairros pobres. É, portanto, um hábito restrito a uma classe. E, mais significativo: é um hábito que simboliza essa classe.

E o que tem Pierre Bordieu a ver com tudo isso?

Meses atrás, citei o sociólogo francês aqui no blog e, pelo tema de hoje, sou levado a refletir sobre o peso que a dimensão simbólica da vida social tem em seu pensamento (não custa lembrar que um de seus livros mais famosos chama-se justamente O poder simbólico) e sobre um conceito fundamental em sua obra: o habitus de classe.

Uma de suas definições do conceito* é a seguinte:

"Sistema de disposições inconscientes que constitui o produto da interiorização das estruturas objetivas e que, enquanto lugar geométrico dos determinismos objetivos e de uma determinação do futuro objetivo e das esperanças subjetivas, tende a produzir práticas e, por esta via, carreiras objetivamente ajustadas às estruturas objetivas".

E o que isso quer dizer em "linguagem de em dia-de-semana", como diria Guimarães Rosa?

Significa, "na batata", para nossa compreeensão momentânea, que as classes mais ricas, dominantes, incorporam comportamentos, práticas e hábitos (como, por exemplo, o cooper) para se fazerem imediata e indubitavelmente distintas das outras. Tudo isso, graças ao poderio econômico que possuem (as tais estruturas objetivas). Os comportamentos (as disposições) reforçam suas características de classe, ajustando confortavelmente seus membros dentro desta.

Mano Brown, provavelmente sem ter lido Pierre Bourdieu, em poucos versos, faz uma análise sociológica tão boa quanto a dele.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nocautes (4)

FELIZ ANIVERSÁRIO - Clarice Lispector



Uma sensacional exposição dos intestinos de que se compõe uma família. É assim - um tanto pernóstico, reconheço - que eu definiria o conto Feliz aniversário *, de Clarice Lispector.

Todas as vezes, ao falar dessa escritora, tomo o cuidado de alertar o leitor/ouvinte/interlocutor que estou longe, muito longe, de ser um "intérprete" confiável de sua obra. No jogo proposto por Clarice Lispector, a cada texto, perco-me e não me acho quase sempre (e, talvez, o lance seja esse mesmo...) Deixo a ressalva, dada a quantidade de fãs de Clarice Lispector dentro e (principalmente) fora da blogosfera.

Como acontece com todo grande escrito de Literatura, em Feliz aniversário, o que menos interessa é o enredo, a trama: o que interessa é a urdidura, a junção - às vezes, perfeita - entre matéria narrada, expressão linguística e sentido estético.

Assim sendo, eu gostaria de destacar dois trechos do conto. O primeiro:

"Tendo Zilda - a filha com quem a aniversariante morava - disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. 'Vim para não deixar de vir', dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês".

O título do conto pode gerar a expectativa de um texto alegre; porém, esta é logo pulverizada no primeiro parágrafo, No segundo, acima citado, pode-se "ver" a ausência de desejo festivo: ninguém dançará nessa casa. Reuniões de família, ainda que ocorram sob o pretexto de um aniversário, são, no fundo, ultrajantes, ofensivas.

O segundo:

"- Me dá um copo de vinho! disse.O silêncio se fez de súbito, cada um com o copo imobilizado na mão. - Vovozinha, não vai lhe fazer mal? insinuou cautelosamente a neta roliça e baixinha. - Que vovozinha que nada! explodiu amarga a aniversariante. Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundas! Me dá um copo de vinho, Dorothy! ordenou. 
Dorothy não sabia o que fazer, olhou para todos em pedido cômico de socorro. Mas, como máscaras isentas e inapeláveis, de súbito nenhum rosto se manifestava. A festa interrompida, os sanduíches mordidos na mão, algum pedaço que estava na boca a sobrar seco, inchando tão fora de hora a bochecha. Todos tinham ficado cegos, surdos e mudos, com croquetes na mão. E olhavam impassíveis".

É a velha matriarca saindo do imobilismo e da decrepitude de seus 89 anos para lançar no rosto daquela família, covarde e hipócrita - aliás, assim são todas as famílias que se "orgulham" do que são - ,seu ressentimento, seu rancor. Mas há espaço para o humor na narrativa: "Todos tinham ficado cegos, surdos e mudos, com croquetes na mão".

Na próxima semana, interrupção desta série de postagens, com a retomada de outras.
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* LISPECTOR, Clarice. Laços de família. 27 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994

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NADA A VER

Olho para o rosto - de cabelo pintado - do senador Edison Lobão (PMDB-MA), atualmente Ministro de Minas e Energia, e me pergunto: o que é que esse cara entende de geração, transmissão e armazenamento de energia elétrica (ou de qualquer outra)?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nocautes (3)

O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS - Lima Barreto



Antes de mais nada, quero dizer que considero Lima Barreto - um dos "heróis" deste blog - muito mais romancista que contista. Sem entrar em detalhes, não consigo apreciar suas histórias curtas ainda que as leia com frequência. Uma das exceções é O homem que sabia javanês *.

Até aí, nada de mais. A maioria das antologias do tipo "os melhores contos..." inclui essa narrativa do escritor carioca. Seria quase "natural" que eu a destacasse. Só que a pergunta a ser feita é: por que se costuma considerar esse texto fora-de-série? Humildemente - vá lá, nem tão humildemente assim - vou tentar responder.

O homem que sabia javanês é notável, sobretudo, por sua engenhosa organização (apesar de ser muito simples) e por sua "brasilidade".

Como se sabe, o conto se estrutura a partir de uma relaxada conversa entre dois amigos, Castelo e Castro, tomando cerveja numa confeitaria. Dessa forma, Lima Barreto não precisara preocupar-se com aquela linguagem rebuscada e tão artificial que ainda caracterizava a Literatura Brasileira do período e que era admirada pelos críticos da época, a maioria deles bastante dura com o escritor. A narrativa ganhou em leveza e velocidade. As observações de Castro são poucas ao longo do relato de Castelo mas permitem ao narrador "retocar" os trechos que por ventura estivessem desalinhados.

Além disso, O homem que sabia javanês é brasileiríssimo. Aqui, permita-me uma digressão.

Está claro, pelo menos para mim, que um bom texto de Literatura Brasileira não precisa falar do Brasil e de suas características "sócio-político-econômico-culturais" todo o tempo. Aliás, nas vezes em que o nacionalismo patriótico ou o engajamento denuncista sufocaram a arte os resultados foram terríveis. Por outro lado, sempre se pode argumentar que há certos elementos presentes em alguns de nossos melhores textos que não se encontram naqueles provenientes de outras nacionalidades. Esses elementos são difíceis de precisar e indicar porque não se resumem a aspectos lexicais e/ou idiomáticos. No conto de que estamos falando, logo em seu início, podemos ler o seguinte trecho:

" - Cansa-se; mas não é disso que me admiro. O que me admira é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático".

Lima Barreto conhecia bem "este Brasil imbecil e burocrático". Um Brasil marcado pelas relações clientelistas, do arrivismo sem escrúpulos, o país do "jeitinho", o país da malandragem, da ausência de critérios justos para a promoção no serviço público, dos títulos acadêmicos e saberes formalizados sem relevância social e/ou utilidade pública.

Sem cair de cabeça em nenhuma dessas mazelas, o conto, todavia, fala de todas.

A boa Literatura de um país serve também para que seus leitores se reconheçam. E eu me reconheço em Lima Barreto.

* BARRETO, Lima. Contos reunidos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990

VALE A PENA

Vale a pena conferir a edição voltada para o público infanto-juvenil de O homem que sabia javanês, realizada pela Cosac & Naif. A elegância da publicação e as ilustrações de Odilon Moraes valorizam - e muito - o texto excepcional de Lima Barreto.

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E embora saiba que o assunto já foi muito debatido na Internet e na mídia em geral - o incidente envolvendo uma aluna da Uniban, agredida por uma multidão animalesca de estudantes da instituição - ainda não li melhor análise do que a de Contardo Calligaris publicada na Folha de S. Paulo do dia 05/11/2009 com o título A turba da Uniban.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Nocautes (2)

SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA - João Guimarães Rosa

Ao falar do universo ficcional de Dalton Trevisan, observei que suas personagens eram, na totalidade, seres insignificantes, enredados nas pequenas tragédias e comédias da vida (e isso não é um defeito). No livro Primeiras estórias *, de João Guimarães Rosa - do qual proveio o conto Sorôco, sua mãe, sua filha - estamos também diante de criaturas sem importância. As diferenças são grandes, porém.

A primeira, mais óbvia, diz respeito à linguagem e à forma de narrar. Trevisan usa (e abusa) dos lugares-comuns e da repetição de situações-clichês. E o faz propositalmente - daí sua habilidade - como a nos mostrar que não há escapatória - nem sequer através da escrita - de nossa pequenez e boçalidade intrínsecas. Guimarães Rosa, bem ao contrário, é um renovador do idioma, alguém que inventou um modo completamente inédito de dizer as coisas literariamente. Além do mais, há sempre algo de épico, heroico ou transcendente em suas narrativas.

A segunda diferença entre o escritor paranaense e o mineiro está nos modos distintos como ambos veem a "desimportância" de suas personagens. Trevisan não as faz brilhar; a opacidade delas se instala até nos nomes que lhes são dados, repetidos com frequência em mais de um conto. Rosa, por sua vez, apesar de incluir mendigos, malucos, trabalhadores de enxada e crianças pobres em seus textos, trata-os com nobreza.

Sorôco, sua mãe, sua filha é das mais tocantes narrativas que conheço. Fala de muitas coisas, mas sobretudo da afeição e da dificuldade que temos em externalizar esse sentimento tão maravilhoso. Para tanto, o narrador lança mão de uma desatinada cantiga de duas mulheres loucas - fantasticamente definida assim por Guimarães Rosa:

"[...] aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois".

Em determinado ponto, o narrador nos diz que "foi um caso sem comparação". Eu diria, agora, que é um texto sem comparação.

* ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008