Apesar do crescente e intensivo processo de racionalização e intelectualização "que estamos sofrendo há milhares de anos", para Weber, a atividade científica ("a fração mais importante" desse processo) não consegue e (nem conseguirá ) dar um sentido "profundo" para a vida. Em outras palavras, a ciência não responde as perguntas verdadeiramente importantes que fazemos diante da existência - "Que devemos fazer? Como devemos viver?". Seria esta atividade, então, destituída de propósito, finalidade ou valor? Obviamente que não. Contudo, a ideia de progresso é inerente ao trabalho do cientista: tudo o que ele produz é feito com a certeza de que será superado (e assim deverá ser) em determinado momento futuro. Tal é a essência da atividade científica. E é essa mesma progressividade que provoca parte da angústia do homem civilizado e o faz questionar o sentido da vida. Para ilustrar seu ponto de vista - e isto é fascinante - Weber não lança mão de argumentos baseados na observação de outros cientistas. Ele prefere dialogar com um romancista (Tolstói) e um filósofo (Nietzsche).
Segundo John Patrick Diggins*,
Em A ciência como vocação**, Weber, a partir de seu conceito de desencantamento do mundo, busca entender se a morte tem algum sentido, diante do "progresso" que a intelectualização promove. Ele faz a pergunta a Tolstói
O pensador ainda acrescenta:
E quanto a Nietzsche? Weber observa que
Citando mais uma vez Diggins,
A ciência não é o caminho para a "verdade definitiva", para "Deus" ou para "a felicidade"; é um modo de tentar apreender a realidade que nos cerca e está longe de ser perfeita. Entretanto, Weber não deseja cair no que existe de pior nas atitudes irracionalistas. O que levanta uma questão ética.
A esse respeito, Rolando Lazarte*** observa que o sociólogo alemão não assume posição dogmática (bem ao contrário):
Concordo com Max Weber: a vida não tem sentido algum preexistente. Constroem-se, sempre, significados provisórios. E a reflexão apurada de um grande pensador ajuda nessa árdua, complexa e inevitável tarefa.
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* DIGGINS, John Patrick. Max Weber: a política e o espírito da tragédia. Rio de Janeiro: Record, 1999
** GERTH, H. H.; WRIGHT MILLS, C. (Org.) Max Weber: ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1963 [tradução de Waltensir Dutra]
*** LAZARTE, Rolando. Max Weber: ciência e valores. São Paulo: Cortez, 1996
Segundo John Patrick Diggins*,
"Tolstói, Weber e Nietzsche viram a história como essencialmente desprovida de sentido, uma sucessão absurda de forças e efeitos que permaneceriam sem significação até que o pensador se esforçasse para dar sentido aos eventos".
Em A ciência como vocação**, Weber, a partir de seu conceito de desencantamento do mundo, busca entender se a morte tem algum sentido, diante do "progresso" que a intelectualização promove. Ele faz a pergunta a Tolstói
"E sua resposta foi: para o homem civilizado, a morte não tem significado. E não o tem porque a vida individual do homem civilizado, colocado dentro de um 'progresso' infinito, segundo seu próprio sentido imanente, jamais deveria chegar ao fim, pois há sempre um passo a frente do lugar onde estamos, na marcha do progresso".
O pensador ainda acrescenta:
"E porque a morte não tem significado, a vida civilizada, como tal, é sem sentido; pelo seu 'progresso' ela imprime à morte a marca da falta de sentido. Em todos os seus últimos romances encontramos esse pensamento como a nota-chave da arte de Tolstói".
"Depois da devastadora crítica feita por Nietzsche aos 'últimos homens' que 'inventaram a felicidade', posso deixar totalmente de lado o otimismo ingênuo no qual a ciência - isto é, a técnica de dominar a vida que depende da ciência - foi celebrada como o caminho para a felicidade".
"Entre o orgulho aristocrático de Nietzsche e a humildade cristã de Tolstói reside a visão trágica da política de Weber. Em Nietzsche, a nobreza humana repousa na sua força para o autocontrole e a responsabilidade individual. Em Tolstoi, a salvação humana reside na autorresignação mística e na obediência às convicções interiores."
A esse respeito, Rolando Lazarte*** observa que o sociólogo alemão não assume posição dogmática (bem ao contrário):
"A postura de Weber diante desse vazio de sentido da vida, que não poderia ser preenchido por uma ética racional (científica, teológica, burocrático-estatal ou outra), pode parecer fraca para quem espera receitas, programas ou doutrinas que assegurem a posse final do valor almejado (justiça, verdade, bem, felicidade)".
Concordo com Max Weber: a vida não tem sentido algum preexistente. Constroem-se, sempre, significados provisórios. E a reflexão apurada de um grande pensador ajuda nessa árdua, complexa e inevitável tarefa.
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* DIGGINS, John Patrick. Max Weber: a política e o espírito da tragédia. Rio de Janeiro: Record, 1999
** GERTH, H. H.; WRIGHT MILLS, C. (Org.) Max Weber: ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1963 [tradução de Waltensir Dutra]
*** LAZARTE, Rolando. Max Weber: ciência e valores. São Paulo: Cortez, 1996