* Afirmações do psicólogo e neurocientista estadunidense Carl HART, feitas durante entrevista para a organização jornalística Democracy Now!, publicada em 06/01/2014 ("Drugs aren't the problem", disponível aqui). Li essas afirmações há alguns anos e desde então constato como nossas sociedades disfuncionais lidam mal com a questão das drogas (lícitas ou ilícitas), sobretudo em relação às parcelas mais pobres da população. Ao invés de se olhar para o consumo abusivo de drogas como assunto de saúde pública, muitas vezes ligado a problemas sociais e econômicos ou à ausência de ações preventivas eficazes por parte do Estado, prefere-se adotar uma postura moralista, com repressão violenta aos usuários (àqueles que consomem substâncias consideradas ilegais, pois há muita complacência com o álcool, mesmo quando se sabe o quanto ele é danoso - a propósito, eu sou alcoólatra). Isso tudo sem falar no temor de se discutir franca e abertamente a possibilidade de descriminalização de alguns (ou, quem sabe, de todos os) entorpecentes e na insistência com a malsucedida "guerra às drogas" (que é, na verdade, uma guerra aos pobres). Sugiro também ao(à) eventual leitor(a) o documentário Crack: cocaína, corrupção e conspiração, no catálogo da Netflix.
** [Tradução aproximada: "Bem, eu vim - como você disse, eu cresci na periferia. E assim, quando nós pensamos nessas comunidades com as quais nos importamos, as comunidades que têm sido chamadas de devastadas por drogas de abuso, eu acreditei nessa narrativa por um longo tempo. Na verdade, eu venho estudando drogas por cerca de 23 anos, por cerca de 20 desses anos, eu acreditei que as drogas eram os problemas na comunidade. Mas quando eu comecei a olhar mais cuidadosamente, comecei a olhar as evidências mais cuidadosamente, tornou-se claro para mim que as drogas não eram o problema. O problema era pobreza, a política de drogas, a falta de empregos - uma amplidão de coisas. E drogas eram apenas um componente que não contribuía tanto quanto nós dizíamos.
[...]
Pessoas ficam viciadas por uma amplidão de motivos. Algumas pessoas têm doenças psiquiátricas ou outras concomitantes que contribuem para seu vício em drogas. Outras pessoas ficam viciadas porque essa é a melhor opção disponível para elas: outras porque são limitadas em termos de capacidade de ser responsáveis. As pessoas se tornam viciadas por uma amplidão de motivos. Se nós estivéssemos realmente preocupados com o vício em drogas, nós estaríamos tentando descobrir precisamente por que cada indivíduo se tornou viciado. Mas não é nisso que estamos realmente interessados. Estamos, nessa sociedade, interessados em maldizer uma droga. Desse modo, não temos que lidar com questões complexas de por que as pessoas realmente se tornam viciadas".]