Volto a falar do adoecimento que vem afligindo boa parte dos trabalhadores da educação do Brasil nas últimas décadas. Em postagem anterior, tratando do tema, mencionei o projeto denominado Condições do trabalho e suas repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil. "Encomendada" pela Fundacentro (Ministério do Trabalho e Emprego) e parcialmente financiada pela Secretaria de Educação Básica (MEC), a pesquisa teve a coordenação de duas professoras da Unicamp - Aparecida Neri de Souza e Márcia de Paula Leite - contando, entretanto, com a colaboração de profissionais de outras instituições na equipe do projeto.
Como disse noutra oportunidade, pode-se ter uma breve exposição do que foi este estudo através de matéria publicada no Jornal da Unicamp* (disponível aqui). Um dos aspectos do ofício do professor , observado na pesquisa, diz respeito à
Já declarei que considero a frustração a característica mais marcante do trabalho docente na atualidade (falo apenas da educação básica, na qual estão os professores que enfrentam o touro à unha, de verdade). Não há sentimento de realização naquilo que fazemos (há tempos não experimento essa sensação). A maioria dos usuários (pais e mães, indiretamente, e os estudantes, filhos deles, diretamente) nos desrespeita, todos os dias, sem constrangimento algum. A frequência escolar, hoje, é apenas um "remédio" amargo que se engole por causa da imposição legal.
Que males contribuem para o adoecimento dos professores? Segundo a pesquisa:
Quais sintomas esse processo de adoecimento provoca? A pesquisa lista vários, mas vou destacar apenas um trecho da matéria do Jornal da Unicamp:
Não tenho dúvida de que me tornei um ser humano pior desde a minha entrada profissional no serviço educacional público.
Na próxima atualização, começo a comentar o livro que resultou do projeto Condições de trabalho e suas representações na saúde dos professores na educação básica do Brasil.
Como disse noutra oportunidade, pode-se ter uma breve exposição do que foi este estudo através de matéria publicada no Jornal da Unicamp* (disponível aqui). Um dos aspectos do ofício do professor , observado na pesquisa, diz respeito à
"necessidade [...] do estabelecimento de um vínculo afetivo e emocional para o exercício da atividade docente. Entretanto, o trabalho [de pesquisa] sugeriu que este vínculo está sendo bloqueado pelo jogo de interdições que caracterizam a atuação dos profissionais da educação. ' Isso define o aparecimento do sofrimento psíquico, que ocorre quando o investimento, afetivo, emocional e cognitivo, não tem retorno, como nas relações entre professor e aluno', exemplifica [uma das coordenadoras do estudo, Aparecida] Neri. ' Mas isso não fornece base e argumentos fortes para responsabilizar a qualificação da força de trabalho dos profissionais da educação pelas mazelas e pela baixa qualidade do ensino no Brasil', esclarece" [grifos meus].
Já declarei que considero a frustração a característica mais marcante do trabalho docente na atualidade (falo apenas da educação básica, na qual estão os professores que enfrentam o touro à unha, de verdade). Não há sentimento de realização naquilo que fazemos (há tempos não experimento essa sensação). A maioria dos usuários (pais e mães, indiretamente, e os estudantes, filhos deles, diretamente) nos desrespeita, todos os dias, sem constrangimento algum. A frequência escolar, hoje, é apenas um "remédio" amargo que se engole por causa da imposição legal.
Que males contribuem para o adoecimento dos professores? Segundo a pesquisa:
" [...] exposição a temperaturas inadequadas, ruídos, superlotação das salas, cansaço extremo pelas longas jornadas de trabalho, dupla jornada das mulheres, falta de tempo para si e para se atualizarem, angústia pelas exigências sociais em termos de atividades, complexidade das tarefas aliada à falta de recursos, problemas sociofamiliares dos alunos, ritmo de trabalho, multiplicidade de tarefas simultaneamente às posturas desconfortáveis, pouca frequência de pausas, falta de valorização, burocratização das atividades, falta de diálogo com a administração das escolas e expansão dos contratos de trabalho temporários e eventuais" [grifei os que, pessoalmente, mais me incomodam].
Quais sintomas esse processo de adoecimento provoca? A pesquisa lista vários, mas vou destacar apenas um trecho da matéria do Jornal da Unicamp:
" Esse mal-estar passa a se manifestar em sentimentos negativos intensos como angústia, alienação, ansiedade e desmotivação, além de exaustão emocional, frieza perante as dificuldades dos outros, insensibilidade e postura desumanizada. A profissão docente é hoje considerada como uma das mais estressantes, uma profissão de risco, conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT)".
Não tenho dúvida de que me tornei um ser humano pior desde a minha entrada profissional no serviço educacional público.
Na próxima atualização, começo a comentar o livro que resultou do projeto Condições de trabalho e suas representações na saúde dos professores na educação básica do Brasil.
* Por que os professores adoecem? Jornal da Unicamp.
Campinas, Ano XXIV, n. 447, 9/22 nov. 2009. Disponível em
<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/novembro2009/ju447_pag0607.php#>
Acesso em 25/10/12
BG de Hoje
Dias atrás me referi a uma ligeira confusão arrumada no boteco por dizer que considerava Aldir Blanc um letrista melhor do que CHICO BUARQUE. Para botar água na fervura, o BG de hoje será Hino de Duran, uma das dezenas de excelentes canções de Buarque, e que, por diversos motivos, tenho ouvido muito nos últimos dias. No vídeo, o cantor/compositor está acompanhado dos Paralamas do Sucesso, no saudoso programa de TV Chico & Caetano.